Por Marcos Ferreira
No meu tempo de criança (não me perguntem quando) a gente era menino besta e pobre e se alegrava com qualquer besteira que vencesse os obstáculos do nosso nível de pobreza. Nem que fosse de maneira provisória. Calma aí! Não vou falar de coisas tristes, de sentimentalismos. Não. Sosseguem o facho. Somente quero contar uma história de algumas almas (pessoas) tal qual a história se deu.
— Sem assunto polêmico! — alguém dirá.
— Certo, vamos adiante! — eu respondo.
Convém, portanto, que não descambemos para a pieguice. Nada pior do que choramingarmos por brinquedos quebrados ou nunca entregues pelo Papai Noel, aquele velhinho do Polo Norte que supostamente possui o dom da ubiquidade, capaz de estar em diversos lugares ao mesmo instante. Menos onde morávamos. Ali, em vez de chaminé, tinha apenas um fogão a lenha retinto, cheio de tisna.
A infância, por mais precária que seja, é mágica. Embora alguns imaginem que não, também já fui criança. Essa época pueril era motivo de júbilo quando, por exemplo, fazíamos uma simples turnê em uma manhãzinha de domingo no grandioso e único shopping desta cidade: o clássico Mercado Central.
Aquilo era o must, inclusive da classe rastaquera, dos “bem de bolso”, que cedinho acorriam ao Mercado com seus baldes (de plástico ou alumínio) para enchê-los com toda sorte de mercadorias, provisões. Eu, meu pai e irmãos ficávamos meio à margem desse intransponível círculo dos baludos. Isso mesmo!
Nosso orçamento era pequeno, apertado. Aqui apertado é uma modalidade de eufemismo. Porém a vida era modesta e boa. Não importava que o senhor João Batista Figueiredo só soubesse nos mandar apertar o cinto.
Ainda não havia para nós Rita Lee nem Caetano. O Sítio do Pica-pau Amarelo era a estrela que fazia os olhinhos de pirilampo da gente brilharem. Isto quando tínhamos ao menos uma tevê Telefunken em nossa casa.
Televisor, a propósito, era artigo de luxo e durava pouco no lar dos Ferreiras. Porque o meu pai, acossado pela inflação galopante, sempre encontrava um comprador oportunista.
Eis, para a decepção de alguns, o assunto polêmico de hoje. Quem sabe noutro ensejo eu discorra acerca de eutanásia, racismo, vida após a morte, tráfico de pessoas, ou sobre uma certa base de extraterrestres na Antártida.
Marcos Ferreira é escritor
Fiz uma pequena viagem nos alfarrábios da minha mente, lembrei que uma dos programas da minha infância, era ser levado por minha mãe para passear no Circular. E claro, nessa idade, ainda não pagava, tinha que passar por baixo da roleta.
Um programa tão simples aparentemente está passeio, porém via boa parte da cidade, interessante como segundos levaram-me para décadas passadas e um sorriso despontou no meu rosto!
Grato pelo texto meu amigo Marcos!
Caro amigo e professor Tales Augusto,
Você mostrou conhecer bem essa infância de pés descalços.
Grato por seu depoimento e leitura.
Forte abraço.
Que bacana me levou a minha infância no interior do sertão que nem mercado Central tinha só uma bodega para dar assistência a 50 famílias que moravam lá. Essas histórias que hoje os pais não tem para contar para os seus filhos e netos. Bom domingo para ti.
Prezada amiga Eliza Fernandes,
Que bom que você me acompanhou nessa pueril viagem no tempo. Grato por presença e opinião neste espaço. Ótima semana para você e até domingo.
Polêmicas à parte, mas os apartes não, a infância foi-se, não em vão. Triste é saber que vai-se, sem ter sido, para milhares de crianças que ainda não conhecem o televisor nem os encantos de Lobato. É isto, né?!, Como lido nas entrelinhas do amigo escritor, este tipo de polêmica não polemiza, nem poliniza os afãs dos guardiões dos temas polêmicos. Bom domingo
Caro amigo e escritor Ayala Gurgel,
Em breves palavras, com sua acuidade humana de sempre, você sintetizou o que precisei de uma página para dizer. Porque tais situações de escassez e exclusão não são coisas só de épocas distantes. Crianças do nosso tempo experimentam privações iguais e até piores.
