Por Honório de Medeiros (Blog Honório de Medeiros)
Quantos já foram, Jânio Rêgo? Você sabe dizer, Carlos Santos? Não sei se vocês sabem, mas não suporto mais a hora do crepúsculo na calçada de minha casa em Mossoró.
O sol se punha, vocês se lembram, e nós pegávamos a bola e corríamos para o meio-da-rua enquanto nossos pais colocavam as cadeiras nas calçadas e ficavam tomando o fresco, como se dizia antigamente, ou seja, pegando o vento Nordeste que espantava o calor e as muriçocas, e apartando as brigas que surgiam, inevitáveis.
Depois o tempo nos levou cada um para seu destino, mas ser amigo de infância significa não haver qualquer cerimônia quando dos reencontros. Estamos sempre à vontade entre nós.
E a conversa surge e segue fácil, adoçada pelas lembranças comuns. Assim foi quando eu encontrei Júnior pela última vez, na caminhada noturna da Alexandrino de Alencar, em Natal, onde tantos mossoroenses dão as caras, de quando em vez.
Conversamos um bom pedaço.
Ele não sabia que eu sabia de sua doença. Eu não podia, portanto, dizer a ele o quanto desejava que ele se curasse, o quanto lhe tinha afeto.
Quando acontece algo assim, se estou em Mossoró, olho para a frente da casa dos meus pais e não suporto a saudade da infância; olho para os lados e não suporto as ausências. Foram-se muitos da nossa República Independente da São Vicente; foram-se meus pais, os seus pais, Jânio, os seus pais, Carlos Santos, os pais de Roberto Fausto, os de Valério, os de Júnior Barreto…
E agora se vai Júnior Barreto, uma flor de pessoa, cordial, gentil, educado, um cidadão irreprochável, uma unanimidade, como bem definiu Delevam. Um de nós, da nossa República amada, da turma do patamar da Igreja de São Vicente. Não era para ir. De forma alguma era para ir.
Júnior era uma criança, tinha muito ainda para viver. Mas foi.
Dê lembranças aos nossos velhos, amigo. Beije todos eles.
E abrace e beije cada um dos nossos amigos que lhe antecederam: Cipriano, Pérsio, Marcos, Luis Artur, Toninho…
Meses atras, eu fui ao cemitério São Sebastião visitar o tumulo da minha família. Céu encoberto e o Sol dando uma trégua, resolvi, pela primeira vez, dar uma olhada em outros túmulos. Uma hora depois de muito “pula pula” entre um tumulo e outro, cheguei a seguinte conclusão: Todos os meus amigos de infância e juventude estão lá.
Comentei isso com meu neto de 8 anos que estava em minha companhia. Ele me respondeu em cima da bucha:
Vixi, vovô! Parece que só falta o senhor, né?
De lascar.
Não fiz parte da turma do átrio da igreja de São Vicente, mas conhecia os que foram e conheço o que aqui estão. Nos entristece quando lemos notícias como estas: perdas tão prematuras.
Como dizia Ariano Suassuna: “ao nascer, entra-se no rebanho de condenados”. Belo e doído esse texto de Honório. Mas é a vida! Ou como disse um poeta: “A morte não separa ninguém, quem separa é a vida”. A morte é como o drible de Garrincha, todo mundo sabe do seu jeito, mas ninguém está preparado para enfrentá-la.
Muito difícil expressar em palavras, prezado Carlos Santos, o que Junior significava para seus familiares e amigos. Mas o nosso “Medeirinhos”, com maestria, conseguiu essa proeza, mesmo que muito ainda possa e tem sido dito em relação a ele.
Junior era diferente. Um iluminado. Um homem sem igual. Um irmão excepcional. Um marido exemplar. Um pai fantástico. Um amigo fiel.
Mas sempre faltará algo a dizer. Algo que está no coração de cada um e de todos que tiveram o privilégio de conviver com Junior.
Agradeço, de coração, em nome de toda a família, por repercutir essa linda crônica de Honório Medeiros, a quem também já rendi agradecimentos, por intermédio da sua irmã e amiga Maria Emília.
Deus lhes abençoe!