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domingo - 15/05/2022 - 04:00h

Café novinho na casa velha

Por Marcos Ferreira

Acordo a esta hora (pouco mais de meia-noite) e não tenho expectativa alguma de retomar o sono. Parece que as substâncias prescritas pelo Dr. Dirceu Lopes se foram na “festa de espumas” de que nos fala Vinicius num de seus sonetos. É isso, dei uma baita mijada e acho que os antipsicóticos foram juntos. Até mesmo o Rivotril e o Haloperidol. Este último escalado para combater minha psicose (medo) de ir ao banheiro à noite (pois meu banheiro é fora da casa) e topar com um leão.xícaras, café

Imaginem uma coisa dessas! Doido é doido! Agora, já com as mãos devidamente lavadas, penso naquela turma do Canal BCS (Blog Carlos Santos) e no miolo de pote que alguns de nós volta e meia engordamos sobre tomarmos um café novinho nesta casa velha. Odemirton Filho promete trazer bolachas da padaria Meçalba, Carlos Santos (ex-homem dos suspensórios) empenha outras iguarias.

Por último, para a minha honra e felicidade, quem vem se balançando para visitar este humilde domicílio é ninguém mais, ninguém menos que o senhor Rocha Neto. Exato! O homem do irresistível Prato de Ouro. Imaginem vocês eu aqui em casa com uma trinca dessas de reputados extratos da sociedade mossoroense.

Primeiramente, para não passar maior embaraço, eu terei que adquirir (sem ter de onde tirar) uma grana para comprar um jogo de cadeiras X com a clássica mesinha de centro.

Para fechar o quarteto, já contanto com as cadeiras X e duas de plástico que possuo, não poderia faltar o leitor Amorim, a quem só conheço por meio das suas (dele) interações enquanto leitor comentarista. Depois disso é torcer que não seja uma tarde de chuva, tendo em vista que este meu cafofo possui duas amplas áreas de chuva — uma entre a sala única e a cozinha e outra situada num quarto.

Nesta casa velha, então, com banheiro externo e teto chuvar, piso e paredes no estilo queijo suíço, tomaríamos um café novinho e de alta qualidade sob a testemunha pendular das picumãs e ao som do passaredo no quintal.

Temos ainda minha gatinha Pitucha, que no último dia 6 completou quatro meses, a assistir a tudo ressabiada, com uma ou mais pulgas atrás da orelha. Sim, vez por outra Pitucha usa das garras da patinha traseira para se coçar. Talvez seja meramente cacoete.

Outro ilustre leitor que me faria falta aqui, passando a formar um quinteto, seria o amigo e gramático (dos bons!) João Bezerra de Castro, patrimônio intelectual e afetivo que me foi presenteado pelo poeta Francisco Nolasco. A propósito, em data recente, Francisco Nolasco apareceu-me para uma rápida visita. Não podia se demorar, pois ele alegou ter deixado o menino no fogo e o leite chorando.

Nesta minha pequena cafeteira (Nolasco é testemunha) produz-se um dos melhores cafés de Mossoró. A casa é estiolada, mas a rubiácea é um luxo. De quebra, escuta-se, baixinho, um pouco de blues. Se a visita não curte blues, escuta assim mesmo.

Posso até oferecer um pouco de Chopin, Korsakov, Stravinski, Dvorak, embora, assim como o poeta Aluísio Barros em relação aos seus galos tenores, eu já tenha sido acusado de torturar meus vizinhos com esses “sons esquisitos”.

Outrora esta casa, em condições menos depauperadas, já contou com uma mesa tomada por ilustres extratos da sociedade moscovita. Desde médicos, juízes, engenheiros, músicos, jornalistas, artistas de um modo geral, políticos, sindicalistas e até um ex-vice-prefeito sangue bom, além, claro, de muitos espécimes da fauna literária. Mas, como o tempo contra tudo atenta, essa nata picou a mula.

Alguns, decorridos uma porção de anos, voltaram a me frequentar, e aqui eu os recebi e recebo com efusiva bonomia e bem-querença. Outros mais seguem carrancudos, de cara fechada, trocando de calçada quando me encontram no passeio público, entretanto lhes devoto compreensão.