Forte abraço e até breve.
Ah minha infância!
Menino não presta e eu me incluo; o divertimento era fazer danação sem maldade.
Isso nos dava asas a imaginação que colocava a mente e, funcionamento.
Nunca ficávamos parados.
Hoje fico triste ao ver as crianças com comportamento UNICO pois são guiados, salvo raras exceções, pelo YouTube e tais redes sociais.
Um abraçaço.
Caro amigo Amorim,
Até hoje você não me parece ter mudado muito.
Continua o menino arteiro e traquino de sempre.
E isso não é ruim.
Abraço fraterno e ótima semana para você.
Mudei mesmo não; continuar criança com imaginação sem ” virar” Zumbi da net é um privilégio!
Obrigado!
Viajei no tempo! TV, era amorcegando nos postigos das casas ricas. Diversão era correr nas ruas! Uma vez meu pai vendeu um liquidificador, de copo de vidro, para que eu pudesse ter a farda escolar e o sapato novos, no desfile do 7 de setembro. Argumentei que podia ser liberada caso apresentasse um atestado de pobreza, ao que ele argumentou: nunca vou deixar você passar uma vergonha dessas. Anos depois, ele voltou ao amigo e resgatou o liquidificador; era uma questão de honra pra ele. Comprou de volta. Passar no concurso do BB me deu a oportunidade de mobiliar a casa dos meus pais e proporcionar-lhes outros confortos. Nunca acreditei em Papai Noel. Não tive bonecas de plástico. Tinha aquelas bruxinhas de pano compradas em feiras livres. Não guardei traumas; sempre me dediquei aos estudos e meus boletins eram o orgulho dos meus pais. Como toda criança, aprontei muito! Apertar o cinto eu conheci desde cedo! Mas sinto saudade daquele tempo!
Cara amiga Bernadete Lino,
A cada comentário seu mais me fica a impressão de que você bem que poderia enviar uma crônica para este espaço. Talento e assunto você tem sobrando. Sua escrita muito me agrada.
Ótima semana para você.
A sua crônica me remeteu a infância quando não sabia o que era ser pobre e tudo era festa. A única coisa povoava meu sonho era ter uma bicicleta que nunca tive. A riqueza era vista nas histórias de Reis e castelos como algo inatingível e inofensivo. O fogão de lenha e a tisna grudada no fundo das panelas que careciam ser ariadas com sabão e areia do Jaquaribe. Tudo lindo e eu voltaria de novo se possível fosse. Um mundo dono e isento de maldades.
Querida Dulce Cavalcante,
Você demonstrou muita intimidade com essas imagens e recordações tão distantes. Especialmente sobre o fogão de lenha com as panelas e tudo à volta coberto de tisna. Mais uma vez, amiga, obrigado por sua presença e opinião neste espaço.
Abraço fraterno e até breve.
_ É Verdade! Bons tempos, “era ruim mas era bom” agente não tinha brinquedos da estrela, velocipe, bonecos falcon, bicicleta BMX nem o tal do “genio” para brincar, Quem tinha esses briquedos…agente conciderava Rico. _ Cada quarteirão do bairro tinha emedia 130 crianças entre meninos e meninas e brincavamos tudos juntos. Uma runma de menino pobre, Más agente tinha: revolver feito com tabuas achadas no quintal, roladeira feita com lata de leite, brincava de tique, esconde esconde,cai no porço, sete pecados, agente entrava nos quintais pra tirar “roubar” goiaba, manga, cajarana e vez enquando perdia um chinelo furado no calcanhar enganchado em um pé de castanhola. _ “Era ruim más era bom”. Tauvez se fosse bom como a infancia dos meninos ricos, não tivesse sido tão bom. _ não sou de escrever más me empouguei.😁
Achei legal demais a infância vista pelo lado criativo e feliz. Eu acho que criança não sabe comparar.. O intelecto na personalidade infantil ainda não está formado para tais avaliações e se diverte muito com o que tem. O trauma fica talvez naquilo que o mágoa psicologicamente. Agueles brinquedos que você citou era s glória. Rio só de lembrar como era bom.
É isso mesmo.
