domingo - 29/06/2025 - 05:26h

A estrada é o destino

Por Honório de Medeiros

Foto produzida pelo autor da crônica

Foto produzida pelo autor da crônica

Toda estrada é um destino. A estrada é o destino, seja metáfora, seja realidade. É nossa história de vida. O começo e o fim de algo inominado. Essência ou aparência. Ínfimo ou descomunal. Ordem ou caos individual.

Para lá onde fica a beira do abismo, limites do seu terreno pedregoso se encaminhava Seu Petronilo, tangendo uma velha, antiquíssima bicicleta caindo aos pedaços.

Parei o carro ao seu lado. Ele me olhou, ressabiado. Dei um bom dia caloroso e ele respondeu no mesmo tom, com o sotaque da Serra, tirando o velho chapéu de massa, respeitoso, condizente com seus aparentes noventa e tantos.

O Senhor vai tomar que rumo?

Meu Senhor, vou pelas beiradas até o Cabeço, se Deus me deixar.

Então eu tou no rumo certo, seguindo em frente.

Tá sim senhor.

Vou lá agora cedo, porque soube que na ponta da Serra, final do Cabeço, as pessoas têm visto umas luzes estranhas, quando chega a noite alta. Quero assuntar. É assim mesmo?

É sim senhor. Eu mesmo fui pastorar uma raposa, num terreninho que tenho por lá, onde crio uns porcos, coisa pouca, era noite de lua grande, e vi essas luzes coloridas rodopiando no céu, indo e voltando, para lá e para cá, bem umas cinco ou seis. Uns caçadores que tavam por perto também viram.

O Senhor teve medo?

Medo mesmo não, porque se tá no mundo é porque Deus quer, até me benzi umas tantas vezes, mas achei meio fora do conforme. Durou um bom pedaço. E eu olhando pro céu, me perguntando o que danado era aquilo.

No final deu tudo certo, não foi?

Mais ou menos. Enquanto eu cuidava das luzes no céu, a raposa cuidou dos meus porquinhos…

Não tive como não rir. Ele riu também, colocou o chapéu na cabeça, pediu licença e tangeu a bicicleta, tomando destino, firme e forte como as rochas que abundam no Cabeço.

Bom dia, Seu Petronilo, fique com Deus.

O Senhor também!

Honório de Medeiros.

Quinta da Aroeira, Cerro, 22 de junho de 2025.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura de Natal e do Governo do RN

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Marcos Pinto. diz:

    O sertão rude e ermo cirre em mingas veias. Quando eu, adolescente beirando os 13 anos, percorria à pés o latifúndio territorial da fazenda do meu avô paterno, sempre seguindo “no rumo da venta ” , como se dizia no linguajar rústico usado no antiquíssimo ” Estatuto da Ribeira”, transmitido ela tradição oral arraigada nos vetustos alpendres sertanejos das zcasas Senhoriais.. Até a década de 60 (16-1969) ainda se praticava a solene e cordata fidalguia no trato. Nas estradas dusadas pelos Comboieiros, era comum o viajante montado em seu cavalo chegar finalzinho de tarde, se dirigir ao dono do sítio pedindo uma “sede d”água”, sendo de pronto convidado a desapiar-se da montaria. Após a identificação de praxe, de que o visitante era da Ribeira do Apodi, e que era vaqueiro do Coronel Lucas Pinto à procura de uma vaca sumida há muito tempo. Sem arrodeios fora informado que dita rês já dera duas crias. Observe-se que ainda existia um arraigado senso de probidade com rubrica sertaneja..

  2. Marcos Pinto. diz:

    Há imprescindibilidade dr que algum Pesquisador enverede por aprofundada pesquisa de campo, ,colhendo antigos costumes sertanejos guardados no famoso “Estatuto da Ribeira”.

  3. Marcos Pinto. diz:

    Antigamente, quando o sol começava a sumir no horizonte era costume o sertanejo em viagem usando montaria encostar em sítio ou fazenda, cumprimentar o proprietário de forma cortez para, logo a seguir, perguntar se ele poderia “bater a sela”. No costume sertanejo significa perguntar se o dono do sítio lhe daria “arrancho” para pernoite. Acho que nasci no yemo errado. Deveria ter nascido no ano em que nasceu o meu avô materno – 1906.

  4. Marcos Pinto. diz:

    Digo, acho que nasci no tempo errado.

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