Por François Silvestre
Saltei do ônibus debaixo de uma neblina que imprensava os ossos. O Alecrim, que conhecia de nome e fama, era mais do que pensara.
Maior de tamanho do que imaginara. Mais gente do que jamais vira tantos juntos. Caicó, a maior vista até então, recolhia-se pequenina.
O Diocesano, que fora instrução e Casa, seria apenas retalhos brancos da despedida de inocência. Como nos versos de Navarro: “Vestes pretas cobrem meus pecados mortais./ Roupas brancas, nunca mais”.
Depois, para o Centro. E da Rio Branco para a Casa do Estudante. Uma nova morada? Muito mais do que isso. Uma nova vida pedindo arrancho ao mundo. E a novidade é a descoberta diária, a cumplicidade horária e o alumbramento que se estabelece nas relações da vida com a adolescência.
Casa do Estudante. A fisiologia, secundária. A vida cobrava sonhos. E o estômago não se presta ao sonhar. A bóia era escassa. A bandeja dividida em partes, com poucas delas ocupadas.
Feijão macaça, preto pela idade, em cujo caldo de água e óleo boiavam gorgulhos. Na pequena parte, à direita, uma batata doce. Na parte esquerda, um naco de rapadura. Na parte de cima, a “mistura”, que podia ser farofa de ovo.
Quando faltava água, descíamos até ao Paço da Pátria, onde havia um pequeno cacimbão. Com uma panela de alumínio, amarrada à tampa da cacimba, tomávamos banho.
Ao final da tarde ou início da noite, de roupa trocada, saíamos para a rua. Para o colégio, nos dias comuns; para o passeio nos fins de semana. Não permitíamos a ninguém o direito à piedade. Pobres e dignos, feito um mendigo espanhol. Éramos iguais, mesmo entre conhecidos de famílias ricas, que estudavam nos colégios particulares.
O Salão Nobre, de pobre nobreza, amparava estudos e entusiasmo.
Nossos colégios eram públicos. Tão bons quanto os outros. Atheneu, Pe. Miguelinho, Anphilóquio Câmara. Geralmente os mesmos professores. Disputávamos em pé de igualdade as aprovações nos vestibulares.
Desses colégios; Marista, CIC, CPU, eu vim a ser professor, preparando alunos para o vestibular. Alunos que hoje são muito mais importantes do que eu, e ainda me prestam a homenagem com mimos e elogios. Com amizade e generosa deferência.
Era um tempo de luta. Sem heroísmos. Apenas a oferta que a História faz, a algumas gerações, por escolha do destino, do desafio à edificação de sonhos. E não se edifica um sonho coletivo sem desprendimento e generosidade.
Mas havia uma Pátria. Mesmo dividida. Nos porões, o miasma de sangue e sêmen no útero fedido dos seus cárceres. No escondido das ruas, a penumbra da resistência. “Um estranho cheiro de súplica”.
Se não a Pátria ingênua de Olavo Bilac, do Hino à Bandeira, uma Pátria mendigando amparo. E a crença da feitura.
E hoje, cadê a Pátria? Aí está. Brincando de cabra-cega.
Té mais.
François Silvestre é escritor
99,99% dos brasileiros não sabem o significado de patriotismo. Seja ele rico, pobre, branco, negro, jovem, adulto, gordo ou magro
Existe no brasil um falso patriotismo que é exercido pela população a cada quatros anos, e apenas durante os jogos da seleção brasileira. Isso não é patriotismo nem aqui e nem na China. É torcida por um titulo.
Fim dos jogos, as bandeiras, a garra e os gritos são guardados/poupados e só reaparecem quatro anos depois.
Fidel Castro no Além.