Você, mais do que ninguém, sabe e conhece por experiência tudo isso e muito mais que vivemos naquele tempo de vacas magras e feliz na Avenida Alberto Maranhão, no Bom Jardim. Como diz a canção: velhos tempos, belos dias.
Até o próximo domingo.
Feliz daquela criança que virou gente grande e fez da vida sua própria lição.
É desse jeitinho, caro poeta Nolasco.
A gente perde as asas do tempo de infância, cresce, assume outro mundo cruelmente real, porém não perde a ternura.
Abraço e ótima semana para você.
Excelente texto, parabéns amigo Marcos. Você conseguiu com que eu voltasse as ruas de minha cidade berço Portalegre, foi ali que minha história de vida teve início vendo as matas das encantadas índias Cantofa e Jandi, aonde iniciei meu labor pegando água da bica para abastecer os potes e tanques das residências das famílias que podiam pagar o serviço prestado por uma criança de seis anos de idade. Que lição a vida me impôs e me fez chegar aonde estou, vim pra terra de outros índios, os Monxorós, se lá em Portalegre não vi as índias encantadas como reza a lenda, aqui em Mossoró também não encontrei os lendários habitantes primitivos, mesmo assim fiquei satisfeito pois dos seus descendentes encontrei a hospitalidade de muitos filhos da cidade de Antonio de Souza Machado e da terra de Santa Luzia. Por coincidência o shopping que você conheceu no passado, também conheci, no seu tempo o mesmo denominava-se Mercado Central, no meu tempo era denominado Mercado da Pedra.
Bem amigo Marcos, uma coisa em comum carregamos com o mesmo DNA… as dificuldades compartilhadas em família sempre lutando para viver e sobreviver, e o bom de tudo isso é saber que estamos inteiros e preparados pra continuar sobrevivendo, fazendo da vida o indispensável aprendizado cotidiano, porque viver é uma arte, e todos nós somos atores natos, dirigidos por um mestre supremo chamado Deus.
No mais, vamos em frente que atrás vem gente! Inté domingo.
Querido amigo Rocha Neto,
Em primeiro lugar, meu caro, quero lhe dizer que seu depoimento me deixou emocionado, embora eu já tivesse conhecimento de alguns pontos de sua história e admirável biografia. Você, entre outros, é um espelho para mim, um exemplo de superação e de sobrevivência contra todos os desafios e obstáculos que a vida nos impõe, mesmo que nos tempos mais inocentes de nossa infância. Em segundo lugar, talvez em ordem inversa, quero agradecer por você, sempre com opiniões e depoimentos relevanes, tirar um tempinho entre seus afazeres para vir aqui no Canal do nosso Editor Carlos Santos para prestigiar este cronista deste nosso fim de mundo.
É isto. Até domingo.
Eita! O mercado, aos domingos, era sagrado. E, sim, com baldes ou sacolas feitas de palhas. Tempo de todo tipo de dificuldade; porém, feliz. Tudo se transformava em festa.
Verdade, amigo e escritor Raí Lopes.
A gente arrumava qualquer desculpa, ou motivo, para ser feliz.
Você recordou muito bem a presença das bolsas de palha.
Infelizmente, por razões que nós conhecemos, essas bolsas sumiram.
E o Mercado Central, também conhecido noutra época como Mercado da Pedra.
Apesar das dificuldades, como você disse, foi um tempo feliz.
Forte abraço e até domingo.
Olá, nobre poeta!
Aquela criança ainda brinca e festeja com as palavras num enunciado que nos encanta. Dói menos relembrar a infância com a maturidade, e o olhar criativo das velhas lembranças. Sou suspeita, pois sempre tive, e tenho, um carinho especial pela tradução do seu pensar, enquanto escritor. Segue um abraço do tamanho do seu talento, aqui das bandas do Norte. Cheiro na nossa amada Natália! 👏
Querida poetisa Rizeuda da Silva,
Você disse bem: aquele menino besta de outrora ainda habita em mim.
Essa companhia benfazeja permanecerá comigo para todo o sempre.
Porque a infância é algo de que nunca nos separamos.
Não importa o quanto amadureçamos ou envelheçamos.
Você também levará consigo essa época que nunca nos abandonará.
Um grande cheiro para você aqui das bandas do Nordeste.