Glauber considerava “Vidas Secas” um clássico do cinema, ou melhor, “um filme clássico”, não experimental – como seria o seu “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, que a mim me parece sempre uma sucessão de imagens embora belas, desconexas, reiterativas como uma espécie de pesadelo.
Vi-o pela primeira e única vez numa manhã de sábado, no Cine Theatro Dr. Pedro Amorim, no Açu, creio que na segunda metade dos anos sessenta.
Ainda não lera Graciliano, um autor de quem então eu podia ter gostado se não tivesse lido, antes, Dostoievski, a meu ver o precursor do escritor alagoano e de muitos outros escritores que sucederam ao russo que li obsessivamente, emprestado da formidável biblioteca da escritora Maria Eugenia Maceira Montenegro, entre os meus quinze e dezessete anos.
Eu me lembro que fui um dos poucos expectadores a permanecer sentado até o fim da sessão que começava às dez horas e aproveitava a presença de muitos que, como eu, vinham dos sÃtios e fazendas para a feira semanal na cidade, que era o pólo comercial de uma vasta região e, também, um centro cultural, justamente por causa desse cinema que atraÃa grande público nesse dia que a principio e por muito tempo incluÃa em seu repertório um seriado cheio de ação, seguido de um filme, geralmente produzido pelos estúdios Disney.
Especialmente os jovens deixavam a sala após alguns minutos, enfadados com a pelÃcula monocromática da qual a palavra parecia ter sido banida ou reduzida a um ou outro grunhido monossilábico arrancando do fundo das gargantas de Sinhá Vitória ou da faminta e resignada cadelinha cujo nome agora não me recorda.
Anunciado como uma obra-prima do moderno cinema brasileiro, o filme de Nelson Pereira dos Santos rompia com tudo o que eu já vira.
Sem experiência e repertório suficientes para aprecia-lo em suas peculiaridades, pareceu-me antes uma sucessão de fotografias que diziam mais do que mil palavras.
Franklin Jorge é jornalista e escritor (franklinjorge@yhaoo.com.br)
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