"Se queres viver, desperta e luta." (Samuel Smiles)
Taí uma coisa difícil de saber, pelo menos para mim, o que é pior: a tirania ou a covardia. É claro que o primeiro só existe por causa do segundo. Sem covardia, não há tirania. Então, às vezes, penso, que o segundo – o covarde – é pior do que o primeiro.
O tirano, como muito bem definiu Platão, no seu Górgias, é aquele que em uma cidade tem a liberdade de fazer tudo o que lhe aprouver. Já o covarde, muito bem apontou o escritor Argentino José Ingenieros: “é aquele que não colhe rosas no seu jardim por medo dos espinhos”.
Mas, a vida, como bem lembrava o grande e corajoso Guimarães Rosa – ao esquentar e esfriar; apertar e afrouxar; sossegar e desinquietar –, só quer da gente uma coisa: coragem. Coragem, palavra que vem do latim cor, que significa coração.
O covarde, portanto, não vive. Pois não tem coração. Vegeta. É uma alma conduzindo um cadáver…
Fico imaginando se Perseu tivesse tido medo da Medusa, estaria até hoje parado como uma pedra. E se César tivesse tido medo, nunca teria passado o Rubicão, em busca de Pompeu. Ah! E Cristo se tivesse tido medo nunca teria dividido a história em antes e depois dele… então, tem razão quem escreveu: “As existências vegetativas não têm biografia; na história de sua sociedade só vive o que deixa rastros nas coisas ou nos espíritos.”
E o covarde, com o seu medo – sua “prudente” covardia-, não tem história. Além de não ter história, o covarde não vê. Pois, o medo cega. É por isso, que o covarde prefere “viver” – ou melhor: vegetar-, dentro da caverna – deitado em berço esplêndido. Ali, ele se acha protegido do frio (embora o calor seja de rachar o juízo), do ataque dos animais, etc, etc… Assim, ele não precisa da luz. Da claridade. Nem muito menos da verdade.
O seu mundo é um mundo de mentiras. Um mundo de uma única tonalidade… sem arco-íris… Então, nada melhor do que a tirania, para governar esses cegos… pois, eles, os tiranos, assim, podem tudo. Mandam e desmandam. E os tiranos não estão nem aí se são chamados de parasitas da escória social e comensais do vício e da desonra, já que eles são filhos mesmos é da covardia alheia. Um depende do outro: o tirano do covarde e vice-versa.
Convivem juntos, formando essa hipocrisia social, adaptados como as lombrigas ao intestino, como bem disse Ingenieros. Que parceria perfeita…
Coragem é coisa do caráter. E o covarde, embora talvez até quisesse ser como as águias, sabe que terá que se resignar a rastejar como vermes, sem direito a protestar quando, o tirano, o esmaga…
Mal aventurados, vocês, covardes! Pois, quem tem tanto “amor” ao seu pescoço, saiba que nunca conhecerá o reino de Deus.
Francisco Edilson Leite Pinto Júnior, professor, médico e escritor (edilsonpinto@uol.com.br)
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