Por Roncalli Guimarães
O mês de setembro transformou-se no mês da prevenção ao suicídio e as estatísticas indicam que precisamos desse alerta para tentar reduzir essa trágica causa de morte. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são 800 mil mortes por suicídio anualmente, segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos.
O fenômeno do suicídio já apresentou vários conceitos no decorrer da história, indo do ato heroico à fraqueza moral.Existem relatos de suicídio desde Hipócrates há 400 anos A/C, o qual já associava o suicídio à melancolia e depressão. Temos nas escrituras da Bíblia, Mateus descrevendo o suicídio de Judas, cometido por remorso após a condenação de Jesus.
Nas artes o tema do suicídio foi amplamente descrito e por sinal muito presente nas obras de Shakespeare, como a “imortal” obra de Hamlet, na qual o autor narra os sofrimentos do príncipe Hamlet, suas dúvidas e coloca o suicídio como opção para cessar a dor dilacerante da sua angustia. Além de Shakespeare, Goethe desnudou o tema também.
Saindo do mundo da arte e fantasia, o suicídio é um tema real e de extrema importância. Estamos diante de algo muito presente em nossa sociedade moderna.
Essa importância vem do fato de que a medicina conhece o comportamento suicida. O ato de fazer algo contra si mesmo não necessariamente inicia pelo desfecho da morte. O comportamento suicida muitas vezes é antecipado por pensamentos e atitudes autodestrutivas perceptíveis.
Estudos comprovam que 80 % das pessoas que cometeram suicídio , estiveram em algum serviço de saúde primaria um ano antes do desfecho. Por isso, a campanha Setembro Amarelo não é apenas um mês soltarmos balões nessa cor e colocarmos frases de efeitos em redes sociais. O Setembro Amarelo é também um tempo de alerta.
Precisamos lutar para que sejam implementadas políticas públicas sérias, contínuas e que não se limitem a governo, mas como uma razão de Estado, por respeito e zelo ao cidadão, à sociedade, à vida. Por amor, compaixão. Por solidariedade.
Doenças como depressão e dependência química têm ampla possibilidade de tratamento e devem ser vistas sem preconceito, sem estigmatizar ou punir ainda mais doentes e suas famílias.
Precisamos modificar padrões de pensamento coletivo errôneo, como o de que o usuário de drogas é viciado porque quer, porque ‘é ruim’, deixando de socorrê-lo.
Temos que combater a subnotificação nos casos de tentativas de suicídio, pois dessa forma teremos maiores meios aos estudos e compreensão desse fenômeno. Entender o pensamento suicida é imprescindível nessa batalha que estamos travando diariamente, segundo a segundo. É uma luta em que todos nós estamos envolvidos.
A morte voluntária nos espreita.
Roncalli Guimarães é psiquiatra
Parabéns Dr. Roncalli, leitura fácil e exclaredora.
Ótimo texto. Explicativo e real. Muito bom, Dr. Roncalli Guimarães.
Sim, “A morte voluntária nos espreita”. Precisamos estar atentos aos comportamentos do depressivo e do dependente de drogas porque a depressão é traiçoeira. Muitas vezes, o doente está muito alegre, diferentemente do habitual .É a Euforia e, nessa condição, também comete o suicídio.
Um esclarecimento, em atendimento às suas famílias para que conheçam a doença e saibam como intervir. Cabe ao Estado, sim, diante das inúmeras perdas sofridas por conta desses males, formar frente de combate com participação efetiva, preservando a preciosidade da vida.