Por François Silvestre
Dizia o professor de Medicina Legal, Milton Ribeiro Dantas, que nós começamos a compreender a vida contando as décadas. E com o passar delas, descíamos a contagem para os anos, meses, semanas e dias.
Lembro ainda dos tempos de criança, quando se queria dizer que alguém estava à beira da morte, usava-se a expressão “está só contando as horas”.
Cada ano começa a contar as horas após a ceia de Natal. E agoniza entre festas, salamaleques, votos, abraços. Há um clima suave de música triste embalada por sinos femininamente sílfides.
É o único período em que a hipocrisia não parece maldosa. Pelo contrário, fica até fantasiada de candura.
O Nazareno certamente não teria tempo suficiente, nestes tempos de agora, nem chibatas disponíveis, para expulsar os vendilhões dos templos. Ou talvez nem o fizesse, pelo simples fato de que esses prédios pomposos, onde se encastelam as igrejas não seriam por ele reconhecidos como a sua edificação sobre a pedra de Pedro.
O Cristo que nós embalamos na manjedoura, aos sinos de Dezembro, para três meses depois o pendurarmos na cruz. Tudo regado a muita festa, comes e bebes; orações decoradas para afugentar medos e labaredas.
Jacques Anatole François Thibault, o popular Anatole France, dizia que as crucificações eram tão comuns naquele tempo, que nem despertavam interesse. Sugerindo que a pompa e circunstância da crucificação de Cristo foi uma invenção posterior. Porém, nem ele, com seu ferino ceticismo, pôde negar que aquela crucificação, específica, produziu a mais profunda influência nas relações da fé humana ao longo do tempo.
O Cristianismo é núcleo e periferia. Vai do belo ao horrendo, da luz às trevas. Depende do tempo e das relações com o poder temporal. Da humanidade plena de um Ângelo Roncalli, o João XXlll, à barbárie do Bispo Torquemada, na inquisição. Os extremos, com infinidades de configurações entre suas pontas.
Certamente o Cristo merece melhores emissários do que os vendedores de milagres, saltimbancos da fé, que infestam a angústia dos nossos tempos.
Mas eu falava da idade dos anos. Cuja adolescência impúbere despede-se ali por Maio e se veste de noivado; depois, a juventude atravessa as fogueiras a comemorar a colheita, nos folguedos de São João. Chega a maturidade e perdura até por meados de Outubro. E aí começa a velhice.
As rugas dos anos são tristes. É por isso que ele morre fazendo festa. Mas a festa não consegue enganar. Por isso a música da despedida é melancólica.
Mesmo assim, e até por isso, brindemos. Cristo está acima de nós. Da nossa fé ou da nossa descrença.
Morrer não é coisa da morte. Não. É coisa da vida! E pra viver é preciso entusiasmo. Os anos morrem entusiasmadamente.
Recorro a Anatole France, para fechar o texto. “Eu prefiro o erro do entusiasmo à indiferença do bom senso”.
Té mais.
François Silvestre é escritor
* Texto originalmente publicado no Novo Jornal.
“Certamente o Cristo merece melhores emissários do que os vendedores de milagres, saltimbancos da fé, que infestam a angústia dos nossos tempos.”
COMO MERECE!
Não dá mais para aceitar como enviados do senhor tipos que se calam em troco de doações.
Tipos que querem posar de defensores da JUSTIÇA SOCIAL, mas que por MEDO passam a ser cegos, surdos e mudos a todo tipo de corrupção.
O Papa Francisco precisa acordar.
A menos que queira continuar falando uma coisa e os que lhe devem obediência fazendo exatamente o contrário.
OU NÃO É CORRUPÇÃO ACEITAR DOAÇÕES DO ESTADO QUE É LAICO?
Ou não é corrupção ter à frente de movimentos religiosos corruptos já condenados em primeira instância por prática de improbidade?
/////
QUANDO SERÃO JULGADOS OS RECURSOS SAL GROSSO?
Sensacional o artigo sobre corrupção do brilhante Paulo Rubem Santiago que está publicado no blog César Santos.
Imperdível.
/////
QUANDO SERÃO JULGADOS OS RECURSOS SAL GROSSO?