É triste a imagem que testemunhamos no sertão.
Barreiros guardam últimas reservas de água para os animais.
Carros-pipa que os polÃticos prometeram aposentar ainda no século passado, passam de lá para cá fazendo negócio com o que devia ser um bem de todos.
Animais esqueléticos, outros ao chão, comidos por urubus.
O sertanejo resiste à seca, mas principalmente à inclemência multissecular dos gestores públicos, que prosperam com seca ou não.
S E C A
Espio para este céu azulzinho e me avexo. Parece uma muié, tão bonito e ameaçador. A plantação desde há muito tempo que não dá nada, desde a era em Jesus levou Cecinha para junto dele. Ainda me arrecordo dela, tão magrinha, tossindo, tossindo, tossindo. Seus óios crescendo todos os dias como se fossem ficar do tamanho da lua. Até que um dia ela assossegou prá sempre.
Compadre Bento, que entende destas coisas, me jurou que foi do gosto de Deus, porque se não fosse ela teria ficado junto deu e hoje era uma mocinha. Se eu tivesse recurso naquele dia para ter levado ela para o Doutor da cidade olhar, talvez Deus tivesse esperado um pouco mais. Mas eu não tinha dinheiro nenhum e me acanhei de pedir ao Coroné. Ele já tinha sido tão bom comigo. Até comprimido de melhoral ela já tinha me dado para ver se a Cecinha ficava boa daquela tossideira.
Seu vigário me disse que compadre Bento tinha razão. Cecinha só se foi porque Deus quis.
Se chovesse um bocadinho que fosse eu saÃa desse aperto. Plantar eu plantei, só falta um tiquinho de água, uma gotinha só. Mariazinha já tá com a mesma tossideira da Cecinha. Dá vontade de chorar mas não posso chorar. Me disseram, desde que eu era menino que só servia para apanhar algodão, que sertanejo não chora, que choro fica para quem é do brejo. Mas que sinto uma vontade lascada de chorar, eu sinto, não vou mentir. Meu coração parece que está sendo cortado por uma peixeira cega. Dói muito, muito mesmo.
Naquele último ano em que deu safra, foi muito bom. Eu me arrecordo de que comprei até um vestido novo para a Cecinha. Foi bom demais, como foi bom. O homem que veio da cidade comprar as coisas da gente pagava tudo com dinheiro novinho que parecia pão quente que a gente come quando vai à cidade. Compadre Bento me explicou que o dinheiro estava estalando porque era dinheiro do banco que tinha sido emprestado ao homem para comprar o que a gente tinha apanhado.
O homem só queria comprar tudo barato e terminou a gente vendendo barato mesmo, senão estragava tudo. Mas mesmo destes modes ainda deu prá gente tomar umas pingas na bodega do seu Manuel e ir ver a novena na cidade. Como a Santa tava bonita e como o seu vigário tava alegre.
Mariazinha continua tossindo, o céu continua azulado, tão azulado como o pano que enrolou Cecinha. Mas vai chover, se Deus quiser, vai chover. E Deus é bom. Vai chover sim, vai chover.
Inácio Augusto de Almeida
Sinto esta mesma dor expressa no relato quando ando pelo interior do nosso sertáo tão sofrido. É lamentável!
Caro xará, Isto é produto da incapacidade real dos governantes que somente olham para a ELITE deste PaÃs desde o descobrimento, bastava que se cumprisse oq ue está positivado na nossa constituição em defesa dos mais sofridos;a carta magna autoriza o governante a adotar polÃticas e fomento à s regiões que são castigadas tanto pela natureza ,quanto pelos polÃticos, bastava que se perfurasse poços artesianos profundos com subsÃdios e taxas amenas à s glebas, somente com isto já terÃamos um grande avanço, pois o nosso problema antigo é a falta dágua;pois em Patu existe um rapaz que está vendendo 140 litros de leite por dia e nascendo bezerros gordos, comprando ração em baraúna e com um poço artesiano. o problema é a água, não poderemos mais esperar por são Pedro, temos como retirá-la do sub solo, basta ter vontade polÃtica.