Por Marcos Pinto
“Quando  eu  for, um  dia desses
Poeira  ou  folha  levada
No  vento  da  madrugada ,
Serei   um  pouco  do  nada
invisÃvel ,  delicioso“.  (Mário  Quintana).
Assoma  enigmática  e  cruciante.  Traz  consigo  espectros  dolentes  de  pedaços  da  alma.   Magistral, entre  soluços  de  dor, desliza  na tépida  face  a  lágrima  mais  bonita  do  sentimento  humano  –  a  lágrima  da  saudade.  Nasce  de  risos  que  já  se  foram,  de  sonhos  que não  se  acabam,  e  de  lembranças  que  jamais  vão  embora.
Lágrima  que  emblematiza  e   amalgama-se  nos  mistérios  envolventes  da  saudade.  Nessa  saudade,  reside  a  certeza  de  que  algo  muito especial  ocorreu  em  nossas  vidas.   Saudade  que  não  mata, mas  fere  todos  os  dias. Na  envolvente  alquimia  das  imagens   do passado, surge   a  firme  convicção  é  e  sempre  será  a  sentença  de  um  morto  que  chora  pedaços  da  alma.  O que  é  o  amor,  senão  o desenrolar  espectral   de  uma  futura  e  incisiva  saudade ,  perfilando  os  nossos  mortos  para  que  permaneçam  tão  vivos,  como  se vivos fossem.
A amplitude  envolvente  do  transcendental  bem-querer  sentencia, sem  recuos,  que  em  cada  ausência  notada  e  anotada  existe  uma  eternidade.  Eternidade  de  noites  mal  dormidas   pelo  assédio  de  remorsos  oriundos  de  fraquezas  e  indecisões.  Na  célere  procissão das  interrogações ,  o  sorriso  segue  na  frente   mentindo  e  escondendo  a  sua  dor.
Alguém  já  estigmatizou  no  epitáfio  do  coração,  que  ” a  saudade  é  um  sentimento  que,  quando  não  cabe  no  coração  escorre  pelos olhos”.  Fuga  dos  momentos  ou  momentos  de  fuga?.  Saudades  certas  de  momentos  certos  de  certos  momentos  de  pessoas  que  deixaram  o  seu  inconfundÃvel  DNA   em  nossa  geografia  do  bem-querer.
Socorrem-me  tons  soturnos  de  devotada  cadência  sentimental.  Diante  tamanha  tristeza ,  como  não  sucumbir, afogado  no  sofrimento em  pranto ?.  Onde  estão  os  meus  mortos  queridos ?.  Como  não  quebrar  o  suporte  que  guarda  os  pedaços  da  alma?.
Onde  encontrar  um  oásis  de  alento  no  deserto  da  minha  alma ?.  Não  tenho, ainda,  um  coração  amigo  onde  possa  haurir  sonhos  e procurar  o  indescritÃvel  alÃvio  da  confidência.  Onde  e  como  escoar  as  mágoas, ,  pesares   e  desgostos ?.  A  alma,  já  cansada  e desiludida,  segue  acabrunhada  de  pensamentos  tristes, cruciantes  como  remorsos.
Delineia-se  um  perfil  de  ingente  dor,  sob  o  látego  do  castigo  do  céu.  O  desalento  tinge  com  crepe  a  intensidade  da  cena,  dolorosa  e   de  imaginação  acesa,  fecunda  em  descrição.  Sigo,  ungido  e  consumido  pelas  sombras  do  remorso,  por  não  ter  feito  mais  e  sempre  mais  em  forma  de  caridade  e  fé.  É  mais  fuga  que  desvario  desenfreado.  Quero  minha  alma  estrangulada  pelo  mais  querido  dos  afetos.
Enchamos  o  nosso  baú  de  saudades  com  as  reminiscências  mais  antigas  dos  nossos  entes  queridos,  que  vivem  sob  o  resplendor  da  luz  divina.  Façamos  da  renúncia  um  traço  de  originalidade  da  alma.  Vida  que  é  sempre  um  monólogo  de  interesse  e  de  sonho.  Ou  você  segue  a  vida  com  o  sobressalto  da  esperança  ou  com  a  amargura  do  desespero.  Nesse  caminhar merencório,  adote  a  mesma  grandeza  dos  ricos  de  espÃrito.