Um cordel de Raimundo Cazé descreve o encontro entre o ditador cubano e Satanás
-o-
Primeiro ele foi ao céu
Onde foi mal recebido
E lá não pode ficar
Por ser ateu conhecido
Foi então para o inferno
Tristonho e desiludido
Na casa do satanás
Ele deu logo de cara
Com um velho guerrilheiro
O médico Che Guevara
Junto com Sadam e Chavez
Numa recepção rara
Cara a cara com o capeta
Fidel foi interrogado
Fazia muita careta
Ao falar do seu passado
E toda vez que mentia
Era ali chicoteado
Tiraram-lhe logo a barba
Puxando fio por fio
Disseram que aquilo era
Um pequeno desafio
O ditador se tremia
Como se fosse de frio
No seu quarto de dormida
Havia uma fogueira
Aquecendo o ambiente
Como uma frigideira
Um colchão de pedregulho
Numa cama de madeira
Foi o médico Che Guevara
Que para o diabo apelou
Para que tivesse pena
Do colega ditador
Que quando foi presidente
Somente o bem praticou
Che Guevara convenceu
O temível satanás
De que Fidel poderia
Criar um clima de paz
Entre o céu e o inferno
Como na terra se faz
Daí por diante o demônio
Tratou Fidel com carinho
Certo de que poderia
Trilhar um novo caminho
Coisa que nunca ninguém
Conseguiu fazer sozinho
Desconfiado da ideia
De paz com o reino de Deus
Satanás disse depressa
Que o diabo tem os seus
Passando assim a seguir
O exemplo de Mateus
Chamou Fidel a um canto
E logo ali quis saber
Que exemplo ele tinha
Para lhe oferecer
Foi aí que o ditador
Resolveu esclarecer
O meu maior inimigo
Foi os Estados Unidos
Durante 50 anos
Estivemos divididos
Mas agora temos paz
E está tudo resolvido
Mas o diabo nesse instante
Surpreendeu o Fidel
Disse que não aspirava
Fazer as pazes com o céu
E que preferia mesmo
O seu destino cruel
Chamou Guevara pra perto
E disse meu bom amigo
Seu colega Fidel Castro
Está livre de castigo
Você merece atenção
Pois sempre foi bom comigo
É meu médico predileto
Nada posso lhe negar
O Fidel é muito esperto
Mas eu vou lhe ajudar
Criando um departamento
Para ele comandar
Fidel Castro estremeceu
Naquele raro momento
E ali se ofereceu
Cheio de contentamento
Para criar no inferno
O setor de fuzilamento
O diabo respondeu logo
Isso aí tá superado
Fuzilar quem já morreu
Não diminui o pecado
Procure outro caminho
Que eu olharei com cuidado
Fidel sugeriu depressa
Criar um banco de dados
Dizendo a hora é essa
Não vamos ser atrasados
Devemos saber depressa
Quem são nossos aliados
Satanás ficou alegre
Com a ideia em questão
Prometeu dar todo apoio
Em qualquer ocasião
Para que o banco de dados
Não fosse uma ilusão
Uma semana depois
O banco estava criado
Um acervo digital
Com nomes selecionados
Onde o velho Raul Castro
Foi o primeiro anotado
Veio o Kim Jong – un
O ditador coreano
Também Nícolas Maduro
Líder venezuelano
E ainda evo Morales
O índio boliviano
Fidel relacionou Lula
Como grande companheiro
E que muito ajudou Cuba
Com doação em dinheiro
Junto com Dilma Rousseff
Num acordo verdadeiro
Outro que entrou na lista
Foi o preso Zé Dirceu
Que segundo o ditador
Foi um bom aluno seu
E que treinado em guerrilha
Tudo o que quis aprendeu
Fidel destacou Dirceu
Como um ser iluminado
E que nunca se excedeu
Quando esteve exilado
E que hoje na prisão
Tem sido bem comportado
Ficou então comprovado
Que satanás e Fidel
Caíram um para o outro
Como a sopa no mel
E que juntos lutarão
Para derrotar o céu.
FIM
(Augusto Nunes – Jornalista de Veja).
o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o
”Ofereço esses versos a todos os simpatizantes de ”Fudel” Castro e do Lula ”Amigo” da Silva”.
Residi por 06 anos na casa do estudante, hoje em pedaços, que vergonha ao Estado brasileiro. Mais 06 anos de residência universitária de petrópolis, valeu a pena. A casa do estudante foi um celeiro e um trampolim para muitos que ascenderam na vida e à família de muitos alto oestanos,ajudando a quebrar o ciclo da pobreza peremptoriamente presente na nossa labuta da vida. parabéns pela recordação que muitos viveram umarizalense dos cajuás. sou seu admirador e vizinho/patuense!
Passeio nos caminhos de sua crônica, François Silvestre. Ótimo passeio.
Hoje, a casa do estudante de Natal parece mais um presidio mal assombrado que ficou de pé após a 2ª guerra.
Naide e Carlos Alberto, seus cometários melhoram meu texto. E afagam meu Domingo!
NOTA DO BLOG – Eu, só espio!
Kkk
Procure saber e veja a reação de líderes mundiais após morte de Fidel Castro
LULA2018