Por Marcos Araújo
Penso eu que todo ser humano tem uma música favorita (ou várias!). Em diferentes fases de nossa existência, uma música ou um cantor embalou nossos sonhos e emoções. Os gêneros não importam (gospel, MPB, rock, forró…). Sempre existirá uma música para nossas diferentes recordações. Há aquela que remete à memória do pai ou da mãe; às lembranças da infância; aquelas da adolescência; as que embalaram os romances, até o casamento; as preferidas da Igreja etc.
Existem duas etapas bem distintas na arte de compor, que muita gente pensa serem simultâneas: a letra e a melodia, sem existir uma ordem. Alguns compositores são muito bons em melodia. Outros são apenas letristas. E existem os que fazem as duas coisas. Fazendo uma metáfora, na música a melodia é apenas a roupa, enquanto a letra é o próprio corpo.
Algumas composições são apenas melódicas, tocando no fundo de nossa alma (e a alma tem fundo?). Um exemplo? O “Tema da vitória”, uma música composta em 1983 pelo maestro Eduardo Souto Neto, especialmente a pedido de Aloysio Legey da Globo para o final do GP do Brasil. A música foi associada definitivamente à imagem de Ayrton Senna, porque ele ganhou a prova. “Colou” na sua biografia e na sua história, tocando em cada vitória sua.
Outro exemplo? Aos mais “experientes” como eu, que adoram cinema, devem recordar o assobio do ator italiano Giuliano Gemma nos Western´s. Aquele assobio, composto por Ennio Morricone para o filme “Por uns Dólares a mais”, eternizou o chamado faroeste “espaguete” de Sergio Leone.
João Donato e Carlinhos Lyra, por exemplo, foram os criadores da melodia da bossa nova. Com a melodia de Carlinhos Lyra, o compositor João Gilberto letrou a canção mais famosa do movimento: “CHEGA DE SAUDADE” (“Vai minha tristeza / E diz a ela que sem ela não pode ser / Diz-lhe numa prece / Que ela regresse / Por que eu não posso mais sofrer…”).
De João Donato, conta Gilberto Gil, recebeu uma melodia dedicada a uma namorada de nome Leila. A letra de “A PAZ”, feita numa madrugada, não tem nenhum conteúdo romântico (“A paz invadiu o meu coração / De repente me encheu de paz / Como se o vento de um tufão / Arrancasse meus pés do chão / Onde eu já não me enterro mais …”)
Eu gosto muito de historiografia musical, ouvindo a melodia e lendo a letra com o desejo de aproximar-se o máximo da intenção do compositor. Às vezes, uma música de fundo religioso, onde o autor tenta se comunicar com Deus e declarar amor a Ele, é fixada no imaginário popular como uma canção romântica, ou vice-versa. Um exemplo bem patente é o pop rock “ESPERANDO NA JANELA”, que está no álbum “Raulzito Sexo & Rock’n’roll” da banda Cogumelo Plutão.
A canção foi composta por Manuca Almeida e pelo natalense Blanch Van Gogh, compositor e vocalista da banda, numa tarde de verão na praia de Pipa. A letra da música fala sobre Jesus Cristo, a única “escada” e amor da nossa vida. Teria sido ela inspirada, segundo os autores, no versículo 16, do capítulo 3, do Evangelho de João. (“Você é a escada na minha subida/ Você é o amor da minha vida / e o meu abrir de olhos no amanhecer / Verdades que me leva a viver…”)
Todo “beatlemaníaco” sabe que a composição “Hey Jude” não foi para nenhum “JUDE”, mas para o filho de John Lennon chamado JULIAN. Veio à mente de Paul McCartney durante uma viagem de carro para Weybridge, onde ele iria visitar Julian e Cynthia Lennon. Na época, John havia se separado da esposa e saído de casa para viver com a artista japonesa Yoko Ono.
A música é um encorajamento para Julian que, sendo uma criança, sofria com a separação dos pais. Cantarolando pequenas melodias e versos, Paul chegou em algo parecido com a frase que abre a música: “Hey Jules, don’t make it bad, take a sad song, and make it better..” (Ei, Jules, não fique mal / pegue uma canção triste e torne-a melhor…) Depois de composta, trocou o nome de Julian por Jude, inspirado pelo personagem do filme Oklahoma!.
Aproveitando que é final de semana, escute uma boa música. A musicoterapia agora faz parte da Medicina e tem sido muito empregada para combate a problemas de insônia e estresse, com estudos da eficácia de liberação de endorfinas e serotoninas, proporcionando prazer e sensação de bem-estar. Além disso, um estudo apresentado na American Society of Hypertension-ASH, apontou que a música pode até mesmo baixar a pressão arterial e o ritmo cardíaco.
Portanto, solte o som!
Marcos Araújo é advogado e professor da Uern
Eita!
O homem “amanheceu” inspirado.
Muito bom, meu querido xará.
Solte o som!!!
Bela crônica.
Curtir uma musiquinha é bom demais, deixa a alma leve. E tomando umas, ao lado de uma boa companhia, então…
Forte abraço, Marcos.