Por Inácio Augusto de Almeida
Chorou muito ao saber que seria deixado na escola. Olhou para a cartilha, o caderno e o lápis. Dos pais ouviu que teria muitos coleguinhas com quem brincar e ganharia uma nova tia.
Ficou virando as páginas da fina e pequena cartilha e via apenas riscos que na sua imaginação viravam animais e aves. Gostava muito do ratinho e, mais ainda, do passarinho que voava num céu muito lindo. Ficou pensativo e apontando para a figura que parecia a escada usada pela mãe para pegar frutas no quintal.Quando apontou com o dedinho a figura, o pai com muita paciência disse ser a letra A.
De lancheira de plástico a tiracolo, onde a mãe colocou uma banana e um pão, seguiu para seu primeiro dia de escola. A cartilha, caderno e lápis o pai entregou à diretora.
Chorou, mas logo começou a sorrir com as peraltices dos coleguinhas e as brincadeiras organizadas pela tia.
Feliz ficou quando viu a letra A no quadro negro e lembrou do que o pai tinha lhe ensinado. E riu quando outros coleguinhas não sabiam que aquela figura era a primeira letra do alfabeto.
Manifestava-se, pela primeira vez, a alegria do sentir-se superior.
O tempo passou e chegou a época da primeira série.
Já conhecia todas as letras e conseguia formar palavras como pai, mãe e casa.
Na escola seguiu aprendendo e percebeu que agora levava para casa dever que fazia sempre com a ajuda da mãe ou do pai.
E assim, sempre ouvindo que era preciso estudar muito para na vida ser feliz, a criança viu no espelho o rosto se transformando com a chegada da penugem…
Na juventude o papo girava em torno do vestibular. Era vestibular e a Carteira de Motorista o que mais a turma visava para ser feliz.
O ingresso na Universidade era visto como a porta da felicidade. Estar realizando um curso superior e ter uma CNH era o tudo para todos que tinham como diversão os filmes das sessões dos sábados no PAX.
Quando conseguiu a CNH e o diploma percebeu que felicidade mesmo só casando e tendo filhos.
E casou e teve filhos.
Mas felicidade sem ter os filhos bem encaminhados? Como?
Daí se dedicou de corpo e alma a trabalhar na emancipação dos filhos. Filhos que hoje crescidos e bem posicionados na vida estavam.
Lembra-se das alegrias das festas de formatura, aprovação em concursos disputadíssimos e dos casamentos.
Agora estava certo de que a felicidade conheceria tão logo surgissem os netos para brincar de montar quebra-cabeças, jogar damas e fazer palavras cruzadas.
E os netos surgiram, mas sempre muito ocupados com jogos eletrônicos.
Perguntou a si mesmo pela tal felicidade.
E lembrou-se que fazia meses que não via o brilho de alegria explodindo nos olhos dos seus pais.
Descobria pela dor o quanto a felicidade sempre tão perto não tinha percebido.
Reuniu os filhos, noras, genros, netos e, todos juntos, foram à casa dos já quase esquecidos pais.
E sentiu-se pela primeira vez plenamente feliz.
Feliz por ver o brilho de olhos cansados inundados por lágrimas de felicidade.
E percebeu, finalmente, que a história sempre se repete.
História que relega a um plano menor o que realmente nos faz conhecer a felicidade.
Felicidade que só existe no amor mais puro e verdadeiro.
Enquanto os netos brincavam e os filhos conversavam, ficou a observar os corações dos seus pais que viajavam olhando as travessuras dos bisnetos.
Muito feliz ficou por ter descoberto e voltado a tempo.
Voltado ao que existia.
No seu coração, a alegria pela descoberta da verdadeira felicidade.
Inácio Augusto de Almeida é escritor e Jornalista
Caro Inácio, retratou perfeitamente a felicidade!
E então remeteu-me a uma pergunta que fizeram ao saudoso Max Nunes,
Qual o livro mais importante que havia lido; respondeu ele: foi a a CARTILHA!
Um abraçaço
Em tempo, do seu sempre medíocre amigo!
Quem nunca disse coisas banais?
Palavras o vento leva…
Quem é dotado de tsensibilidade
Pode ser medíocre?
Inácio Augusto de Almeida
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Caro Amorim
Não cobre de mim a infalibilidade papal…
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