Às vezes fico a imaginar que já vi tudo nesse mundão de meu Deus. Porém o cotidiano continua surpreendendo. Pior: sobressai-se o que existe de mais ruim da raça humana.
As cenas que testemunho na Internet e TV desde ontem, envolvendo selgavens que vestem camisas de torcidas organizadas em São Paulo, é algo deplorável. Tira o fôlego, deprime, abala.
Não me venha dizer que se trata de intolerância esportiva. Descarte essa hipótese como explicação, haja vista que a barbárie não tem justificativa.
O que vemos no universo "esportivo" é a reprodução da estupidez de casa, da rua, do bairro, da própria vida. É a ausência de referências e a falta de limites. O futebol termina sendo uma espécie de vitrine à exposição de recalques e demonstração de força comum aos que não têm nada a dizer ou mostrar.
A impunidade, maior câncer brasileiro, concorre à perpetuação desse mal em escala geométrica.
Costumo dizer, sem nenhum rasgo de criatividade ou descoberta cientÃfica, que o ser humano é igual em qualquer parte do planeta. Nossas diferenças derivam de filigranas culturais, antropológicas e relação com a lei.
No pindorama brasileiro, o ambiente permite e incentiva essa carnificina, afastando dos estádios quem realmente gosta de futebol. Quem tem coragem de levar crianças, mulheres e idosos para acompanhar uma partida de futebol?
Quem ocupa espaço dentro e fora é essa manada de idiotas, figuras doentias, que sequer sabem escalar nome a nome os integrantes do seu time, desconhecem hino ou história. Vivem urrando insultos e palavras de ordem que demonstram patologias particulares e coletivas.
Ver um rapaz sendo pisado, chutado no corpo e cabeça, além de cuspido (imagens da Record News), terminou sendo demais para mim. Não sei quem é aquele jovem e é provável que seus agressores nunca o tenham visto. Mas espumavam sadicamente de prazer, com a agonia que proporcionavam à vÃtima.
No paÃs do futebol, que se organiza para promover uma Copa do Mundo, é essa horda quem se impõe. Sinais de uma sociedade que está longe da excelência em organização humana e continua presa às práticas primitivas de sobrevivência.
É por essas e outras que pergunto sempre: para que serve um jogo de futebol?