São os extraviados, passam longe deste endereço periférico, contudo não os posso julgar. São pessoas de bem, tipos de coração admirável e com qualidades que não me cabe passar uma borracha.

Bom, agora é hora de jogar a toalha. O segundo Rivotril está mostrando sua força. É uma temeridade seguir redigindo. Perdoem os eventuais equívocos de ortografia, sintaxe e digitação. Meus reflexos de revisor foram para o brejo. Como eu disse outro dia ao João Bezerra de Castro, um revisor não pode se dar ao luxo de ler palavras, tem que ler silabadas. Os dedos tropeçam. As pálpebras me pesam.

Que venha o café novinho na casa velha!

Marcos Ferreira é escritor

Leia também: A hora azul da escrita de Marcos Ferreira.

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Odemirton Filho diz:

    Meu amigo Marcos Ferreira. Ontem mesmo eu conversava com Rocha Neto, lá no restaurante Prato de Ouro. Enquanto saboreava uma panelada, combinávamos em tomar café em sua residência. Não há mais tempo a perder. Prepare o café, levaremos a bolacha.

    Abração, meu querido.

  2. VANDA MARIA JACINTO diz:

    Olá Marcos, bom dia!

    Aqui acolá também tenho momentos de insônia. Já me preocupei muito com isso, hoje tento driblar a situação através de boas leituras!
    Valendo salientar que, quando o soninho vem, até o bom livro cai das mãos…
    Quanto ao seu recanto… Não importam as condições… o que vale mesmo é se saber dono do próprio chão, ter como companheira a linda gatinha Pitucha e poder receber os bons e velhos amigos, com um saboroso café!

    Abraços carinhosos

    • Marcos Ferreira diz:

      Amiga Vanda,
      Boa tarde.
      Como de outras vezes, encontrei inspiração para escrever após a leitura de sua última crônica no Jornal de De Fato. Sempre aprendo com você.
      Cordialmente,
      Marcos Ferreira.

  3. Horácio de Paiva Oliveira diz:

    Gostei, Marcos Ferreira, deste presente que me mandou Joãozinho Castro! Gostei da prosa, da casa velha e do café quentinho! Você anda bem acompanhado das musas. Qualquer dia passo lá, se o bom Deus me permitir!
    Horácio Paiva.

    • Marcos Ferreira diz:

      Prezado Horácio Paiva,
      Boa tarde.
      Nosso amigo João Bezerra de Castro em um patrimônio afetivo que temos em comum. Muito obrigado por sua leitura, sensibilidade e depoimento neste espaço. Qualquer dia, quem sabe, a gente se encontra com o João para um café.
      Cordialmente,
      Marcos Ferreira.

  4. Raniele Alves diz:

    Marcos Ferreira se você me oferecer um Capuccino com certeza irei correndo até a sua casa pois gosto muito desse tipo de Café, ainda levarei de cortesia Bolacha Preta e Bolinhos aqueles assados nas latinhas de sardinhas que nosso amigo Nolasco vende em sua Budega.

    • Marcos Ferreira diz:

      Prezado Raniele Alvez,
      Boa tarde.
      Você agora me deixou com água na boca: sou “doido” por bolachas petras. Vou lhe ficar devendo o capuccino, porém a gente pode comer as bolachas do Nolasco numa boa.
      Forte abraço,
      Marcos Ferreira.

  5. Cristiane dos Reis Braga diz:

    Quem dera tivesse eu o poder de te arrancar da Dipirona, Amlodipina, Rivotril e tantos Haloperidol. Tomaria eu um chá de camomila e você a sua rubiácea confortavelmente no sofá da sala sob a chuva à tardinha. Bem vindos sejam seus amigos, benditas sejam as conversas.

    • Marcos Ferreira diz:

      Querida Cristiane dos Reis,
      Você é um xodó antigo e sempre renovado. Saiba, minha amiga, que aquele nosso romance caudaloso, enfim, chegou ao seu endereço na terra de Camões. Vamos ver no que dá. Grato pela leitura e carinho de sempre.
      Marcos Ferreira.

  6. Antônio Rebouças de Queiroz. diz:

    Bom dia a todos amigos e em especial ao meu amigo João Bezerra de Castro, (Joãozinho)obrigado pela atenção e tenham todos um ótimo final de semana Amém!!!