Fuja  do  mesmo  mudo  espanto,  sem  deixar  de  entoar  o  seu  singular  canto.  A  lufada   de  vento  que  brinca  com  a  folha  seca  é  a mesma  que  fica   ruminando  alguma  coisa  de  alma  penada,  num  segredar  entrecortado  de  alguma  coisa  retardada  de  há  muito.
Sigo  o  meu  destino  com  a  mesma  obstinação  desencontrada.   Desenvolvo  minhas  palavras   gesticulando  para  o  lado  de  dentro  da sensatez.  São  rarÃssimos    os  que  conseguem  ser  maiores  que  a  desgraça  e  o  desalento.
Inté.
Marcos Pinto é escritor e advogado
Marcos Pinto. A sua crônica, não sei como dizer, me entristeceu. Posso não estar num bom momento, me pegou de quina. Tenho uma forma de lidar com a saudade. Aprisiono os entes amados que partiram em meu coração de tal forma que não os deixo escorrer pelos meus olhos. Um desses entes, uma irmã, está tão comigo que, à s vezes, pego-me conversando com ela, sem vê-la, mas sentindo-a. Aprendi, já bem adulta, a entender o ciclo da vida. Entendi, mas com uma ressalva importantÃssima : não pode haver inversão no ciclo. Filhos não podem ir antes dos pais. Deve ser insuportável. Que no meu caminho prevaleça o “sobressalto da esperança”, porque tenho certeza que não faço parte dos rarÃssimos “que conseguem ser maiores que a desgraça e o desalento.”
Obrigadooo Naide Maria, inteligente e exponencial em talento cognitivo e intelectivo. Em você, evidencia-se o DNA do grande mossoroense DIX-HUIT ROSADO SERRA GRANDE – Grande no porte fÃsico e no manancial intelectual e humanÃstico de que era detentor. Tenho uma filhinha evolada aos 6 anos e 10 meses em 30.07.1999, que é minha companheira de todos os momentos. É ela que me faz forte e perene em minha irredutÃvel fé – bálsamo para todas as minhas dores, fÃsicas e espirituais.
Fico a perguntar porque você não envereda, também, na seara de escritora, publicando seus artigos, que, com certeza, serão antológicos, principalmente trazendo à lume fatos históricos ainda inéditos, vividos por você ao lado dos seus honrados genitores. Sei que és uma nobre de quatro costados, posto que dona Naide era componente da tradicional e nobre famÃlia Medeiros, de origem portuguesa, a exemplo da não menos nobre e tradicional famÃlia ROSADO. Tenha, ao lado dos demais familiares, uma abençoada e profÃcua semana. Forte abraço.
Marcos Pinto. Continuo emocionada com sua Crônica e com sua vida. Obrigada pelos elogios. Não os mereço, Serra Grande, sim.
Quanto à escrever, não me vejo preparada. Aliás, tenho comigo dois netos. Minha filha, a mãe deles, trabalha demais e precisa de minha ajuda. Falta-me tempo. Por vezes, minha casa parece uma creche. Também lhe envio um forte abraço.
Não poderia ser diferente você Marcos Pinto, inteligentÃssimo nota mil…Parabéns!!! Que Deus te abençoe, continue assim fazendo as pessoas felizes ao ler cada artigo seu. Tenho uma inveja boa; um dia quero ser igual a você.
Nazaré Brandão Noronha. MANAUS-AM.
Tive a oportunudade recentemente
de trocar algumas palavras com esse magnÃfico rapaz.
Confesso que foi muito agradável o breve
bate papo. Você é show Dr. Escritor.
Parabéns pela texto.
O ilustre escritor apodiense Marcos Pinto é um expoente da literatura potiguar.
Apodi dos Ãndios tapuias paiacus se orgulha dos seus feitos em prol da nossa memória literária.
Abraços
Vilmaci Viana
MagnÃfico texto que une tom poético ao pensamento filosófico. Confesso que desconhecia esse talento do meu amigo, que já é um afamado Historiador e Genealogista!
Parabéns, Doutor Marcos!
Parabéns meu irmão, muito lindo seu texto, como sempre expressando sua grande e admiravel inteligência. Te amo.