O que teria levado o ex-deputado estadual Carlos Augusto de Souza Rosado (DEM) a abandonar sua conhecida discrição, para assumir a delicada posição de “governador de fato” do Rio Grande do Norte? O salto dos bastidores à infantaria aconteceu por quê?
A resposta para essa mudança de 180 graus em seu estilo, que hoje embaraça sua mulher, a governadora de direito Rosalba Ciarlini (DEM), talvez tenha mais explicações psicológicas do que políticas. Mas não estão dissociadas, que se diga.
O comedimento na própria visibilidade pública que Carlos sempre tivera, desde os tempos em que fez nascer – ao lado do jornalista Canindé Queiroz, em 1988, o “fenômeno” Rosalba, a “Rosa”, dissipou-se em poucos meses de governo estadual. Carlos converteu-se – como um mutante – noutro Carlos.
Agora, por sua imprevidência, é obrigado a desencadear uma delicada operação para recauchutar a própria imagem de Rosalba, para lhe devolver ao pedestal de “gestora competente” e proativa. Foi assim que o estado a conheceu nos últimos anos, em campanhas vitoriosas ao Senado e ao Governo do Estado, mesmo que em seu berço político, Mossoró, a cultural local e o faz-de-conta sempre escamoteassem essa “verdade”.
Alter-ego
Carlos sempre foi o alter-ego da prefeita (três vezes) de Mossoró. Sua cabeça. Agora, tinha passado também a ser seu corpo, com despachos diretos com secretários na residência oficial do governo, a voos em aeronaves do Estado, pra lá e para cá, com ou sem a governadora, tratando de assuntos do interesse da gestão estadual.
A “delação” de Carlos Augusto veio pela voz supostamente etílica do ex-secretário-chefe do Gabinete Civil do Estado, Paulo de Tarso Fernandes, que o acusou de governar em nome da mulher. “Foram 10 meses de governo onde todas as decisões do Estado foram do marido da governadora”, declarou. Veja AQUI.
Um pouco antes, ao romper com o governo, o vice-governador Robinson Faria (PSD) já apontava essa distorção, mas sem o peso das palavras de Paulo, que há décadas gozava da amizade muito próxima do casal. O testemunho do ex-secretário virou uma sentença, em vez de murmúrio de um ressentido, tom que pareceu ter o depoimento de Robinson.
Ex-deputado por quatro mandatos, Carlos sempre alimentou o sonho de ser deputado federal, nunca concretizado. Mas foi através de Rosalba, pediatra e mãe de seus quatro filhos, que projetou um sonho atávico que viu começar e ser amputado duramente ainda na infância.
Ele tinha pouco menos de 7 anos (nasceu em 31 de outubro de 1944), quando em 12 de julho de 1951, o seu pai Jerônimo Dix-sept Rosado Maia (nascido em 25 de março de 1911), governador do Estado, eleito em 3 de outubro de 1950, morreu em acidente aéreo. O sinistro aconteceu em Sergipe.
Rosalba é a completude. Mas não é Rosado. Rosado é ele, Carlos. Seu tio, ex-prefeito Dix-huit Rosado, por duas vezes durante o regime militar chegou a ser cotado para governar o Rio Grande do Norte, como governador nomeado. “Forças ocultas” comandadas pelo primo, Tarcísio de Vasconcelos Maia, o alijaram do processo.
Carlos virou governador, como se atendesse a um desgínio divino, pela ascensão da mulher. Um projeto calculado e cartesianamente montado por ele, com ousadia e raro talento político, durante cerca de duas décadas.
No poder, entretanto, parece que ele viu-se afetado por um transtorno dissociativo de personalidade. Deixou de ser o marido-líder e ideólogo da carreira de Rosalba, para praticamente se investir do cargo de governador. É como se pegasse de volta o que o destino sinistramente tirara do pai, no início dos anos 50. Agora ele é o Dix-sept Rosado, governador.
Nas três administrações que Rosalba figurou como prefeita, Mossoró aprendeu a tratar com jocosidade ou respeito em tom de reverência, o papel que Carlos cumpria com denodo: administrar a prefeitura da política à gestão pública.
O escárnio dos primos oposicionistas até lhe imputou a pecha de um conselheiro novelesco, o “Ravengar”, extraído da dramaturgia global: “Que rei sou eu?” AQUI. Astuto, ele não o vomitou. Adotou-o para se tornar um personagem real e quase lendário em Mossoró.
No Governo do Estado, essa personificação carregada de sagacidade deu lugar a outro ser: o próprio Carlos. Ou um Dix-sept Rosado reencarnado. A dupla personalidade expurgou da vida do ex-deputado o irreal Ravengar, pois ele não o tinha mais como necessário, por trás das cortinas.
A personalidade do Ravengar ardiloso, frio e recatado, para não eclipsar a própria imagem construída para a mulher, não existe mais. Ele foi assim no passado e não parecia incomodado como homem e político, mesmo quando pesquisas que encomendava assinalavam que sua exposição, ao lado da “Rosa”, tirava votos dela.
O Carlos Augusto, governador, passa a sofrer as consequências danosas dessa personificação do governo, num momento em que a gestão estadual vive profundo desgaste. Por isso, que nos últimos dias a ordem é pulverizar a imagem de Rosalba em poses como gestora. São centenas de fotos dela no gabinete de trabalho, comandando reuniões, liderando.
Regressão
Ao mesmo tempo, ninguém espere que Carlos passe por algum tipo de dissociação do poder. Isso não ocorrerá. Mas é óbvio que precisará recuar, num exercício de regressão política e psíquica – a um passado mais próximo, em que era o todo-poderoso sem holofotes. Brilhava até muito mais, sem sair nas fotos.