    • Marcos Ferreira diz:

      Meu caro Antônio Rebouças de Queiroz,
      Boa tarde.
      Uma ótima semana para você e nosso estimado amigo João Bezerrra de Castro. Grato por sua leitura e depoimento neste espaço.
      Cordialmente,
      Marcos Ferreira.

  7. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAUJO diz:

    O escritor russo Leon Tolstoi, sabiamente já dizia…
    ” Se queres ser universal, cante sua Aldeia ”

    Do seu modo particular e extremamente obsequioso para com o nosso verbaculo que têm raízes, inclusive além mar. O nosso poeta, não só canta, como principalmente pinta sua Aldeia/casa, nos levando não só ver, mais ainda caminhar cômodo a cômodo do seu amado habitat.

    Na crônica de hoje, claro, a lá Marcos Ferreira na sua “mansão velha e tropical” que espelha fielmente seu mais ilustre morador. Não podia faltar o cheiro do famoso café ou rubiácea entre mangueiras e pássaros cantantes, os contornos de um piso e de um telhado destiorado, o banheiro externo a moda do século XIX, além claro da mais nova e amada habitante de quatro patas….

    Sua Amada Pitucha, que por óbvio nos faz lembrar da apresentadora XUXA, mesmo que nada tenha a ver. com a dita famosa .

    Este, sem dúvida sem retoques , sem rodeios e sem salamaleques é o nosso cronista maior, Sr. MARCOS FERREIRA, expondo sua alma , sua verve e seu explendor existencial, ao mesmo tempo que nós brinda com a fina flor do Lácio .

    Caro Marcos Ferreira, nesses tempos tão sombrios em que o medo e o pânico são INSTRUMENTALIZADOS contra nosso povo e a treva e a ignorância meticulosamente programadas, teimam em implicar com a volta da fulgurante luz da esperança.

    Tenhas CERTEZA, sua porção de poesia dominical nós alimenta e nos traz a necessária energia suficientes , para atravessarmos essa trágica quadra que entendo , está no seu devido e necessário ocaso.

    Um bom e tranquilo Domingo .

    FRANSUELDO V. DE ARAUJO
    OAB/RN. 7318

    • Marcos Ferreira diz:

      Meu caro Fransueldo Vieira de Araújo,
      Muito boa tarde.
      Saiba que você fez valer a pena cada linha, cada parágrafo desta pequena crônica, com sua leitura sensísível, aguçada e tocante. Eu me senti verdadeiramente honrado, lisonjeado, em ter um leitor do seu tope para opinar sobrre este este café novinho e casa velha.
      Forte abraço,
      Marcos Ferreira.

  8. Aluísio Barros de Oliveira diz:

    Bom dia, MF.
    Nada como ter a tua escrita ao alcance do domingo. Que suba o Sol pq a Lua hoje sangra [Blood room].

    • Marcos Ferreira diz:

      Boa tarde, caro poeta Aluísio Barros.
      Nada como ter a tua aguçada leitura e sensibilidade ao alcance destas minhas páginas de de domingo. Torno a dizer, uma honra e um luxo.
      Cordialmente,
      Marcos Ferreira.

  9. Amorim diz:

    Caro Cibernético Amigo; não sei expressar a minha alegria e felicidade em ser aceito para
    Vossa Fortaleza junto com amigos que admiro.
    Não escrevi antes pois cheguei a pouco de Natal onde fui assistir a Ribeira Bohemia; um espetáculo! Graças ao :: Nosso Blog :, meu guia cultural!
    Compromisso assumido por mim, será feito! Lavo as vasilhas?
    Um abraçaço extensivo a Natália!

    • Marcos Ferreira diz:

      Meu prezado amigo cibernético (como diz você) Amorim,
      Boa tarde.
      Será um grande prazer e uma honra recebelo sob este teto periclitante e entre estas paredes velhas para apreciarmos uma boa rubiácea em companhia de amigos queridos. Coloque isso na sua agente e se programe com os demais. PS.: você não vai lavar nenhuma xícara sequer. Rsrs.
      Cordialmente,
      Marcos Ferreira.

      • Amorim diz:

        Obrigado por me aceitar em sua fortaleza!
        Só não sei onde fica!
        Um abraçaço com emoção!

