Por Vicente Serejo (Coluna Cena Urbana/Tribuna do Norte)
Os olhos das gerações jovens enxergam em Aluízio Alves só o político e o jornalista, mas é nos olhos temperados pelo tempo que esse homem se ergue por inteiro. O político lutou com o poder e o jornalista com a palavra. Ele sabia que a política e a palavra se completam, e que ambas são poderosas como armas de conquista. Tão poderosas que esconderam na memória coletiva a grandeza de um personagem que foi um grande semeador na história intelectual da província.
Peças do Memorial Aluízio Alves (Foto: Reprodução)
O pequeno jornal datilografado na máquina do seu pai, com as notícias da sua aldeia, a Angicos do fim dos anos trinta, logo ficou pequeno para caber seu talento precoce. Em outubro de 1940, aos 19 anos, é convidado a fazer uma conferência na Semana de Cristo Rei, em Angicos. Ao invés de um simples discurso, escreve um verdadeiro ensaio voltado para retratar não só os traços religiosos, mas a visão inovadora do panorama social, cultural e econômico do seu povo.
Poderia ter sido algo episódico, nascido da sua forte vocação política. Não foi. E tanto não foi que no mesmo ano de 1940 retira da gaveta seu primeiro livro: Angicos, edições Pongetti, Rio, sua revelação de semeador. E cria a ‘Biblioteca de História Norte-Riograndense’, a primeira coleção planejada para cumprir, com um pioneirismo inédito no Estado, um amplo conjunto de visões planejadas para que retratassem a história do Estado nos diversos ângulos e percepções.
Convidou José Augusto Bezerra de Medeiros a escrever o título inaugurador: ‘Famílias Seridoenses’. Seu livro ‘Angicos’ foi o segundo título e ‘Mossoró’, de Vingt-un Rosado, o terceiro. Manoel Dantas escreveu ‘Homens de Outrora’ e Adauto Câmara biografou Nísia Floresta. José Augusto ampliou com ‘Seridó’ e ‘O sal na economia norte-riograndense’. Com um detalhe: as obras eram subscritas por autores e leitores, garantindo a independência da coleção.
Eleito deputado constituinte em 1946, a tintura épica da palavra política começa a vencer o lírico da expressão literária. Mas, nos anos sessenta, já governador, retorna às velhas e boas raízes, e lança a ‘Coleção Jorge Fernandes’, reveladora de nomes como Dorian Gray, Sanderson Negreiros, Miriam Coeli, Celso da Silveira, Augusto Severo Neto – com projeto gráfico moderno – dimensões iguais, capas e manchas impressas padronizadas, numa grande e bela semeadura.
Foi Aluízio que sugeriu a Câmara Cascudo uma nova ‘História do Rio Grande do Norte’, nos anos quarenta, e que seria lançada em 1955, com apoio do então governador Sylvio Pedroza. A Eloy de Souza, sugeriu as ‘Memórias’. E fez outras sugestões que o tempo realizou.
Fascinado pela palavra, fundou esta TN há 73 anos e realizou um governo inovador que a História preserva como marco revolucionário. Só os pensadores são bons semeadores e vivem além do seu tempo.
Vicente Serejo é jornalista e escritor
Que macauense arretado é Serejo, já com os olhos pesados pelo sono não consigo dormir porque leio e releio a peça em tela, um passeio fantástico pela história iniciada na região central do estado potiguar tendo como personagem central um gênio de nome Aluizio Alves, e que só um Serejo da vida sabe dissecá-lo tão magnificamente bem falando sobre sua vida histórica inerente ao jornalismo e política partidária.
Aliás ler Serejo, não cansa, pois é uma aula que não nos permite intervalo, se aprende na versão decoreba. Faz muito tempo mesmo que Agnelo Alves, Aluízio Alves, Rafael Negreiros, Dorian Jorge, Cassiano Arruda, Carlos Santos, François Silvestre, Milton Marques, Iveraldo Guimarães, Woden Madruga são minhas referências de inteligência culturais daquilo que foi e que continua até hoje.
Pena que nossos jovens e até mestres pouco sabem quem são estas figuras de inteligências notáveis.