O pecado que Carlos cometeu é o mesmo que seu primo Gustavo Rosado (PV), prefeito de fato de Mossoró, assumiu publicamente desde os primeiros dias das gestões da irmã, a prefeita de direito Fátima Rosado (DEM), a “Fafá”. A diferença, é que Gustavo pelo menos tem portaria à formalização de cargo como chefe de Gabinete, para se sentir autorizado a mandar no lugar da mana que na maioria dos casos apenas aparece para fotos e assinar documentos.
O recato de Carlos, aliado à sua engenhosidade e arrojo, é que levou Rosalba a ser o que é, fazendo-o se realizar através dela, como político. A mudança de modus operandi, pode gerar efeito diametralmente oposto.
Em Mossoró, por exemplo, Gustavo passou praticamente sete anos com a irmã enclausurada no próprio gabinete, como se fora uma condenada ao esquecimento. Em parte, esse abuso, ajudou o governo a viver níveis de enorme antipatia popular. Quando Fafá passou a fazer o que gosta e ser o que é, naturalmente, espontânea e carismática, o governo reduziu seu desgaste.
A vaidade do irmão que nunca se destacara em nada na vida, apenas montara um boteco e uma butique quando mais jovem, levando ambos à falência, puxou para baixo Fafá e o governo. Agora, pouco menos de dois anos para acabar seu ciclo, percebe que a estrela é ela e não ele.
Carlos e Gustavo são bem diferentes na arte da política. O primeiro chega a ser genial; o outro, babaquara deslumbrado com o poder episódico que nunca tivera.
Mas, nesse momento, Carlos Augusto de Souza Rosado nivela-se com o primo: a vaidade e essa força inconsciente, do passado, deixam em xeque o próprio império que nasceu de seu cérebro privilegiado.
“Eu o sustentarei com mão de ferro no caminho do poder… O senhor via brilhar, ostentar-se, enquanto eu agachado na lama das fundações, estarei garantindo o brilhante edifício de sua fortuna. PORQUE EU, EU GOSTO DO PODER PELO PODER! SEMPRE ME SENTIREI FELIZ COM SEUS PRAZERES, QUE ME SÃO VEDADOS. ENFIM, EU SEREI O QUE O SENHOR FOR!…” Conselho do abade Carlos Herrera ao ambicioso Lucien de Rubempré, personagens de Ilusões Perdidas de Honoré de Balzac pág 595 LP&M Editores,2007. Parece que Carlos, o estrategista/mentor e ideólogo da governadora não sente-se mais à vontade agachado, garantindo o edifício da sua esposa, fazendo-o se realizar através dela, como político.Qualquer semelhança entre os personagens de Balzac e casal que hora nos governa será mera coincidência.
Boa tarde, grande mestre e narrador político…..
A inteligência é uma dádiva divina que quando muito bem utilizada diz, ensina, descreve o momento vida…
Como seria ótimo que os nossos governantes, em comento, fizessem uma reflexão e aplicassem este ensinamento para o bem comum e ao interesse público, pois assim ganhariam eles, individualmente, e em especial toda a coletividade norteriograndense……
Parabéns, sou seu assíduo leitor, você me é referência institucional neste aprendizado de vida humana….
Podemos até não conseguir tudo, mas continuemos conquistando um pouco deste mundo…..
PARABÉNS>>> SIGAMOS EM FRENTE…….
Qualquer semelhança não será merá coincidência.
É a mais pura verdade.
Parabéns, velho jornalista.
Carlos parabéns pelo excelênte artigo, vc foi genial quando lembrou o aspecto historico do pai de Carlos no governo e comparou ao mesmo tempo Carlos e Gustavo.
fenomenal descriçao..”babaquara deslumbrado com o poder episodico que nunca tivera”… poucas e raras pontuacoes tivemos descricao tao sensata e severamente corretas; continuo com a mesma admiracao a vc caro escriba. bom domingo… feliz semana.
Você dá show Carlos Santos.
Prezado Carlos, análise precisa, fruto de uma inteligência privilegiada. O tempo vem lhe dando razão. O mesmo tempo que inspirou Mário Quintana: “Eles passarão. Eu passarinho…”
Com poucas palavra: PARABENS.
MATOU A PAU…RISOS
Lúcido,profundo,Escorreito e genial!!Escrever é um dom reservado a poucos privilegiados.Parabéns!!
Pra botar numa muldura e colar na parede o seu texto. Voce da uma aula de jornalismo politico usando ate a psiocolgoia, assim fica facil entender tudo
Então “Ravengar” deve estar se perguntando: Que Rei sou eu?
Um primor seu texto Carlos. Parabéns!
Quer imitar o Pai? Deixa! Quem sabe aconteça o mesmo.
Caro Carlos simples, claro objetivo e acima de tudo verdadeiro…. parabéns!!!!!!! que sua voz continue a lançar luz a porta da caverna da ignorância que vive o RN!!
caro amigo carlos muito boa a materia parabens
Parabéns Carlos, você foi de uma grande feliciade nessa narrativa histórica que retrata com fidelidade o papel dessa família no Rio Grande do Norte. O erro do marido da governadora, é que o Rio Grande do Norte não é Mossoró. No estado estão as famílias Alves e Maias, que nunca deixaram outro clã assumir o pode no estado. Pelo menos enquanto Henrique, Garibaldi e José Agripino estiverem dando as cartas no cenário político estadual.
CARLOS AUGUSTO ROSADO, NOVO GOVERNADOR DO RIO GRANDE DO NORTE. MESMO SEM SER VOTADO E TER FOBIA AS URNAS. GRANDE TEXTO, EU NO LUGAR DELE (CARLOS A ROSADO) FICARIA COM VERGONHA.