        • Carlos Santos diz:

          NOTA DO BLOG – Boa noite, quase madrugada. O email-que voce me mandou deu erro.

          Vai aqui o que foi solicitado:

          Rua Euclides Deocleciano, 32, Conjunto Walfredo Gurgel, próximo à lanchonete do Zecão. CEP 59628-200.

          Entrando ali no antigo Mercadinho Cocada segue direto, dobra a direita, em seguida à esquerda e por último à direita, fim de conjunto

  10. Francisco Nolasco diz:

    Boa tarde, poeta Ferreira.
    Só agora vi seus escritos.
    É um luxo sempre renovado tomar café novo, perdoe a redundância, na sua casa velha… tão cheia de teias poéticas e solilóquios verbais. É uma satisfação tê-lo como amigo.

    • Marcos Ferreira diz:

      Caro poeta Nolasco,
      Vamos preparar a vinda do João Bezerra de Castro a este humilde domicílio. Aí tomaremos um luxuoso café.
      Grande abraço,
      Marcos Ferreira.

  11. Rocha Neto diz:

    Amigo Marcos, que bom será este nosso encontro, quantos assuntos e comentários irão surgir para o deleite das figuras envolvidas! Bem vamos logo logo aportar por aí. Até lá então!
    Sua crônica em tela, tá supimpa como sempre. Parabéns.

    • Marcos Ferreira diz:

      Caro Rocha Neto,
      Estou feliz, de antemão, com a programada vinda de vocês para tormos esse cafezinho novo na casa velha. Será, repito, uma grande honra e uma alegria imensurável. Odemirton Filho e Carlos Santos que não se esqueçam das bolachas da padaria Meçalba.
      Forte abraço,
      Marcos Ferreira.

  12. RAIMUNDO ANTONIO DE SOUZA LOPES diz:

    Pois é, Marcos Ferreira, do jeito que são as pessoas são as criaturas. Acredito seja esse café um dos melhores de Mossoró. Apresse esse povo, quem sabe se assim não volte o costume de antes! Tomara que sim. Uma bela crônica. Parabéns!

    • Marcos Ferreira diz:

      Querido escritor Raimundo Antonio,
      Boa tarde.
      O ditado é velho, mas está sempre em voga: assim como são as pessoas, são as criaturas. Você desencravou uma pérola do linguajar popular. No mais, amigo, sinta-se convidado para tomar parte nessa rodada de café novinho na casa velha quando bem lhe aprouver.
      Cordialmente,
      Marcos Ferreira.

  13. Rizeuda da silva diz:

    Boa noite, amigo Marcos!

    Senti uma vontade imensa de provar do seu café, não levaria bolachas, mas faria uns deliciosos bolinhos de chuva, para combinar com o ambiente acolhedor. Espero receber um convite quando passear pelas bandas do Nordeste. Meu abraço carinhoso, amigo poeta!

    • Marcos Ferreira diz:

      Querida poetisa Rizeuda da Silva,
      Boas tardes.
      Espero que esse dia de tomarmos nosso cafezinho tête-à-tête não demore. Venha, sim, para as bandas do Nordeste. O Norte já lhe reteve por tempo demasiado longo. Estou num pé e noutro.
      Cordialmente,
      Marcos Ferreira.

  14. Simone Martins de Souza Quinane diz:

    Boa Noite, Marcos!
    Amo as suas crônicas dominicais, principalmente quanto desnudam a sua alma e, ao mesmo tempo, nos presenteia com a palavra bem trabalhada numa teia que nos enleva embevecidos e desejosos que não chegue ao final.
    Um abraço fraterno!

    • Marcos Ferreira diz:

      Minha querida e eterna professora Simone Martins,
      Eu não lhe disse nada, mas já estava sentindo bastante sua falta neste espaço do leitor. Não me abandone, não me esqueça, viu? É sempre um grande prazer e uma honra ser lido por quem tanto me ensinou a escrever.
      Com imenso carinho,
      Marcos Ferreira.

  15. Airton Cilon diz:

    Caro amigo, poeta e escritor Marcos Ferreira! Não importa as condições precárias da casa, e sim de quem reside nela…
    Sei do calor humano que preenche cada canto e buraco desta humilde e acolhedora casa velha! Abraços.

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