• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 24/02/2008 - 00:39h

A cor da sombra

"Quem me encontra na rua, andando em plena calma,
Sem dizer a ninguém as privações que passo,
Entende que adormeço em pálido regaço,
Não diz que tenho a cor da sombra dentro d’alma".

(Ferreira Itajubá)

Na rua, um fiapo de sombra como única proteção. Na pedra do Mercado, os cachorros com o sono da noite. Baleia, Piau, Tubarão, Piaba, Traíra… Únicos peixes na fome do lugar.

Em passos miúdos, com o chapéu de massa na mão nervosa. A elegância a contrastar com tudo à sua volta. O retorno, após quarenta anos.

Na memória, bem no fundo, a lembrança dos seus. Na longínqua fazenda Triunfo da Esperança.

— Não carecia não, meu senhor! Não carecia.

As mãos, em garra, estendidas, apesar da voz a dizer o contrário.

— Não carecia não, meu senhor! Não carecia.

O naco de pão a gerar desavenças entre os pequenos.

Então, na Matriz, o sineiro anuncia a passagem de um anjinho, avivando ainda mais a cor da sombra dentro do seu peito.

— Não carecia não, meu senhor! Não carecia.

Clauder Arcanjo é professor – clauder@pedagogiadagestao.com.br

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Categoria(s): Nair Mesquita

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