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domingo - 09/02/2014 - 13:52h
Política e história

Carlos Lacerda, o político do tudo ou nada

Golpismo foi banido da vida pública. Mas seria bom exumarmos intransigência com vícios da República

Por Fernando Schüler (revista Época)

“Não gosto de política… gosto é do poder. Política para mim é um meio para chegar ao poder”, diz Carlos Lacerda, em Depoimento, publicado em 1978, um ano após sua morte. De fato, a paciência não era sua maior virtude. Em 1955, Juscelino Kubitschek eleito presidente da República, Lacerda defendeu a anulação das eleições. Juscelino não havia feito maioria, seu meio milhão de votos sobre Juarez Távora eram votos dos comunistas.

Lacerda em 1963, governador da Guanabara, tramou golpes para chegar ao poder (Folhapress)

Às favas com o jurisdicismo da ala legalista da UDN. O caso era apear Juscelino, e logo João Goulart, seu vice, do poder. Lacerda tinha pressa.

Em abril deste ano, Lacerda faria 100 anos. Nos manuais de história, ele é o corvo da Terceira República. O apelido foi dado pelo jornal Última Hora, de Samuel Wainer. Pegou. Lacerda incorporou o pássaro negro a sua propaganda. Proscrito da vida pública ainda relativamente jovem, assim prossegue. Nenhuma comissão da verdade pede o reexame de sua morte.

Seu arqui-inimigo, Getúlio Vargas, chefe de um regime de exceção de década e meia, que fechou o Congresso, extinguiu os partidos, prendeu e torturou com sua polícia política, prossegue como herói da historiografia oficial.

Em parte, isso se dá pela sina incontornável da história: Lacerda foi um político derrotado. Nos 19 anos da “república populista”, andou sempre no avesso do poder. Terminou derrotado pelo regime militar – que apoiara e, depois, o baniu da vida política. Lacerda chegava à maturidade de seus 50 anos em 1964. Aspirava à Presidência, queria ser o candidato da “revolução”, nas eleições de 1965. Errou feio. De certo modo, terminou como Leonel Brizola, tolhido da chance de deixar um legado, como o fizeram Juscelino e Vargas. Brizola, longevo, ainda sobreviveu. Teve sua chance, na redemocratização. Lacerda se foi em 1977, inglório, morto de uma complicação cardíaca.

Vem daí o mérito do livro recém-lan­çado de autoria do historiador Rodrigo Lacerda, A república das abelhas. Rodrigo é um escritor premiado, doutor em história pela Universidade de São Paulo. É também neto de Carlos Lacerda. De cara, isso o livra do debate sobre o “distanciamento”. “Tentei tirar partido disso”, diz Rodrigo. E conseguiu.

Rodrigo toma o avô como narrador de sua própria história e produz um livro cativante. Algo que ele chama, “por falta de definição melhor”, um “romance histórico”. Não gosto da expressão. Um livro de história sempre será uma obra de ficção. A ficção sobre o tempo que se foi e do qual recolhemos os pedaços. Rodrigo recolhe os cacos da história dos Lacerdas, desde o avô de Carlos, Sebastião, abolicionista e republicano, e estabelece seu ponto de vista.

>> O Brasil das placas…e o Brasil das ruas

Rodrigo conta a história do atentado da Rua Tonelero, em 1954. Daria um bom hobby colecionar versões sobre o acontecido, naquela madrugada, em Copacabana. Conheço livros de história que asseguram tudo não ter passado de uma jogada para incriminar Getúlio: a confissão do negro Gregório, o ferimento de Lacerda, tudo mentirinha.

História? Talvez seja melhor ficar com o romance, mas não faz muita diferença. Rodrigo escreve um livro cuidadoso, como devem ser os livros de história. Seu maior achado foi transformar Lacerda num homem ponderado.

Na classe média carioca, com alguma informação e bastante idade, Lacerda é lembrado como governador enérgico e competente, o primeiro do então recém-criado Estado da Guanabara, na primeira metade dos anos 1960. Seu governo universalizou o acesso ao ensino primário e chegou a publicar um decreto prevendo processo para os pais que não matriculassem seus filhos na escola.

