Por Odemirton Filho
O domingo deve ser um dia leve. Os leitores, creio eu, gostam de uma leitura singela, que traga bons sentimentos e boas lembranças. Por isso, deixemos de lado, por ora, as regras eleitorais e o intolerante debate político-partidário. Falemos um pouco sobre o que vivi no junho de minha vida e que, talvez, você também tenha vivido. Enfim, “falemos ao coração dos homens”.
Estou lendo o livro do baterista João Barone, da banda Os Paralamas do Sucesso. O livro resgata o início dos Paralamas, na visão de Barone. São muitas histórias interessantes, principalmente para quem é fã. Pra quem não sabe, “Vital e sua moto” foi o primeiro grande sucesso; Vital era o baterista da futura banda.
O grupo foi contemporâneo, entre outros, de Kid Abelha, Titãs, Legião Urbana, Blitz. Isso lá pelo início dos anos oitenta. Lulu Santos já era um artista consagrado, e foi um dos “padrinhos” dos Paralamas. O cantor Lobão, com o seu temperamento forte, teve um entrevero com a banda. A década de oitenta, como se costuma afirmar, foi o auge do Pop Rock nacional.
De acordo com Barone, a música Lanterna dos Afogados foi inspirada no livro de Jorge Amado, Jubiabá. Lanterna dos Afogados é um bar fictício na região portuária de Salvador, onde as castas da sociedade se encontram e as esposas dos pescadores aguardam o regresso de seus amados.
A leitura do livro sobre os Paralamas despertou a minha memória afetiva, as lembranças da minha juventude. Eu e alguns amigos estávamos na primavera dos nossos dias, e saíamos pelas noites de Mossoró. Uma Mossoró ainda com ares de cidade do interior. Barzinhos? Contavam-se nos dedos. Festas? Vez ou outra.
Então, fazíamos as nossas programações. Andávamos no Chevette vermelho do nosso querido e saudoso amigo, Márcio Iuri. Aqui ou acolá, após muito “moído”, eu conseguia dar uma voltinha no carro do meu pai. Tempos depois, eu dirigia um Fiat 147, “me achando”.
Ouvíamos as músicas das bandas no som dos nossos “potentes” carros, com equalizadores e fitas cassetes. O som não era lá essas coisas, mas sobravam a alegria e os arroubos da juventude. Quem, na adolescência, não andou em carros lotados de amigos? Quem não fez uma cotinha pra comprar um litrão de bebida? Foi um tempo bom das nossas vidas, porque, alguém já disse, que de todos os animais selvagens o homem jovem é o mais difícil de domar.
Íamos ao Burburinho, um barzinho “descolado”, ao Meca shopping, ao Imperial, a uma boate que ficava em cima da padaria 2001; além das festas na AABB, ACDP e no Realce. Quem viveu essa época deve lembrar das vaquejadas no Puxa-boi. Eram comuns as festinhas nas casas de colegas do colégio, ou nas casas de colegas dos colegas.
Se o webleitor é de um tempo mais longínquo, lembrará dos carnavais do clube Ipiranga e da ACDP; da boate Snob, de Tony Drinks, do Ferrão. Mergulhe em sua memória, e brotará do coração boas lembranças, pois faz um bem medonho a alma.
Pois é, no último mês de janeiro fui ao show dos Paralamas, em Natal. A cada música que Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone tocavam, eu viajava nas lembranças da minha adolescência; e bebia mais uma dose, ao som de suas inesquecíveis canções. Tempo bom, onde a juventude vivia longe, muito longe das preocupações.
Odemirton Filho é colaborador do Blog Carlos Santos
Meu prezado Odemirton Filho, para variar, revela-se um craque sobretudo quando se trata de escrever acerca de reminiscências. Aqui está mais um belo exemplo. Sinto que foi passada uma espécie de borracha nas minhas memórias. Não restou muita coisa. Já quanto a você, meu querido, só me resta aplaudir. Abração.
Amigo Marcos Ferreira, obrigado pelo incentivo. Este aluno-fã sente-se com honrado com suas gentis palavras.
Abração!
Memórias são a riqueza de um homem!lindo escrito!
Um abraço, meu dileto Inácio Rodrigues. Pura verdade, as memórias são a nossa riqueza, aliás, é o que devemos acumular no decorrer da vida.
Eita, Odemirton! Vários desses locais eu só podia ficar na vontade. Antigamente que era bom e não sabíamos! Um forte abraço!
Com certeza você curtiu outros locais, uns estão guardados na sua memória, outros, no coração.
Abraço, meu querido amigo.
Caro Odemirton com devido respeito à quem discorda, especialmente as novas ditas gerações ditas universitárias virtuais ou até mesmo reais e seus discos aranhados de sertanojos da vida.
O seu digamos tempo/período de referências e nostalgias no mais que bom sentido. Trata-se de um tempo em que realmente se fazia musicas, poesias e letras, com um mínimo que fosse de originalidade, qualidade e respeito aos ouvidos de quem se prestasse ouvir uma melodia ou letra.
Exemplar raro e incomum de intelectual com formação humanístico- literária rigorosamente acadêmica, mas, que jamais olvidou a cultura popular genuína em suas criações de ordem e matiz cultura originaria. O critico americano do norte Harold Bloom , antes do seu falecimento, não se cansou de proclamar acerca do apagão da cultura em um ocidente destruído e carcomido culturalmente, sobretudo á partir da sua própria natureza arrogante, mercantilista e colonizadora.
Ler o legado de Harold Bloom, ainda que, porventura discordemos de suas posições mais radicais, é uma forma de exercitar a inteligência e a sensibilidade, maiormente quando tratamos da massificação da cultura lato sensu, com seus inegáveis desvios de ordem mercantil, massivista, massificadora, portanto, tornando mais que medíocre e nociva a produção e a disseminação da cultura de um modo geral.