Por Marcos Araújo
Charles Darwin tinha 22 anos de idade, havia largado o curso de medicina e finalizado uma breve carreira eclesiástica no Christ´s College, quando aceitou fazer uma viagem ao redor do mundo a bordo do “Beagle”, um navio veleiro de 27 metros. A embarcação era comandada pelo capitão Robert FitzRoy, numa expedição exploratória financiada pela Coroa Britânica. O objetivo era mapear e estudar as espécies do Hemisfério Sul.
A Viagem do Beagle durou cinco anos, entre 1832 a 1836, com Darwin anotando tudo que encontrou ao longo dos continentes visitados, desde a América do Sul à Oceania. Causava espanto à expedição os elementos exóticos da natureza como os lagartos e as tartarugas gigantes no arquipélago de Galápagos, fósseis de animais na Patagônia, espécies vivas na Austrália e artrópodes e plantas na costa brasileira. Tal pluralidade pareceu enriquecedora para cunhar sua futura famosa teoria evolutiva, que se iniciou com a publicação de “A Origem das Espécies”, em 1859, mais de duas décadas depois de sua jornada pelo mundo.
No Brasil, a escravidão chocou Darwin. A crueldade com que tratavam os negros no Brasil, fez com que ele escrevesse em seu diário de bordo: “Que eu jamais visite de novo uma nação escravocrata”. Um curioso fato sobre essa passagem: quando era levado por um escravo negro brasileiro durante uma expedição em pequeno barco, Darwin relata que apontou a direção a ser seguida com o braço. Nesse momento, o naturalista britânico percebeu que o condutor negro se agachou, achando que levaria uma pancada.
Pois bem. Darwin, em que pese ter formação religiosa, passou a defender no livro A Origem das Espécies, que o homem não era obra da criação de Deus (o criacionismo). Defendeu a Teoria da Evolução, querendo demonstrar que as espécies evoluíam fisiológica e sociologicamente.
Lembrei da afirmação teórica de Darwin agora neste período carnavalesco. Cabe falar de evolução cultural-social-intelectual brasileira quando se vê que os hits mais tocados no carnaval são “Macetando” (Ivete Sangalo e Ludmila), “Perna Bamba” (Parangolé e Léo Santana), e “Joga pra Lua” (Anitta e Pedro Sampaio)? Tais composições musicais – de visível indigência estética – são agravadas pelo excesso de requebro e apelo sensual nas coreografias.
Intelegibilidade e bom gosto não são mais elementos nas letras musicais. Compor para fazer sucesso no presente compreende falar da depreciação da mulher, onomatopoese de ações sexuais, estimular a bebida e a droga, entre outras atitudes contravencionais. Silvio Caldas, Orestes Barbosa, Lamartine Babo, Herivelto Martins e Humberto Teixeira jamais teriam vez.
Nelson Ferreira, um maestro pernambucano autor de grandes frevos, em 1952 fez uma cobrança musical pelo retorno dos grandes carnavais. A canção se chama “Evocação nº 1”, em que reclama a falta das figuras de Felinto, Pedro Salgado, Guilherme e Fenelon, nas saídas dos blocos carnavalescos mistos das Flores, Andaluzas, Pirilampos, Apôis-Fum…
Reportando-se à viagem do “Beagle”, penso que ela pode ter servido como uma grande contribuição científica às ciências naturais e biológicas. Quanto à base da teoria evolucionista de Darwin, faço minhas oposições. Estamos involuindo. E faz tempo. Notado mais agora no aspecto da diversão momesca…
Marcos Araújo é advogado e professor da Uern
Comentário , crônica , cirúrgica , descreve o momento atual em que nós estamos vivendo , vce sempre brilhante ,
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