Modernizou a gestão, tornou obrigatório o concurso público, investiu como nunca em saneamento básico, investiu em obras estratégicas, como a estação Guandu, os túneis Rebouças e Santa Bárbara, mandou fazer o Parque do Flamengo.

Lacerda disse, no fim da vida, que sempre quis ser escritor. Foi dramaturgo, traduziu 30 obras (de Shakespeare a Tolstói) e escreveu um livro de memórias, A casa de meu avô, que lhe valeu a frase de Carlos Drummond de Andrade de que bastava o livro “para garantir-lhe esse lugar que importa mais do que os lugares convencionalmente tidos como importantes”. Mas deixou sua melhor memória como gestor público.

Sua paixão definitiva foi o jornalismo de combate, o articulismo enragé, tradição hoje desaparecida, pois nenhum governante perde o sono em função de um artigo de jornal.  Escreveu um livro apresentando sua visão sobre o jornalismo, A missão da imprensa, em que faz uma candente defesa da independência do jornalismo diante dos governos e grupos de poder, a profissionalização do jornalista, o rigor na verificação das fontes. É evidente que esse não foi o caso de seu jornal, a Tribuna da Imprensa, fundada por ele.

Nem foi o caso da publicação da Carta Brandi (uma carta forjada do deputado argentino Antonio Brandi a Jango, apresentada pelo jornal como a prova de uma conspiração para implantar uma “república sindicalista” no Brasil). O Lacerda reflexivo, saído da mente de Rodrigo, “fora do jogo, lembrando o campeonato”, quem sabe teria checado se aquela assinatura era mesmo verdadeira, antes de publicar a carta. Lacerda levou a contradição entre a palavra e a vida ao estado da arte.

Jovem comunista, Lacerda virou conservador e incorporou o
personagem do moralista da República

Nos anos 1930, foi comunista. Nunca foi formalmente aceito no partido, mas se tornou orador estudantil da Aliança Libertadora Nacional. Em 1935, fez a leitura do manifesto de Luís Carlos Prestes, que levaria ao fechamento da ALN. Rodrigo sugere um jovem Lacerda incomodado com a verborragia lunática de  Prestes, que entre outras coisas convocava os índios brasileiros a aderir à causa proletária. É possível. De todo modo, seu divórcio com o comunismo vem apenas no final dos anos 1930.

Escreveu um artigo, “A exposição anticomunista”, segundo Lacerda com o conhecimento do partido, em que fazia crer que o PCB não tinha mais influência relevante na política brasileira. Foi expurgado. Seus amigos comunistas o largaram, sob o efeito do Artigo 13 do estatuto do Partidão, que proibia seus integrantes de falar com os inimigos do partido. Foi sua experiência pessoal com a ideia totalitária.

>> Segredos de Jorge Amado

Da crítica ao comunismo emerge, nos anos 1940, o Lacerda conservador. Por volta de 1948, converte-se ao catolicismo, sob influência de Fulton Sheen, líder católico americano, carismático e tele-evangelista (atualmente em processo de beatificação), e de intelectuais, como Alceu Amoroso Lima. Lacerda lapida sua concepção do universo político, segundo a qual “o liberalismo só pode funcionar em uma sociedade dotada de base moral”. Base moral que, por suposto, subordina qualquer ideia de pluralismo político e social. Não é um acaso que a Tribuna da Imprensa surge, no final de 1949, com o objetivo explícito de “cristianizar a sociedade”.

No ambiente da Guerra Fria, o discurso conservador encontrava uma tradução fácil: o anticomunismo, mistura de “medo real com uma espécie de indústria do pavor”, na definição de Elio Gaspari. O comunismo, hoje, é um espantalho, e o moralismo católico saiu de moda. À época, dava audiência e um bom bocado de votos. O mundo andava em transição, nos anos 1950 e 1960. A juventude lia Jack Kerouac e experimentava a liberdade sexual que a pílula oferecia, mas expressões como o “perigo vermelho” e a “destruição do nosso modo de vida”  mexiam com a cabeça das senhoras de Copacabana. Lacerda soube ser seu porta-voz.

Larcerda discursa em São Caetano do Sul, em 1968 (Folhapress)

Suas posições, naqueles anos, são bem conhecidas – e não são isentas de contradições. Em 1947, agiu como um liberal, reagindo à decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de cancelar o registro do PCB. Diferentemente dos trabalhistas e da máquina sindical atrelada ao governo, avessos à concorrência.

