sábado - 11/08/2007 - 09:57h

A quem não esqueci

O ex-governador Aluízio Alves estaria fazendo hoje 86 anos. Morreu no dia 6 de maio do ano passado, por falência múltiplas dos órgãos.

Tenho-o como a maior inteligência com quem pude interagir.

"Aluízio Alves pode ter sido tudo, menos medíocre", definiu magistralmente o jornalista Cassiano Arruda à época de sua morte. Perfeito. Num estado onde a mediocridade costuma ser um bem quase atávico, ousar é uma qualidade excepcional.

Em meus bate-papos com "Aluízio", as horas avançavam sem me empurrar à fadiga. Abaixo, uma crônica que escrevi no blog antecessor desde, dia 8 de maio de 2006. Minha modesta lembrança. Leia:

Aluízio não morreu 

Cassado pelo regime militar, o ex-governador Aluízio Alves manteve-se presente no imaginário norte-rio-grandense, não obstante o desterro político. Garoto, ainda, lembro de uma esmoleira vagueando pelas ruas de Mossoró, que incorporava a síntese da revolta dos partidários de Aluízio diante daquela violência.

"Aluízio morreu!" – bradavam meninos travessos que a sitiavam, debulhando incontáveis vezes essa sentença. Irada, ela corria de encontro a eles, – eu, confessadamente, muitas vezes estava entre os travessos. Palavrões e o que tivesse à mão serviam à sua reação ao sacrilégio professado pelos infantes terríveis.

Morto no sábado, 6, com falência múltipla dos órgãos, aos 84 anos – faria 85 no dia 11 de agosto -, Aluízio Alves deixa um legado incomensurável. Fez parte de um tempo onde a política tinha vícios comuns aos do Brasil contemporâneo, mas prosperavam gestos de espírito público.

Precursor de ações de apoio à agricultura de base, reforma agrária, turismo, eficiência administrativa estatal, programa de habitação popular, energia elétrica e tantos outros pioneirismos, Aluízio efetivamente foi incomum. Num ambiente de paixões e ódios, não passou despercebido e soube como poucos incorporar a palavra líder.

Como um César do semi-árido, saído do sertão do Cabugi, "veio, viu e venceu!"

Noutro quadrante de sua vida, igualmente apaixonante, o jornalismo, de novo fez história e esteve à frente do seu tempo. Criador de um complexo de comunicação, também foi uma das estrelas da mítica Tribuna da Imprensa, germinada no Rio de Janeiro pelo irrequieto Carlos Lacerda.

A propósito, chefiando a redação da Tribuna da Imprensa, onde conviviam nomes de proa da inteligência nacional, Aluízio Alves "filtrava" os artigos quase sempre incendiários de Lacerda. "Entregue ao DBS," orientava Carlos Lacerda com texto em mãos, numa referência cifrada e bem-humorada ao norte-rio-grandense. DBS era o próprio Aluízio, ou seja, "Departamento do Bom Senso".

Em 2001, no primeiro aniversário do Jornal de Fato, do qual eu era sócio-fundador, fiz a apresentação do seu livro "O que eu não esqueci" em Mossoró. Estação das Artes lotada, desfiei uma breve biografia do autor e resgatei o drama da personagem incidental que ilustra esta crônica.

Distante tantos anos daquele período de infância, reconhecia em meu discurso – como agora repito – que a pedinte ensandecida estava certa:

Aluízio não morreu!

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Comentários

  1. janiorego diz:

    parabéns, amigo. belo texto, oportuna lembrança jornalística e política. recorra sempre aos ensinamentos da prática política-jornalística Dele para enfrentar o que vc enfrenta! um abraço,

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