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domingo - 19/12/2021 - 08:42h

A Princesa de Milton

Por Carlos Santos

Milton Marques de Medeiros, “Doutor Milton”, como solenemente muitos tratavam esse médico, empresário, bacharel em direito, professor, escritor, jornalista, tinha uma especial paixão pelo rádio. Algo atávico, não sei explicar. Entre as muitas conversas que tivemos, nunca veio à minha mente lhe perguntar onde e como nascera esse vínculo afetivo.

Milton Marques em 2011, lançamento do livro "Só Rindo - II", sob o olhar do autor dessa crônica e da publicação (Foto: Ricardo Lopes)

Milton Marques em 2011, lançamento do livro “Só Rindo – II”, sob o olhar do autor dessa crônica e da publicação (Foto: Ricardo Lopes)

Mas, de minha memória, não saem imagens dele agarrado a um rádio receptor nos salões, estúdios, salas e corredores da TV Cabo Mossoró (TCM-Telecom), acompanhando transmissões radiofônicas. Olhos atentos, ouvidos mais ainda.

Quanto à Princesa, sua Princesa, a relação sempre foi ainda mais intensa. Poderia ter-se separado e a deixado para trás. Porém, fez diferente. Sócio também em outras emissoras radiofônicas no RN, Milton Marques resolveu se desfazer desse vínculo empresarial de uma vez. Contudo, com uma exceção: a Rádio Princesa do Vale.

Perguntado sobre o porquê dessa decisão, era econômico nas palavras, mas enfático, sem deixar espaço para contraponto do interlocutor:

– É como um filho; filho não se vende.

A Princesa de “Milton”, era assim que eu o tratava, sem o “doutor”, chega aos 40 anos seguindo à risca o que estava planejado por ele. A morte o arrebatou de nós no dia 22 de abril de 2017, mas não o flagrou desprevenido ou alheio a nada do que lhe era importante, como essa rádio. E sua família, segue à risca os planos traçados, as aspirações manifestadas e o zelo de pai.

Costumo falar nas conversas com seu comandante-em-chefe Lucílio Filho, na emissora há 36 anos, sobre a força catalisadora dessa rádio, umas das mais representativas e paradigmáticas do universo radiofônico do RN. É tudo isso porque é exatamente isso.

Sobreviver à própria composição societária babélica lá do início, com 33 componentes, se manter inteira e íntegra num ambiente sempre conflagrado pela política paroquial, regional, estadual e nacional, além de ser autossustentável economicamente, não é para qualquer uma. É para a Princesa, antes AM, agora em Frequência Modulada (FM).

Com certeza, Milton, “Seu Milton”, “Doutor Milton”, como queira, deve sentir um orgulho enorme – mas discreto, quase imperceptível, como sempre foi seu perfil terreno -, do que legou para o Assu, o Vale e à sociedade alcançada pelo sinal de sua Princesa.

De minha parte, a gratidão pela amizade generosa, a capacidade de ouvir, os conselhos e alguns gestos demasiadamente largos e diluvianos, em afeto, que recebi por tanto tempo e em tantas ocasiões.

– Entre, camarada. Vamos conversar (diria ele à porta de sua sala na TCM, já vaquejando minha entrada até a cadeira à sua frente).

– Vamos, Milton. A gente tem muito ainda o que falar.

Carlos Santos é jornalista do Canal BCS – www.blogcarlossantos.com.br

*Texto originalmente publicado na revista Princesa – 40 Anos (veja AQUI), lançada no último dia 9, em Assu.

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Rocha Neto diz:

    “Entre, camarada.” Duas palavras que lembram e muito a maneira carinhosa e afavel com que Dr. Milton recebia a todos em seu ambiente de trabalho, lembro muito que assim ele também me tratava para falarmos sobre as salinas da SOSAL aonde trabalhei por um longo e salutar período, e a salina São Camilo, que Dr Milton construiu e que até hoje se encontra com sua família.
    Dos assuntos inerentes as salinas, chegavamos aos do rádio, e o semblante de Dr. Milton mudava de satisfeito para uma alegria total, e ele nos seus comentários inerentes ao rádio sempre vislumbrava horizontes maiores, taí a sua TCM por testemunha.
    Carlão, parabéns pelo irretocável artigo em tela.
    Logo mais nós encontraremos lá no Prato de Ouro.
    Inté!!!

  2. Magno diz:

    Milton Marques foi um grande homem em seu tempo. Uma capacidade realizadora incrível e um ser humano sempre aberto a ouvir. Escutava com atenção cada palavra e analisava tudo.

  3. Amorim diz:

    Dr. Milton Marques, não merece respeito,
    Era inerente a ele!
    Nunca esqueço a sua fala mansa, educação e capacidade de ESCUTAR!
    Boa tarde.

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