Em 1954, foi o pivô da crise de agosto, que levou ao suicídio de Vargas. Em seguida, defendeu o adiamento das eleições, alegando a necessidade de um “estado de exceção”, um período de reforma constitucional para corrigir os males de nossa democracia. Em 1955, zarpou no Cruzador Tamandaré, com o presidente interino Carlos Luz, acossado pelos canhões do Forte de Copacabana, em oposição à posse de Juscelino.

Em 1961, opôs-se à posse constitucional de Jango e, em 1964, liderou a mobilização golpista no Rio de Janeiro, com sua metralhadora INA a tiracolo, desde o Palácio Guanabara.

Sempre desconfiei dos que atribuem coerência demais à trajetória dos atores políticos. O jogo do poder frequentemente adquire uma lógica própria, há o erro, há o desvio, o exagero e, por fim, há sempre muita teoria disponível para interpretar e ajustar a realidade. O fato é que Lacerda fez do “golpismo democrático” a marca maior de sua personalidade política. Aquela que produziu o “lacerdismo”, uma arte, um pecado da política brasileira, que consiste em pôr em xeque as instituições da República quando interessa. Uma arte sem ideologia, frequentemente feita de bons argumentos. Pecado que ninguém mais, felizmente, soube cometer como Lacerda.

>> A primeira revolução sexual

Quem sabe o lacerdismo tivesse um componente estético. Lacerda foi, na definição de Rodrigo, alguém com a “trágica incapacidade de aceitar o mais ou menos, na terra do mais ou menos”. O ponto é que a democracia vive, em boa medida, do mais ou menos. Do acordo, da procura pelo consenso. A vida de Lacerda foi a recusa permanente do acordo. Talvez tenha sido seu personagem: o moralista da República. Atores políticos elegem seus personagens. Juscelino escolheu ser o otimista, o democrata, o “sonhador do Brasil”; Tancredo escolheu ser a tradução discreta do bom-senso. Lacerda fez sua escolha. Nunca pareceu arrependido, mesmo na derrota.

Fiel seguidor do “estilo dos Lacerdas” – herdado de seu pai, Maurício, deputado na República Velha, pioneiro na defesa da legislação trabalhista –, Lacerda foi muito além. Seu poder de atração residia, essencialmente, na palavra, no talento de orador. O maior de todos, na opinião insuspeita de Almino Affonso.

A autoconfiança que o fez entrar sozinho, numa madrugada de dezembro de 1961, no presídio Lemos de Brito, para controlar a rebelião de algumas centenas de detentos, episódio em que teria sido ajudado pelo preso ilustre, Gregório Fortunato.

Exagero ou não, está lá, numa carta de Drummond, de 1976: “Ninguém é indiferente ao charmeur irresistível que você é; e mesmo os que dizem detestá-lo, no fundo, gostam de você. Gostam pelo avesso, mas gostam”.

A vocação de charmeur, quem sabe, fez com que conseguisse, a partir de 1966, uma improvável reaproximação com Juscelino e Jango, para a formação da Frente Ampla, em oposição ao regime militar. Também aí foi derrotado. São muitas as razões. Uma delas era a memória, ainda fresca. Mesmo que pensasse rápido, que não guardasse mágoa, era óbvia, para Lacerda, a dificuldade de ser reconhecido como um democrata pela oposição ao regime. Em 1968, logo após a decretação do AI-5, Lacerda teve seus direitos políticos cassados por dez anos.

Só com a Constituição de 1988, e após o impeachment de Fernando Collor, que a República adquiriu alguma estabilidade. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, foi criado o Ministério da Defesa, que passou a ser ocupado por um civil, e as Forças Armadas retiraram-se por completo da cena política.

Logo que eleito, Fernando Henrique sugeriu que chegara o tempo de superar a era Vargas: a era do Estado empresário, do sindicalismo oficial, do empreguismo público, da cooptação política via distribuição dos cargos e favores públicos.

