Por Ney Lopes
Hoje, 24, será decidida a eleição na França por 49 milhões de eleitores.
O resultado das urnas terá o potencial de afetar a vida de outros 400 milhões de pessoas nos países da União Europeia e ainda de desequilibrar do xadrez geopolítico do continente à guerra da Ucrânia.
A candidata Marine Le Pen não é direitista, o que seria normal e caberia respeitar as suas posições no diálogo democrático.
Ela é uma “extremista” e defende teses que colocariam em risco a livre circulação de pessoas e mercadorias na União Europeia..
Le Pen é, inclusive, antiga aliada do déspota russo Putin. Em 2014, reconheceu a anexação da Crimeia por Moscou e obteve para o seu partido um empréstimo de cerca de € 9 milhões em um banco russo.
O poder aquisitivo é a principal preocupação dos eleitores nesta corrida presidencial. Reforma das aposentadorias, queda de impostos, reindustrialização e relação com a União Europeia são alguns dossiês em que Emmanuel Macron e Marine Le Pen apresentam projetos opostos para o país.
Veja-se, por exemplo, que o plano de Le Pen é proibir todas as mulheres muçulmanas de usar o hijab (conjunto de vestimentas preconizado pela doutrina islâmica.).
Macron alerta que esta medida poderia provocar uma “guerra civil” nos subúrbios franceses.
A França é um dos países europeus que melhor se restabelece da pandemia, com uma queda regular do desemprego, a 7,4% em março, e uma retomada do crescimento econômico em 2021 (+7%).
A guerra da Ucrânia, entretanto, traz de volta as incertezas e aumenta os preços do custo de vida dos franceses.
Neste contexto, os dois candidatos lançam a cartada das subvenções: Macron ofereceu ajuda financeira direta para os menos favorecidos, congelou os preços da energia e bancou uma redução de até €0,18 do preço do litro dos combustíveis.
A sua opositora garante que irá mais longe, se for eleita, aumentando em 10% o salário de quem ganha até três salários mínimos e isentando de encargos sociais empresas e, parcialmente, funcionários.
Marine Le Pen também almeja baixar dos atuais 20% para 5,5% a TVA, um imposto sobre valor agregado semelhante ao ICMS brasileiro.
Os dois candidatos opõem-se acerca da relação com a União Europeia.
Macron é profundamente europeu.
Le Pen sempre foi uma crítica do bloco, do qual prometia separação até a última eleição, em 2017.
Macron qualificou a eleição de hoje como um “referendo contra ou a favor da Europa” e “contra ou a favor de uma República laica, una e indivisível”. Neste contexto, Macron saiu-se muito bem no último debate da quarta feira.
A tendência da esquerda é apoiá-lo. O líder Jean-Luc Mélenchon, que ficou em terceiro na primeira volta com cerca de 20% dos votos, apelou ao seu eleitorado para que “não dê um único voto” a Marine Le Pen, mas continuou a não apoiar diretamente Macron.
Apesar da incerteza dos eleitores de esquerda, as sondagens continuam a dar a vitória a Macron, mesmo que seja mais à justa face a 2017, com 55,5% das intenções de votos. A esperança é que realmente Le Pen perca a eleição, para preservar a unidade europeia em momento tão delicado para a humanidade.
Ney Lopes é advogado, jornalista e ex-deputado federal
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