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domingo - 09/07/2023 - 04:34h

Boi de piranha

Por Marcos FerreiraBoi de piranha

Hoje em dia, cansado de guerra, tenho enorme dificuldade de me ocupar com a vida alheia. Especialmente a de políticos, celebridades e subcelebridades. “Você é o famoso quem?”, às vezes pergunto em silêncio. Então, por mera higiene mental, busco tratar de outros assuntos quando escrevo. A exemplo desta crônica que versa justamente acerca de minha certeza de que não vale a pena oferecer palanque a determinados indivíduos.

Porque já existem tantos sujeitos por aí descendo a ripa na cuca de fulano e beltrano e outra ruma lambendo os bagos dessas pessoas, que me sinto inútil, um risco n’água. É como servir de isca, ser usado como boi de piranha.

Isto não quer dizer (prestem bem atenção!) que tudo o que se escreve nos periódicos ou se estampa nos veículos de mídia televisiva é futilidade. Não. Nem oito nem oitenta. Considero razoável, porém, que exista um meio-termo, um equilíbrio. Digo isto por conta do besteirol (principalmente o da televisão com alguns programas de auditório) que me embrulha o estômago.

Sei, evidentemente, que se trata do estômago de uma minoria. E haverá quem nos tome por caretas, quadrados, etc. Pois a boiada que se deixa tanger por essas atrações é qualquer coisa esmagadora.

Repito que não estou generalizando. Seria injusto. Nem só de besteiras é constituído o globo midiático. Há exceções em toda parte e cabe a cada um escolher para si o conteúdo que lhe interessar. A impressão que tenho, no entanto, é que as opções vão ficando mais escassas a cada dia. Tanto que muito raramente assisto a alguma coisa da promíscua TV aberta, onde todo cuspidor de microfone é artista genial, fora de série, galáctico.

Por essas e por outras, vejam só, é que de quando em quando também me irrito, os nervos tremem e me dá vontade de descer o malho, apontar essa ou aquela estrela, dar nomes aos bois que formam a referida manada fútil.

Conforme prometi, não vou atacar nem defender ninguém. Quer seja no campo artístico ou na seara da política partidária. Não me permitirei cair em tentação, deixar-me envolver na pancadaria nem na bajulice. Temos elementos qualificados, competentes, com estômago forte para enfrentar esse métier. Não serei eu, enfim, a me queimar com terceiros enquanto fulaninho fica só na moita, dando corda aos incautos.

Hoje quero paz, sossego. Chega de guerra e de me sacrificar pela boiada. Cansei. Quem quiser que enfrente o cardume e se entenda com as piranhas.

Marcos Ferreira é escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Amorim diz:

    Cansei, tô rebelde. Nem minha revolta esse escatológico país merece. É pura perda de tempo é energia.
    Perguntar não ofende; Fernando Collor de Melo foi condenado pelo Supremo a prisão.
    Já foi?
    Alguém mais fala sobre o assunto?
    Pois bem.
    Um abraçaço

    • Marcos Ferreira de Sousa diz:

      Prezado amigo Amorim,
      Há muita gente em situação parecida com a de Collor.
      Mas, como você disse, e estou de acordo, esse país não vale tanto quanto supomos.
      Ainda deve tomar algum jeito, porém vai demorar um bocado.
      Forte abraço e muita saúde para você.

  2. ROZILENE FERREIRA DA COSTA diz:

    Bom dia, pessoas. Fazer esta leitura dominical, indubitavelmente é uma das melhores coisas. Em primeiro lugar, porque a escrita de Marcos nos surpreende todos os dias e impreterivelmente. Em segundo, não há como não aprendermos, uma palavra aqui, outro léxico ali. Uma nova lição, um.novo aprendizado. Eu sou fã. Abraço em Nat. Obrigada, Marcos.

    • Marcos Ferreira de Sousa diz:

      Querida amiga Rozilene Ferreira da Costa,
      Agradeço por seu carinho e incentivo de sempre.
      É muito bom contar com sua leitura e presença neste espaço.
      Sua inteligência e sensibilidade são encantadoras.
      Ótima semana e um beijo para você e Edu.