A lista dos arcaísmos brasileiros é extensa e velha conhecida. Fernando Henrique poderia ter acrescentado que também chegara o tempo de superar a “era Lacerda”. A era do tudo ou nada, do diálogo impossível, do logro permanente das regras do jogo. Havia chegado o tempo da convergência.  Em nome desse aprendizado, haviam sido feitas a anistia, a transição pacífica para o poder civil, a nova Constituição e, finalmente, a normalização econômica do país, com o Plano Real. Nesta Quinta República, é certo que o Lacerda moderno, defensor do fim do imposto sindical, do direito das famílias à escolha educacional, e o Lacerda intelectual teriam algum papel a cumprir. O “corvo”, papel nenhum.

Rodrigo, agora, nos deve um segundo volume, contando sobre seu avô nos anos de 1954 a 1977.

Quem sabe um Lacerda, já veterano, entre suas abelhas, nos conte sobre suas aventuras da maturidade. Não apenas sobre seu governo na Guanabara, sua vitória de Pirro em 1964, mas também arrisque um pouco mais. Que diga se acreditava, realmente, no moralismo udenista e se de fato errou na perseguição que promoveu a Juscelino, como teria reconhecido, num encontro da Frente Ampla. Que fale de suas amizades com os intelectuais, de John dos Passos a Erico Veríssimo, e nos confesse se, nos últimos anos, não fora se tornando mais um liberal e menos um conservador.

E, de passagem, nos conte sobre o que realmente aconteceu entre ele e Shirley McLaine, naquele outono californiano de 1968.

Fernando Schüler é doutor em filosofia, diretor do Ibmec RJ e curador do Projeto Fronteiras do Pensamento

 

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Categoria(s): Política

Comentários

  1. Inácio Augusto de Almeida diz:

    “tradição hoje desaparecida, pois nenhum governante perde o sono em função de um artigo de jornal.”
    Realmente nenhum corrupto perde o sono com denúncias feitas nos jornais.
    O jornalismo imprensa, preocupado apenas com o faturamento da imprensa, sepultou por completo este tipo de jornalismo e decretou o desaparecimento das redações dos jornalistas compromissados com a verdade.
    E disto resultou a queda da vendagem de jornais e revistas, tanto é que hoje os grandes jornais vendem menos exemplares do que há 20 anos, quando a população era praticamente a metade da atual.
    Mas o sono dos corruptos vai ser tirado.
    Não pelos jornais, revistas, rádios ou televisões, mas pela internet.
    Não há como controlar a internet.
    Quando conseguem subornar um blog, logo em seguida surgem dois blogs independentes.
    E não existe dinheiro no mundo para comprar todos os blogs.
    A internet decretará o surgimento de um novo mundo nas relações entre os homens e na maneira de se fazer política.
    E isto já começa a acontecer.
    Tem político que antes de escovar os dentes abre os blogs e busca os comentários com o coração na mão.
    E não é só na política que esta mudança acontece..
    Esta mudança está acontecendo também na religião.
    O Papa foi trocado porque não dava mais para manter um Papa distante do povo e dos seus problemas.
    Resultado que se pode observar após a troca do Papa é as igrejas lotadas.
    Hoje não é a Igreja dos ricos que Roma sempre insistiu em fazer, sem perceber que ela já estava feita, que direciona a Nova Igreja.
    Hoje Roma está fazendo a igreja dos pobres, porque esta é a que precisa ser feita, porque esta é a verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.
    A INTERNET ESTÁ MUDANDO O MUNDO.
    A INTERNET MUDARÁ O MUNDO.
    MUDARÁ O MUNDO PARA MELHOR.
    ////
    SOMENTE O HOMEM VERDADEIRAMENTE SUPERIOR CONSEGUE VIVER NA POBREZA SEM MERGULHAR NA DEGRADAÇÃO MORAL.
    Inácio Augusto de Almeida

