Por Paulo Menezes
Plantei essa mangueira há 42 anos. Não sabia se ela vingaria nem se eu alcançaria sua trajetória de vida. O fato é que todos sobrevivemos.
Ela ainda viçosa, florindo e dando frutos doces e saudáveis todos os anos. Eu, já mais pra lá do que pra cá. Com certeza, vou partir para outra dimensão e ela vai continuar sua vida.
O fato é que recebo sua sombra e seus frutos no dia a dia, e isso para mim já compensa o investimento, já que sou um naturalista convicto.
Hoje, no meio dessa pandemia louca que nos afasta dos filhos, noras, netos e amigos, todos do bem querer, é ela, que como sempre e ao longo do tempo tem me dado abrigo e reconforto.
Agora mesmo, estou usufruindo de sua sombra benfazeja, tomando uma aguardente mineira, ouvindo Roberto Carlos da Jovem Guarda dos anos 60 (precisamente 1965) anos dourados da minha juventude, vivida com a intensidade de quem está com a morte para acontecer no dia seguinte. E o bom disso tudo, é que de repente me sinto bem, apesar do noticiário terrorista da imprensa televisiva.
Não sei se é o álcool o que me deixa assim, pois, via de regra, uma pinga bem dosada nos deixa relaxado, leve e até mesmo um pouco esquecido.
O fato é que na vida, sempre temos que encontrar uma saída para enfrentar os problemas que ela nos apresenta. Para mim, graças a Deus, eu encontrei essa válvula de escape que foi a sombra dessa árvore frondosa e uma boa caninha para amenizar as vicissitudes da vida.
Afinal, não foi sem motivo que o ator e cineasta norte-americano Jordan Peele afirmou: “Sinto que estamos numa época onde o público precisa escapar do horror da realidade”.
Paulo Menezes é meliponicultor
Que bom, Paulo Menezes, que encontra refúgio, nesses dias estranhos, à sombra de uma mangueira plantada por você. Já o meu consolo, encontro em dois de meus netos que moram conosco. A menina, vez por outra, apresenta um novo penteado ou aproveita a saída da mãe para o trabalho e veste-se com suas roupas parecendo uma linda anã. Ontem surgiu
com os lábios completamente brancos e garantiu a mim e ao avô que não havia usado maquiagem. A seriedade com que afirmou, nos assustou. Daqui do quarto até a pia do banheiro, aflita, repassei se já lera algo como lábios brancos ou rouxos nos sintomas do Corona. A primeira passada de água mostrou-nos o embuste e visualizamos o tom rosado habitual.
Há duas semanas, quando em vez,esconde um enchimento nos “quartos” e diz que é a Tia Rosário, da escola. Plantamos três árvores filhos que nos deram quatro netos. Os dois menores só vejo por vídeos, sinto uma falta incrível…enquanto o tempo sombrio não passa, me divirto com a tanajura da “Tia Rosário”, minha árvore neta, alegre e brincalhona.
Pois é, eu já não tenho tenho esse consolo. Tenho dois filhos e quatro netos, todos maravilhosos mas a pandemia me afastou deles desde março deste ano. Tenho que me refugiar mesmo é com o que tenho por aqui. Um abraço e uma boa semana.