Por Bruno Ernesto
No texto publicado no dia 24 de março de 2024 (veja AQUI), abordei o meu costume de enviar cartões-postais e a situação pela qual passei nas minhas últimas postagens, quando não tive mais notícias deles.
Dei como perdidos e guardei na memória a história.
Como registrei anteriormente, apesar de toda tecnologia de comunicação que dispomos hoje, realmente, eles mantêm o seu encanto da escrita epistolar. E arrisco a dizer: jamais deixará de existir.
Quem já enviou um cartão-postal sabe muito bem o quão interessante e desafiador é resumir uma mensagem naquele pequeno pedaço de papel Couchê.
Não podemos – pelo menos não é comum – escrever textos longos, até porque dispomos de pouco espaço para tanto, de modo que é preciso exercitar o poder de síntese e da concisão, sem, contudo, deixar de transmitir ao destinatário todo aquele sentimento ou impressão que será compartilhada nesse ínterim com todos que o manusearem, até que, enfim, chegue ao seu destino.
Outra característica desse meio de comunicação e registro, quiçá possamos considerá-lo uma espécie de rede social primordial, é que eles transmitem majoritariamente mensagens de boas notícias. Aliás, nunca vi ou ouvi falar da existência de um cartão-postal portador de más notícias.
Desesperançoso e com os afazeres e correria do dia a dia, simplesmente não lembrei mais dos cartões-postais que havia enviado quando de minha visita ao Vaticano em novembro passado. Até que dia 15 de maio passado, silenciosamente, chegaram.
Quando finalmente pude pôr as minhas mãos novamente nesses cartões-postais, fui conferir as hipóteses que havia levantado e, como esperado, não os enderecei de forma errada e, obviamente, não foram extraviados.
Os reli calmamente e rememorei toda aquela viagem e os sentimentos que me levaram a compor aquelas mensagens. Uma para cada destinatário. Cada uma escrita com sinceridade e afeição.
Quanto à demora, penso que fizeram tal qual os gatos fazem, quando somem em suas escapadas e depois, do nada, reaparecem em casa.
Como não temos como perguntar por onde andaram, nos resta observar se estão intactos.
Apesar de terem viajado milhares de quilômetros, passado por não sei quantas mãos ou máquinas, os cartões-postais parecem que foram bem cuidados.
Será que há um tratamento diferenciado para eles? Penso que sim, ainda que involuntariamente, pois o serviço postal, de um modo geral, é muito pragmático com relação a certos hábitos dos seus usuários, e sabe que a tradição o mantém vivo.
Exceto um ou outro leve amassado nas bordas, estão do mesmo jeito de quando os postei há alguns meses. Inclusive os sentimentos. E fico a imaginar quem os leu durante esse longo percurso. Será que também desejou receber um?
Nenhum foi portador de más notícias, claro. Só desejos, carinho, admiração e gratidão.
Além disso, fugindo mais uma vez à normalidade, dessa vez pude presenciar a leitura e reação de cada um dos seus destinatários e, de fato, foi tudo diferente.
Aquela impressão de que não os veria novamente foi apenas uma suposição, pois todos chegaram ao seu destino.
Assim, já estou esperando a próxima viagem para enviar novos cartões-postais que, espero, apenas cheguem. Pouco, importando se tempestivamente.
Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor
Muito bacana, meu prezado Bruno Ernesto. Acho que posso dizer que você é um cidadão do mundo. Tem muita quilometragem e sabe contar saborosamente as suas histórias. Até mesmo essas tão concisas dos cartões-postais. Abraço.
Obrigado pela leitura, meu amigo Marcos! Sempre é bom falar das coisas simples que podemos transformar em um registro afetuoso. Um forte abraço!
Valeu, Bruno. Um texto leve, repleto de lembranças e bons sentimentos.
Abração!
Odemirton, essa seus registros são inspiradores e atiçam nossas memórias ! Há muitos anos acompanho suas crônicas e sempre me surpreendo com cada uma melhor e mais emocionante que a outra! Um forte abraço!
Enquanto o articulista evidencia ser um grande expert em Tour turístico, o que o parabenizo pela abastança, me resigno em juntar meus níqueis de “ponta de lenço ” para me deslocar nos FINDE até o meu pé-de-serra onde um amigo já me aguarda com uma fartura de piabas pescadas na Mãe-Lagoa do meu amado Apodi, onde lavo e enxáguo minha alma sertaneja bebendo água que passarinho não bebe, saboreando as apetecíveis piabas. Pense num DOLCE FAR NIENT . Um chuá de bom.
Caro Marcos Pinto, agradeço por prestigiar esses meus parcos escritos. Como você bem destacou, a nossa alma sertaneja sobressai sobre qualquer lugar do mundo. Sim, gosto de viajar. É muito importante para certas experiências. Agora, as melhores viagens que faço, não custam quase nada, pois penso, conheço muitos lugares. Reais ou imaginários. Meu passaporte é a curiosidade pela história, seja ela do estrangeiro ou a que reputo a melhor: a nossa; do
Nordeste. Não há nada melhor no mundo que estar em casa. Quanto à piaba, se for acompanhada de cebola crua e tomate, é uma iguaria que gosto demais, tal qual panelada, guiné, porco e carneiro torrado. Dispenso o álcool pois não me faz bem. Mas, quando tiver oportunidade de ir à Apodi, quem sabe tome um bom café espresso. Quanto ao dolce far niente, não há coisa melhor na vida. Como diz o ditado, cuja origem desconheço: “Vida boa é a dos outros. A minha é ótima!”. Um forte abraço !