  2. Nilson Gurgel Fernandes diz:

    CARO CARLOS;
    QUANDO ADOLESCENTE ME LEMBRO QUE CARLOS LACERDA, ENTÃO GOVERNADOR DO RIO DE JANEIRO, PASSOU NO RIO GRANDE DO NORTE, ACHO QUE QUERIA SER PRESIDENTE DA NOSSA REPÚBLICA, PROMOVENDO UMA CAMPANHA, “AJUDA TEU IRMÃO” E NA CIDADE DO ASSÚ ,CONHECEU UM DOS NOSSOS MAIS FAMOSOS POETA, O RENATO CALDAS QUE POR ACASO ERA AMIGO DO MEU PAI ALCIDES BELO. RENATO TINHA ACABADO DE ESCREVER SEU FAMOSO LIVRO “FLOR DO MATO” E SOUBE QUE CARLOS LACERDA TINHA UM EDITORA QUE PUBLICAVA, SE NÃO ME ENGANO, O JORNAL TRIBUNA DA IMPRENSA. RENATO DEU UM JEITO DE SER APRESENTADO À ELE, CARLOS LACERDA E NA MESMA HORA PEDIU PARA ELE EDITAR SEU LIVRO “FLOR DO MATO”. CARLOS PRONTIFICOU-SE E DISSE PARA ELE IR AO RIO E PROCURA-LO NO SEU GABINETE. RENETO FEZ UMA COTINHA COM OS AMIGO, PEGOU UM AVIÃO DA PANAIR DO BRASIL E SE MANDOU PARA O RIO. LÁ FOI DIRETO AO PALÁCIO DAS LARANJEIRA E DEPOIS DE TRÊS DIAS DE TENTATIVAS DE SER RECEBIDO, AFOBOU-SE E PEDIU A SECRETÁRIA DE LACERDA UM PAPEL E DEIXOU UM BILHETE COM SEGUINTE TEOR E SE MANDOU:

    “SENHOR CARLOS LACERDA
    QUE INVENTOU ESTA MERDA
    DE AJUDA TEU IRMÃO,
    PUBLIQUE FLOR DO MATO
    AJUDE O POBRE RENATO
    POETA LÁ DO SERTÃO”

    QUANDO CARLOS LACERDA LEU O BILHETE, MANDOU PROCURA-LO IMEDIATAMENTE E, ME PARECE, PUBLICOU O LIVRO DELE.

  3. FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Carlos Lacerda, é o que verdadeiramente podemos denominar de a cara da cultura política nacional, política essa que ao longo da história, sempre trilhou caminhos mais que autoritários, diria de um golpismo sistemático e doentio face ao povo, seus verdadeiros interesses e as instituições que a estes deveria representar.

    Sem dúvida nenhuma foi um grande orador, pena que as palavras, não necessariamente revela e (ou) representa atos e ações positivas no âmbito da política, sobretudo da política nacional com um histórico calcada no universo intangível universo de promessas, pantomimas e disfarces próprios do herói-sem-caráter denominado Macunaíma.

    Já naquela época, Carlos Lacerda se valia do poder incomensurável poder da imprensa sobre grande parte da dita opinião pública, usando e abusando de discursos panfletários e com notório teor autoritário, sendo bastante comum suas manifestações incitações e apologias a violência e ao golpismo aos poderes constituídos, as instituições e aos políticos que não falavam a sua língua.

    Durante a campanha presidencial de 1950, por exemplo, vemos novamente o jornalista Carlos Lacerda, proferindo o polêmico editorial que sentenciava: “ O Sr Getúlio Vargas senador, não deve ser candidato
    à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.

    Prócer da UDN, e , principal porta-voz da oposição golpista que à época tentativa de todas as formas apear do poder o Mais nacionalista de todos os Presidente brasileiros, no caso o gaúcho de São Borja GETÚLIO DORNELLES VARGAS, tinha seu favor, o fato da ter um jornal a sua disposição para dar corpo ao seu discurso e ter trânsito livre em o outros órgãos de comunicação de massa – como a Rádio Globo do jornalista Roberto Marinho, a Rádio Mayrink Veiga, a TV Tupi de Assis Chateaubriant, a TV Rio de Pipa Amaral e a TV Record de Paulo Machado de Carvalho – favoreceu sua ascensão como liderança carismática dentro e fora da UDN.

    O conhecido e loquaz personalismo e reacionarismo de Carlos Lacerda, revela o quanto ainda podemos e devamos aprender, apreender e caminhar no sentido do aprendizado democrático, suas regras e, sobretudo o respeito entre vencidos e vencedores.

