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quarta-feira - 23/09/2009 - 20:58h

Advogado questiona “Sistema de Cotas” em universidades

Advogado com larga militância no Rio Grande do Norte, Marcos Araújo entra na discussão sobre a política de "cotas" para acesso à universidade. Faz ponderações muito válidas.

Veja abaixo o que ele expõe:

Estimado Carlos Santos,

Acho extremamente válida essa sua denúncia sobre o sistema de cotas na Uern. E deve ser investigada com rigor. Aliás, desde que foi criado no Brasil, o Sistema de Cotas é gerador de uma hipocrisia igualitária às avessas.

Sempre achei um absurdo a criação desse sistema (cota racial, do ensino público, e até mesmo o Enem) inconstitucional de acesso ao ensino superior.

Não adianta favorecer negros, pardos ou pobres, pensando em Justiça Social ou equiparação de desiguais. O método é falho. Temos nesse meio os ricos egressos do ensino público. Sim, porque a "moda" atual é o aluno do ensino médio ser matriculado em uma escola pública, de modo a participar do sistema de cotas, e durante outro horário frequentar outra escola privada.

No nosso tempo, o bom e "velho" vestibular era a única forma de acesso à Universidade. E foi por ele que alguns filhos de agricultores vindos da rapalha, estigmatizados pela feiúra e pela pobreza, entraram nela.

Alguns vindos de pequenas cidades do interior, frequentadores da Casa do Estudante, entre Mossoró e Natal.

Neste quadro, vencendo o preconceito e a beradeirice, temos exemplos de conclusão do curso superior em Universidade Pública, por vestibular, todos os filhos de Seu Ary (Evânio, Carlos, Marcos, Evans, Maiza, Oda, Fátima, Lúcia e Ary Filho); os filhos do seu Aproniano Vale (Getúlio, Juarez, Joalba, Genivan…); os filhos de Dona Terezinha (Wellington, Naerton, Chaerton…), Antonio Pedro (excelente advogado trabalhista) e todos os seus filhos, e milhares de outros mais conhecidos e melhor sucedidos profissionalmente.

Sinceramente, a banalização do acesso e a acriteriosa seleção por meio de sistemas, ao meu ver, inconstitucionais, juntamente com a mercantilização do ensino superior pelas empresas de ensino (algumas verdadeiras caça-níqueis) transformaram o diploma de Curso Superior em um nada-biográfico.

Pelos pífios resultados dos novos bacharéis nos exames de seleção da OAB já dá para entender a valia do diploma universitário. Bacharel sem OAB tem reduzida valia, pois nem concurso pode fazer para alguns cargos públicos.

Qual será mesmo o valor de um diploma desse?

Por isso, agora o modismo são as pós-graduações. Em Natal, tem Curso de Especialização para tudo que é gosto. E haja especialista! E chegamos ao modismo dos doutorados à distância.

Sem aulas presenciais, teremos, em futuro bem próximo, centenas de doutores com certificados de Universidades da Argentina, Chile, Bolívia e Espanha, sem falar espanhol. E como defenderam suas teses?

Um paradoxo negativo se apresenta: a mediocrização do ensino x a pseudo-qualificação acadêmica. Temos "doutores" com título, sem título, e os de falso título.

O mercado de trabalho, sabiamente, selecionará o "joio do trigo".

Continue sua luta, como diria o apóstolo Paulo, "combatendo o bom combate", guardando a fé.

Saúde e paz!

