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domingo - 10/11/2024 - 05:42h

Apenas uma página

Por Marcos Ferreira

Ilustração da Freepik

Ilustração da Freepik

Ofereço esta página ao meu amigo Nilson Rebouças, pessoa avessa a textos longos. Nunca leu, por exemplo, nada parecido com Em Busca do Tempo Perdido, Guerra e Paz, A Montanha Mágica, Moby Dick, Os Miseráveis e, muito menos, o caótico Ulisses. Em virtude disso, como já foi dito, pretendo não passar de uma página. E, se possível, tornar estas linhas agradáveis aos olhos dos demais leitores. Sim. Os demais leitores precisam ser contemplados com uma escrita que, no mínimo, valha a pena o tempo empregado nesta breve leitura. Embora pareça fácil, digo que não. Pois essa tarefa de escrever com o mínimo possível de arte não é fichinha.

Eu mesmo (admito sem qualquer pudor) nunca li Em Busca do Tempo Perdido, Moby Dick nem Ulisses. Até iniciei a leitura desses calhamaços numa determinada época da minha vida, no entanto joguei a toalha, fui derrotado pela natureza gigantesca e enfadonha, principalmente, do macarrônico Ulisses.

Aqui com os meus botões, já de olho para não me estender muito nesta crônica direcionada e metrificada, fico pensando como esses livros tão musculosos encontraram editores e viabilidade editorial quando de suas primeiras edições. Isso num tempo em que os meios de confecção e comercialização de romances parrudos como os que citei eram extremamente dispendiosos e sem os recursos de marketing de hoje em dia. Quero supor que alguns autores tiveram que vender um rim para custear a impressão de romances-rios dessa quilometragem. Imagino quantos editores se recusaram a investir num desconhecido como Dostoiévski no começo de carreira deste que é, no meu ponto de vista, o maior romancista e pensador russo de todos os tempos.

Bom. Fiquemos por aqui. Antes que meu amigo Nilson se canse desta crônica de quatro parágrafos e abandone a leitura. Até porque, convenhamos, vivemos uma era em que muitos só se interessam por conteúdos (sobretudo por escrito) bem mastigadinhos. As redes sociais, que têm a sua importância, também concorrem para a preguiça mental do leitor habituado ao fast-food da informação.

Marcos Ferreira é escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Ayala Gurgel diz:

    A pressa para fazer algo anda de mãos dada com a ansiedade, o que só fica bem para nos salvar do perigo.

  2. Amorim diz:

    Bom dia caro poeta; ler suas crônicas dominicais sempre me é agradável e aprendizado.
    Um abraçaço

  3. VANDA MARIA JACINTO diz:

    Bom dia, Marcos!
    É sempre um grande prazer ler as suas crônicas!
    Em tempo…adorei o nosso encontro!

    Abraços

  4. Bernadete Lino diz:

    A homenagem em vida é a mais importante! Ter uma página é uma grande honra. Ser seu amigo, também o é! Nilson Rebouças, com certeza, deve ter ficado feliz! Grata por mais uma crônica dominical. Boa semana!!!

  5. RAIMUNDO ANTONIO DE SOUZA LOPES diz:

    Não tenho nenhum problema com textos longos, claro, desde que eles consigam me absorver. Guerra e Paz, por exemplo, é instigante. Mas tenho percebido em mim, de uns tempos para cá, que tenho feito leituras quase que dinâmicas. Acho que é uma tendência dessa sociedade chamada líquida. Sei lá.

  6. Valdemar Siqueira Filho diz:

    Que delícia de texto em conformidade com a honestidade. Parabéns. A verdade é múltipla, nunca neutra, assim gosto do ponto de vista dos escritores latino-americanos, que justificam, como Oswaldo de Andrade, aqui no Brasil o texto curto, veloz, que segundo Michel Serres: “Velocidade é a elegância do pensamento”. Acredito que estes textos longos dialogaram principalmente com duas questões, uma relativa a cultura do ócio das classes sociais que podiam ler estes textos, a outra questão está vinculada ao clima que apresenta temperaturas de zero grau ou menos na maior parte do ano nestas regiões. Nosso problema é que temos calor e praia, que muda tudo sobre os hábitos de clausura para leitura e escrita. Grande abraço.

  7. Fátima Feitosa diz:

    Maravilhoso texto.
    Não gostar de textos longos também me define. Tenho o cuidado de escrever textos curtos porque eu me canso. Nunca leio um livro até o fim. Não preciso chegar ao final de um livro pra saber o seu conteúdo.

  8. Odemirton Filho diz:

    Há dias que leio a Montanha Mágica. É uma empreitada difícil. Conseguirei, se Deus quiser.
    Abraços, meu amigo.

  9. Marcos Pinto. diz:

    Homi de Deus !. Deixaste este desconfiado provinciano a matutar sobre a minha esqualidez literária, tão comum em habitantes de pequenas urbes sertanejas, onde o tempo parece correr em conta-gotas. Inexistia Bibliotecas públicas para proporcionar leituras amiúde de obras ditas Clássicas. De sorte que em minha pacata e hospitaleira e nunca esquecida terra natal Apodi existia modesta Biblioteca pertencente à FUNDEVAP (Fundação para o Desenvolvimrnto do Vale do Apodi) detentora de modesto acervo literário, destacando-se as famosas Coleções de Obras de Machado de Assis, José de Alencar, Graciano Ramos e José Lins do Rêgo. Esta Biblioteca tinha a gentil e dinâmica e admirável Professora Adete Mota como competentíssima e diligente Atendente. Foi lá onde dessedentei minha sede do Saber. Lá se vão 50 anos
    no túnel do tempo (Tenho 65 anos). Foi ckm esse legado que perlustrei como Mestre
    de as Salas de Aulas dos tradicionais Colégios Dom Bosco, Diocesano e Sagrado Coração de Maria. Pense num matuto desengonçado e abstêmio etílico !. Faltou um grau para que eu atingisse a Beatificação em vida. Essa é de lascar. Saudade dos Filósofos populares Frei Molambinho, Quincas Berro D’água e Afonso Boca-Rica. Por onde andarão?. SÓ me resta abrir o “Baú da Memoria” para pegar lá no fundo o Almanaque do Biotônico Fontoura e contagiar-me com as imagens mostrando a diferença entre o modus vivendi das famílias do rico e do Pobre. A do Rico ostentando um pequeno e vistoso Caminhão dirigido por um gorducho pai ao lado de robusta e corada esposa, com os filhos muito bem acomodados
    na carroceria, passando em estrada em que, em um lado mostrava crianças magras e
    pálidas convivendo ao
    lado de um charco de
    água servida onde porcos esbaldavam-se.
    Saudade da minha infância provinciana, que já vai dobrando as esquinas da vida…

  10. Marcos Pinto. diz:

    Em adendo ao primeiro comentário. Onde se lê …Inexistia Bibliotecas Públicas, leia-se INEXISTIAM Bibliotecas Públicas.

  11. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAUJO diz:

    Para quem realmente gosta de ler e, principalmente tem a capacidade de ler grandes obras e obras grandes…

    Que tal…

    MEMÓRIAS DE ADRIANO da francesa Marguerite Yorcenar

    Trata-se de um livro/romance de apenas 800 e poucas páginas…!!!

    CAPITCHE….!?!

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