• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 25/11/2007 - 00:41h

Chiquinho Duarte

Desconfiado em pessoa, Chiquinho Duarte atendeu ao meu telefonema sem identificar-se, querendo saber meu nome, o que faço, quem sou, como obtive seu número e por que estou ligando etc, o que quase me tirou do sério, quando, afinal, descobri que estivera há bons dez ou quinze minutos falando com o próprio, Chiquinho Duarte, como sabemos, o decano dos nossos colunistas sociais e uma celebridade de Mossoró. 

Funcionário aposentado da Rede Ferroviária, seu sonho de vida era ser chefe de gabinete do Presidente da República e, em escala decrescente, em termos de importância, de um senador da República ou governador; no mínimo de um deputado federal, pois deputado estadual e prefeito, para ele, não estão com nada.

Avaliem, agora, o que Chiquinho pensa dos vereadores, especialmente desses vereadores trambiqueiros que fazem do mandato moeda de troca e participam de arrumadinhos que lhes rendem gordas propinas e vantagens sempre insuficientes para o tamanho do apetite desses privilegiados detentores de mandatos que se transformam em meio de vida na mão de políticos inescrupulosos.

Vereador, de cidade grande ou pequena, na visão do nosso personagem, representa caixão e vela preta. Vade retro, senhores. Chiquinho Duarte não se mistura com o baixo-clero… 

Toinho Silveira é o seu ídolo. O modelo do colunista de sucesso, glamuroso e bem relacionado com celebridades federais.

Digo-lhe, pois, que o conheci de nome, há muitíssimos anos, justamente pela boca de Toinho Silveira, que em Mossoró muitos chamam simplesmente de “o filho de Milton”, enfermeiro e vereador com direito, em uma época não muito remota, a assento na cobiçada e rica cadeira de presidente da Câmara Municipal, graças ao aval do deputado Vingt Rosado, seu líder e, enquanto viveu, o maior eleitor do município e de municípios satélites de Mossoró, até hoje um feudo político e econômico dessa família que ostenta, presentemente, uma senadora, dois deputados federais, uma deputada estadual que acumula a função de secretária de estado e uma prefeita que chora toda vez que não pode atender a algum pedido dos pobres que a procuram em busca de valimento.

Todos lutando por essa brava gente mossoroense, segundo o escritor Edgar Barbosa, digna de ser levada a uma Cruzada ou a qualquer outro empreendimento que exija esforço e heroísmo. Tudo isso sou obrigado a explicar para que o leitor saiba com quem estou lidando ao escrever estas linhas tortas.

Confesso que me deixei envolver de imediato pelo carisma de Chiquinho, que, apesar de beirar os oitenta anos, conserva como que um ar de menino bisonho, ali diante de mim, vestindo shorts e uma camiseta do tipo regatas, falando pouco, querendo saber muito e, sobretudo, negaceando atender à curiosidade do repórter que entendeu de escrever o seu perfil para um livro sobre personalidades da famosa Terra de Santa Luzia.

Noto que ele tem no lóbulo da orelha minúsculo brilhante, originalmente do seu anel de formatura em Sociologia, curso feito no Recife, onde viveu e trabalhou antes de seu regresso definitivo à cidade onde viu a luz pela primeira vez. 

Perseguido pela pobreza, Chiquinho tem uma linda história de vida. Desde o seu tempo de menino –, queridíssimo pelo pai, um humilde marceneiro que ia todos os dias levar-lhe, num colégio de ricos e remediados, o lanche constituído de um pedaço de rapadura e um punhado de farinha seca que Chiquinho ia comer trancado no banheiro, para não ser chacoteado pelos colegas que se regalavam com bolos e tortas –, até presentemente, quando continua a mesma pessoa solidária de sempre, repartindo criteriosamente seus proventos com parentes e amigos, mais necessitados do que ele.

Por toda a vida, lutou para melhorar a vida dos amigos, pagando-lhes, muitas vezes, seus estudos. Dona Chica Boa, entre outros, terá sido um desses privilegiados.

Além disso criou os sobrinhos que agora retribuem com carinho, amenizando a sua velhice, coisa incomum entre machos e especialmente entre parentes. E ainda há quem diga que não há famílias felizes.

Homem de clubes, por toda a vida participando dos acontecimentos sociais da cidade, sempre amou o glamour e o mundanismo, sem, no entanto, tirar proveito da vaidade dos ricos, que no apogeu de sua audiência, dele se aproveitavam para ostentar riqueza e prestígio.

Seu orgulho – nunca ter comido de graça em restaurantes, por conta de sua condição de cronista mundano, ligado não ao jornalismo impresso, mas ao rádio que em Mossoró continua liderando a preferência dos cidadãos.

Assim o Chiquinho Duarte que conheci e admirei, numa conversa de fim de tarde, arrematada por um cafezinho.  

Franklin Jorge, escritor e jornalista (franklinjorge@yahoo.com.br)

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Categoria(s): Nair Mesquita

Comentários

  1. Francisco C de Paula Segundo diz:

    Conheci Chiquinho Duarte mais precisamente, morando no Recife, ele trabalhando na rede Ferroviária daquela metrópole e nós estudantes, todos de Mossoró sempre com muita saudade da terrinha e tínhamos na pessoa de Chiquinho Duarte o grande protetor que sempre dava a todos nós a palavra amiga e o apoio que precisávamos. E posso afirmar em nome daqueles que comigo morávamos em Recife, como Junior Benjamim, Del Frota entre outros, que tínhamos no amigo Chiquinho Duarte um grande apreço pelo o que ele representava para todos nós.
    Parabens pela entrevista e realmente o repórter conseguio mostrar o entrevistado como realmente ele é.
    Segundo Paual

Trackbacks

  1. […] AQUI uma bela crônica sobre Chiquinho Duarte, escrita pelo jornalista Franklin Jorge e posta pelo Blog […]

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