Marcos Araújo – Advogado

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Categoria(s): Blog

Comentários

  1. MARCIA CELIA FREITAS DE SOUZA DIAS diz:

    Caros Carlos Santos e Marcos Araújo. Tentarei ser doce pois admiro demais ambos, mas venho discordar de você Marcos. Vi meu pai, pobre de Jó, com 5 filhos menores, entrar na faculdade de Medicina da UFRN e, a duras penas, formar-se Doutor e viver tempo bastante para ser reconhecido como um grande médico e ainda me ver seguindo o mesmo caminho.
    Todos conhecemos exemplos de superação. Mas por quê aos pobres apenas a superação?? Só o fora de série, com inteligencia maior e com muita força de vontade pode sonhar em chegar lá??? A grande maioria dos pobres quando se forma é em Serviço Social, História, Geografia, Pedagogia, Letras, Enfermagem. Longe de mim querer diminuir qualquer profissão, mas que sejam escolhidas por quem quer fazê-las e não porque são as possíveis. O sol nasce para todos e todos temos os mesmos direitos.
    Por quê julgarmos que os cotistas serão médicos, dentistas, engenheiros ou advogados mais mediocres que os não cotistas??? O que dizer das centenas de faculdades particulares de qualidade para lá de duvidosa e dos profissionais que nos servem sem conhecimento, ética, qualificação?
    Mas nossos filhos, sobrinhos, netos, amigos, das classes média e alta, podem ser medíocres e despreparados, pois estão usufruindo do que lhe é oferecido. Eles não têm culpa de estudar nos melhores colégios, passarem nos melhores cursos, das melhores faculdades (PÙBLICAS), ou, nos melhores cursos de faculdades razoáveis, outros, nos mesmos cursos disputados, só que em faculdades particulares. E a eles cabe o direito de serem profissioais exemplares e medíocres nas profissões que escolherem.
    Acredito que a defesa ao direito de igualdade, na verdade representa uma mau disfarçada disputa de classe social.
    Pois sou a favor das cotas, não por negros, mas por ensino público. Não acho que deva ser eterna; deve ter tempo de uma ou no máximo 2 gerações de desvalidos terem acesso facilitado ao aprendizado de qualidade. E deve ser acompanhada de uma mudança na estrutura do ensino público visando as novas gerações de brasileiros: ricos e pobres, brancos e negros, da escola pública ou privada.
    Dois filhos podem ter necessidades diferentes. E, algumas vezes, tratar igual é enxergar essas diferenças.
    Um grande abraço. Não sei se consegui ser doce como gosto de lhe tratar e como voce sempre nos trata, é que alguns assuntos mexem com meus nervos rs.

  2. Antonio Pedro da Costa diz:

    Meu caro Carlos Santos,
    Sou de origem extremanete pobre, como bem disse meu querido colega Doutor Marcos Araújo, a quem agradeço a deferência de lembrar meu nome nesse debate. Para estudar tiive que enfrentar muitos precoinceitos, desde à falta de roupa decente para me apresentar junto aos meus colegas de sala de aula, à fome, à deficiência física… Nada disso teria me envergonhado mais do que ter garantida uma vaga na universidade pelas minhas limitações e não pela minha competência intelectual.
    O que há hoje é uma verdaeira acomodação generalizada, e, no caso da educação é mais simples abrir vagas nas universidades públicas para pobre, preto, índio e outras categorias menos favorecidas do que nos juntarmos todos na luta por um ensino médio público, de vergonha, como tínhamos em épocas não muito remotas.
    Fato é que não se tem dado a importância devida para a educação pública de ensino médio nesse País. As escolas públicas estão se transformando num verdadeiro caos, onde impera a violência e não há condições mínimas para o professor que queira ministrar uma aula digna. Mas os alunos não precisam se preocupar, pois a sua vaga na universidade está garantida pelos sistema de cotas.
    É preciso repensar a educação com profundidade e não será com o sistema de cotas nas universidades que iremos erncontrar a solução. Inconcebíbvel que o professor continue sendo mal tratado como hoje está, com salários indignos (um professor com nível superior, em início de carreira percebe menso de R$ 700,00 por mês), sem reconhecimento da sociedade, a partir dos pais dos alunos e dos próprios estudantes.
    Resultado: daqui a pouco somente os medíocres ou os loucos buscarão a carreirta do magistério.
    Adiante com esse debate, pois é urgente e necessário uma tomada de posição.
    Um abraço,
    Antonio Pedro da Costa.

  3. Herbert Mota diz:

    Meu caro Carlos Santos:
    lendo com apurada atenção os conceitos acerca do Sistema de Cotas, brilhantemenete externados neste blog, o que, aliás, às claras, traduz o seu verdadeiro papel, i. é. de fomentador de debate de grandes temas, tomando por empréstimo o exemplo do advogado Antonio Pedro da Costa, coaduno-me com as palavras do colega advogado Marcos Araújo. Entretanto, mesmo discordando da Dra. Maria Célia Dias, me permita, foi ela extremamente feliz ao posicionar-se quanto a necesidade de delimitação do lapso temporal de validade do Sistema de Cotas, por uma geração ou, no máximo, duas. Parabéns pelo enriquecedor debate, máxime por acrescer-me quanto ao tema. Herbert Mota

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