Por François Silvestre
Convivo bem com o envelhecimento por conta dos erros adoráveis da mocidade. Não me arrependo de nada. Faço autocrítica de muita coisa, mas não é arrependimento. Essa coisa de arrepender-se é de natureza religiosa. E fui religioso, na infância. Não me arrependo de tê-lo sido. Autocritico-me.
Autocrítica difere de arrependimento. No arrependimento, você se mortifica. Autoflagela-se. Presta contas aos outros. Na autocrítica, você presta contas a você mesmo. Só. E se ampara moralmente para enfrentar a hipocrisia.
Quem se nega à autocrítica navega entre dois extremos. Ou é santo ou idiota. Não sou nenhum dos dois, graças a Tupã.
Ainda adolescente, vi meu país mergulhar desprotegido numa Ditadura. Poucos anos antes, criança, vi a morte natural do meu pai adotivo. E dois anos depois, aos dez anos, assisti à morte, por assassinato, do meu pai biológico.
A morte não me é companhia da velhice. Foi minha companheira de infância.
Na Casa do Estudante, pardieiro da Praça Lins Caldas, aprendi a lutar contra a Ditadura. Luta pequena, minimalista, de front paupérrimo.
Acreditei na solução comunista. Crença desfeita pelo tempo. Mas, a negação à exploração humana não se desfez. Não envelheceu em mim a negação ao fascismo, ao reacionarismo, à estupidez da Direita.
Não permito à velhice, que adoto sem traumas, o dedo apontado ao jovem que fui. Da mocidade incorporo tudo. Tudo. Principalmente os erros. E tenho pena de quem se mortifica da juventude que teve para vender-se à velhice da mortificação.
Meu corpo envelhece sendo o altar onde reverencio minhas crenças da mocidade. Todas elas. Até, como já disse, as que merecem autocrítica. Arrependimento, nunca.
O fascismo vive por conta e custo da deseducação. O fascismo não é uma ideologia, é um atributo comportamental. E navega em toados os lados. O pai repressor é fascista, mesmo se for socialista. A professora intolerante é fascista, mesmo se for cristã.
O governo brasileiro atual é fascista. Se é que seja governo. Não é ditadura porque não pode, mas gostaria de ser. É militarizado na forma mais avacalhada da vida militar, onde militares da ativa abocanham “as boquinhas” comissionadas, num vergonhoso cabide de empregos. Principalmente nas áreas de saúde e educação públicas.
Por ser velho, vou calar? Nunca. Vivam enquanto for vivo, em mim, as revoltas da juventude.
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François você é foda mesmo.Belo artigo,aliás como sempre.
Obrigado Caro François Silvestre, por nos brindar com o belo/singelo e ao mesmo tempo denso artigo de natureza memorialista/existencial, onde com grandeza d’alma e da bela escrita, capitaneia com maestria a diferença entre auto-crítica e arrependimento, que como dissestes, muitos, confundem por medo (Fruto de formação/imposição religiosa) e (ou) por pura ignorância.
Um baraço
FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
OAB/RN. 7318.
Somos os melhores julgadores de nós mesmos. Faço autocrítica, sim. Às vezes me absolvo, às vezes, não. Penso ser um pouco severa e por isso traço linha de conduta para não ter de me enfrentar.
Pena velho conterrâneo que você não mais escreve todos os dias pra que eu possa aprender mais. Hoje você se superou, chegou a me causar uma inveja santa. PARABENS!!!
Obrigado.
Simplesmente magnífico!
Hoje o dia começa muito bem.
Belíssimo texto! como sempre “.O homi é bom nas letras” Magnífico !!!
François, “10 com louvor”, como diria Márcia de Windson ( fui longe…).
Abraço
David
NOTA DO BLOG – Trate de voltar a escrever pro Blog aos domingos. O camarada François ensarilha armas e nos desfalca nesse dia, me obrigando a trabalhar mais.
Câmbio!
Painho é duca! E educa.
Boa! Kkkkkk
Magnifico !!
Magnífico!!