  3. Valdemar Siqueira Filho diz:

    Não consigo críticar esta idéia, concordo com ela em partes, mas sei que gente que pensa é a minoria da minoria, então acredito que as vezes podemos entrar em uma briga, mas não precisamos acreditar nela. Como diz o ditado oriental: Quem todo dia mata dragão, vira dragão. Pensamento é coisa rara, a mídia televisiva compete hoje com a internet que pode apresentar conteúdos muito melhores ao mesmo tempo que consegue veicular produtos inferiores a tv aberta. Então a briga, de fato, é com as mídias, o nossa é com a informação e cultura nas distintas áreas. Abraços, obrigado pela sua reflexão sempre oportuna.

    • Marcos Ferreira de Sousa diz:

      Prezado amigo Valdemar Siqueira,
      É difícil, quase impossível, a gente transitar em meio a esse universo de conteúdos e informações de má qualidade (nem tudo) sem nos deixarmos contaminar e emburrecer um pouco. A massificação é poderosa. Quando nos damos conta, já estamos com os pés na lama, involuntariamente. Isso considerando, como você disse, que somos a minoria da minoria e supostamente temos certa reação crítica perante a futilidade e banalidade. Mas o panorama é muito confuso e misturado. Tanto que ora me privo de certas considerações.
      Forte abraço e ótima semana para você e Bete.

  4. Odemirton Filho diz:

    Pois é, amigo. Nada melhor do que nossa paz e sossego.
    Excelente crônica, como sempre.
    Abraços! E uma abençoada semana.

    • Marcos Ferreira de Sousa diz:

      Eu lhe desejo o mesmo, meu caro.
      Obrigado pela leitura e carinho. Muita paz, saúde e sossego para você e sua família.
      E não esqueçamos de apertar o Rocha Neto por aquele livro que ele tem nos sonegado faz tempo.
      Carlos Santos precisa arrumar um tempinho na agenda para pressionarmos o Rocha.
      Abraços e boa semana para vocês.

  5. Bernadete Lino/ Caruaru-PE diz:

    Amei a crônica: adorei a expressão “onde todo cuspidor de microfone é artista genial, fora de série, galáctico “. Igual a você, experimento um desencantamento com tanta futilidade. Já fiz papel de boi de piranha quando defendia algo coletivo e me via só no debate; cada um na moita e eu sendo sacrificada. Hoje observo mais, não me deixo usar, percebo as intenções de aproximação pois, agucei meu sensor. Isso não quer dizer que vou me fingir de morta. Hoje faço a pesquisa de entorno antes de me arriscar. Sei que, igual a você, sou um risco na água. A vida alheia, a fofoca, os besteiróis, nunca foram o meu interesse. Não dou palanque a quem não tem conteúdo. Percebo que fiquei um pouco amarga com o passar dos anos. Acredito que isso deve-se ao fato de que tenho estômago delicado e a bílis acaba subindo pela garganta e eu tenho dificuldade de vomitar; literalmente!

    • Marcos Ferreira de Sousa diz:

      Amiga Bernadete Lino,
      É como eu disse: estou cheio dessa peleja inglória, cansado de oferecer a cara à tapa enquanto outros indivíduos apenas dão corda, instigam a gente a se manifestar, protestar. Isso é nadar contra a corrente. Desperdiçamos nossas forças e não vemos melhora nesse estado de coisas que significa, em suma, este país ainda sem jeito. Creio que as coisas vão melhorar qualquer dia, sendo bem otimista, porém devemos esperar sentados.
      Forte abraço e uma ótima semana para você.

  6. Francisco Nolasco diz:

    Boa tarde, amigo Ferreira.
    Vou resumir o que realmente queria dizer pois apaguei o texto pronto que ia enviar: O Estado brasileiro em esfera geral ( município, estado, federação) minúsculos mesmo, vivem a mercê de uma estrutura capenga, reflexo do resultado da transformação da ideologia para a conveniência.

