Por Carlos Santos
A mulher tem uma natureza masoquista. Em pequena ou grande proporção, dependendo do caso.
Cada uma com sua margem de dor. É da natureza feminina.
Claro que a ciência explica esse fenômeno. Não é uma mazela das megalópoles ou do mundo capitalista no século XXI.
A ciência mergulha na antropologia e na genética, por exemplo, para fixar a relação primitiva que existe na convivência de dominação entre homem e mulher. Encontra uma dependência e escravismo que resistem ao tempo.
Seria ponto de partida para explicar a dor como regra e não exceção.
Lamentável.
À madrugada de ontem, por exemplo, em Tibau, vi uma mulher jovem e bonita, sobre saltos enormes, pedir socorro ao namorado para atravessar uma vala em que jorrava água. Ele, indiferente.
Um amigo tentou socorrê-la e foi rispidamente repreendido. “Não, não quero!”
Emendei: “Suspeitei que sua boa intenção fosse ser rechaçada, meu caro. Mas fiquei calado”.
Ainda bem que existe uma minoria que adora flores, ser cuidada e zelada. Protegida.
Minoria que não se sente constrangida por ganhar apelido carinhoso, cheirinho na testa e carÃcias nos pés.
Aquela porção de mulheres que transpira confiança encostada em nosso peito; se arrepia e revira os olhos quando lhe falamos em sussurros.
Temos também as vitoriosas, que fazem sucesso na vida profissional sem medo de constranger seu par. Ou outras que se realizam como a dona-de-casa tÃpica, sem aceitarem a condição de nova “Amélia”.
Essa mulher não precisa participar de joguinhos de poder, disfarçados de truques de sedução, para ao final se ajoelhar diante de um mandarim.
A cara-metade não existe. Não falo em cara-metade com o sentido filosófico e mitológico, descrito em “O banquete” de Platão.
Os mitos são histórias nascidas da alma coletiva dos seres humanos, uma necessidade de auto-afirmação pela alegoria, através da cultura oral ou escrita.
Prefiro negar Platão. Não estamos à procura de uma suposta parte que nos falta, separada de nós punitivamente por Zeus – segundo o pensador grego.
No fundo, o vazio é a ausência do seu próprio eu; a incapacidade de se sentir único, em condições de ser alguém e não apenas penduricalho à perversão de outro ser.
A dupla de poetas/cantores/repentistas “Os Nonatos” (Nonato Neto e Nonato Costa) trata do assunto com enorme destreza. Na música “Encontrei em você”, eles falam o que Platão não conseguiu dizer:
“(…) Encontrei em você um começo sem fim
A metade de dentro feita fora de mim.”
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