    Mesmo porque, à época o lacerdismo se apresentaria para a opinião pública brasileira como a solução para
    os considerados problemas crônicos da nossa sociedade desde o fim do Estado Novo: o getulismo e seu trabalhismo, o populismo, a corrupção, a demagogia e o comunismo. Estes elementos “nefastos” – grande parte deles herança do ex-ditador Getúlio Vargas – eram, segundo a UDN, os responsáveis pela contaminação da democracia brasileira, que, por conseguinte, era falsa e viciada. O lacerdismo também seria marcado pela sua postura radical, avessa a alianças, contrária à política da conciliação. Pelas lentes de Carlos Lacerda e dos lacerdistas, a política era uma arena, uma batalha com vencedores e vencidos. Nela não havia espaço para o acordo, para as concessões, para o recuo. A luta era constante, vigilante, agressiva, ativa e reativa.

    O atual período que vivenciamos na política nacional, bem revela o quão necessário foi e é o dialogo, as alianças político-partidárias, mais a ainda a vigilância permanente para com os golpistas de plantão, assim como a veemente repulsa a qualquer atitude que represente a quebra do jogo democrático, duramente conquistado por muitos daqueles que ate´a vida deram em favor da construção da democracia e, por conseguinte do atual momento que vivemos.

    Aos jovens de todo o Brasil, Não custa lembrar que a nossa república não apenas e tão somente nasceu de um golpe, mais ainda durante grande parte de sua existência foi instável do ponto de vista político, mas sobretudo foi permeada de permanente golpismo face aos interesses do povo e das instituições ditas republicanas.

    Por fim, sinceramente, torço para que não apareça nenhum lacerdista e nenhum lacerdismo que tanto golpeou e apequenou a vida política nacional. Pois à meu ver, o lacerdismo em sua mais diferentes matizes tem mais é que ser enterrado, cremado e embalsamado a bem da verdadeira política e dos interesses nacionais.

    Um abraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  4. Moura diz:

    Era um “agitador cultural”, porém mais letrado e com retórica infinitamente superior aos que são “fabricados” hoje em dia. Francamente, dentre tantas personalidades políticas para fazer referência aqui no BLOG, não é possível que tenha sido por escolha, quero quer que houve um sorteio e, infelizmente, deu no que deu.

    “O Sr Getúlio Vargas senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.” Troque “Getúlio Vargas” por qualquer candidato (verdadeiramente) trabalhista/progressista ou mesmo da certo esquerda, e terá um retrato fiel de certas linhas editoriais da atualidade…

  5. Sinfronio Mendes Ferreira Neto diz:

    A cultura da pervertida política no Brasil contamina até os estudiosos dela.
    Pelo que se sabe o governo de Carlos Lacerda, no único cargo do executivo que exerceu, qual seja, no então estado da Guanabara, foi profícuo e exemplar.
    Cuidou como ninguém da questão da escola primária, resolveu o, até então, insanável fornecimento de água na cidade do Rio, fez rede de esgotos, túneis que até hoje são obras que melhoram sobremaneira o transito na cidade que é o cartão postal do Brasil, etc etc .
    Carlos Lacerda não se corrompeu e por isso deve ter ficado sem espaço na política, viciada no Brasil do toma-la´-da-cá.
    A mensagem que interessaria ser passada às novas gerações é a de que “ um político de nome Carlos Lacerda, ao alçar o poder, fez um grande governo de grandes empreendimentos, e que respeitou de maneira brilhante os dinheiro público”. No mais é conversa sobre o rema rema diário da politicagem.
    Os letrados analistas parecem enxergar a política com os olhos do, digamos, PMDB.

  6. wanderley diz:

    Acho que no Rio de Janeiro ressurgiu no senário politico, um novo Carlos Lacerda, que é o Deputado Eduardo Cunha. Homem de coragem, culhões roxo, peitudo, audacioso, único que encarou o PT e os colocou de joelhos. Como articulador nos bastidores não tem para ninguém, é sábio, agregador, sabe fazer politica como ninguém e diz: ¨O POVO MERECE RESPEITO. A unica coisa que falta nele entre outras coisas é o DISCURSO INFLAMADO DE CARLOS LACERDA, também seria querer demais. Se não entramos em um regime totalitário agradecemos a ele.

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