    • Marcos Ferreira de Sousa diz:

      Querido poeta Nolasco,
      Obrigado pelo estímulo e comentário mesmo resumido e não menos certeiro.
      Faço minhas suas palavras.
      Forte abraço.

  7. Fátima Feitosa diz:

    Vida de gado. Povo marcado. Povo feliz?!
    Comungo com o mesmo pensamento.
    Aliás é muito bom encontrar alguém que pense como eu porque muitas vezes penso ser de Marte.
    Abraço!

    • Marcos Ferreira de Sousa diz:

      Amiga e escritora Fátima Feitosa,
      Excelente e oportuna a sua recordação da música do Zé Ramalho.
      É desse jeito, querida. E sim, somos de Marte.
      Fore abraço.

  8. Rocha Neto diz:

    “Falem bem ou mal, mas falem de mim”, pense numa frase que poderíamos denominar de meio a meio, pois se alguém fala de bem tem o agradecimento e a simpatia como premio, já se falar de mal, aí a coisa é bem diferente. Então vamos seguir com o que este grande cronista Marcos Ferreira, expressa na primeira frase de tão verdadeira crônica em tela.
    Digo isto, porque devemos entender que as pessoas não tem o dever ou obrigação de ser como a gente imagina, pinta ou desenha… então vamos procurar viver e conviver com cada criatura humana, ao modo de como elas procuram nos mostrar como são, e que não estão a rogar de cada uma nós, o seu julgamento.
    Viver e não ter vergonha de ser feliz (plagiando o grande compositor Gonzaguinha), é o que cada criatura tem mesmo é que fazer, ou ao menos tentar, mas claro, sem incomodar aos que estão ao seu derredor.
    Viver a vida, sempre foi e será um livre arbítrio para cada filho(a) que Deus colocou neste nosso universo de imensurável grandeza, pois neste mundo devemos lembrar sim, que somos apenas mais um passageiro que se encontra numa estação sem data definida para embarcar quando Deus assim determinar.
    E assim sendo, é bom lembrar para muitos curiosos e afeitos a falar da vida alheia, o seguinte: “vamos deixar de fazer da vida dos nossos semelhantes, objeto de descarrego para nossos problemas, quem cria casos ou causos; que se encarregue de resolvê-los, sem o envolvimento dos outros, pois não viemos ao mundo para julgar e nem ser julgados.”
    Marcos Ferreira, meu nobre amigo. Obrigado por mais um presente eternizado nas letras.
    E inté o próximo domingo!

    • Marcos Ferreira de Sousa diz:

      Querido Rocha Neto,
      Mais uma vez, coisa esta que reflete a sua preciosa e cristalina visão de mundo, o amigo nos traz um depoimento rico e bem fundamentado. Também faço minhas as suas palavras. Grato pelo carinho e incentivo.
      Forte abraço e muita saúde e paz para você.

  9. RAIMUNDO ANTONIO DE SOUZA LOPES diz:

    Como uma vez cantou Vinicius e Toquinho: “passar uma tarde em Itapuã, ao sol que arde em Itapuã, ouvindo o mar de Itapuã, falar de amor em Itapuã…

    • Marcos Ferreira de Sousa diz:

      Exatamente, meu caro escritor Raí Lopes.
      É também preciso que a gente desfrute do mínimo possível de sossego, de paz, sombra e água fresca. Passar uma tarde em Itapuã é uma boa opção. Quem me dera, amigo.
      Abraços.

  10. Airton Cilon diz:

    Depois que tiramos a extrema direita do poder e saber de sua inelegibilidade, me dá uma certa paz… As brigas de internete diminuiram para mim, já que há meses não sofri nenhum bloqueio por xingar extremistas. Abraços poeta – Namastê!

    • Marcos Ferreira de Sousa diz:

      É isso, poeta Airton Cilon.
      Parece que a paz vai aos poucos se firmando nas redes sociais.
      Não se engane, porém. A brasa moribunda dos extremistas não se apagou. Segue queimando sob as cinzas. Porque extremismo sempre é algo negativo. Não importa de qual lado.
      Abraços.

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