domingo - 02/11/2025 - 07:16h

Conversas nas calçadas

Por Odemirton Filho

Arte ilustrativa com recursos de Inteligência Artificial para o BCS

Arte ilustrativa com recursos de Inteligência Artificial para o BCS

Um dia desses, estando no centro da cidade de Mossoró, naquele calor que conhecemos e sentimos, passei em frente ao prédio onde funcionava a Rádio Rural, o qual se encontra em reforma. Veio-me à lembrança uma história que escuto desde que “era criança pequena lá em Barbacena”.

Conta-se que padre Mota, que residiu no referido imóvel, costumava receber na calçada da casa, pessoas das mais variadas classes sociais, as quais vinham para conversar sobre os mais diversos assuntos. Como sempre havia muita gente, cada um tinha a obrigação de buscar e deixar no mesmo lugar a cadeira que iria se sentar; das pessoas mais humildes até políticos, comerciantes, profissionais liberais, todos tinham esse dever.

Bom, não sei se a história é verdade, tô vendendo a mercadoria do preço que comprei. O fato é que é costume nas cidades do interior as pessoas se sentarem nas calçadas, reunindo familiares, vizinhos e amigos para jogar conversa fora. Muitas das vezes, é claro, serve-se um cafezinho coado para acompanhar a prosa.

Lembro que Paulo Lúcio, meu vizinho no centro da cidade, tinha o hábito de reunir alguns amigos na praça que ficava em frente a sua casa. Lá, a conversa rolava até altas horas, principalmente sobre política.

Nos bairros mais afastados do centro da cidade, e nos municípios de menor porte, acho que o costume ainda persiste. Hoje, entretanto, ninguém pode enxergar duas pessoas vindo numa motocicleta que já fica com medo de ser vítima dum “assalto”.

As calçadas, de igual modo, serviam (ou ainda servem?) para os namorados, ambos sentados em cadeiras de frente uma para outra, sob o olhar atento da genitora da menina-moça. Existiam as mães que, enquanto “pastoravam”, rezavam o terço, às vezes tiravam um cochilo, mas não deixavam os namorados sozinhos; pra o casal se beijar era um aperreio medonho.

Em outros tempos, também era comum que algumas pessoas varassem a madrugada sentados nas calçadas das casas, às vésperas do dia das eleições, esperando receber algum “agrado” dos candidatos. Eu só não sei se atualmente acontece.

E neste dia, no qual lembramos os nossos falecidos, talvez, venha à lembrança algumas pessoas queridas, que sempre estavam presentes nas conversas das calçadas, no finalzinho da tarde, adentrando a noite, onde se desenrolava um bom bate-papo e muitos, muitos sorrisos. Bons tempos.

Enfim, as conversas nas calçadas, sem dúvida, fazem parte do cotidiano do nosso povo. No entanto, infelizmente, tornou-se um lazer perigoso, diante da insegurança e da violência que assolam o nosso país.

Que Deus proteja a todos que ainda preservam esse costume.

Odemirton Filho é colaborador do Blog Carlos Santos

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Marcos Pinto. diz:

    Parabéns pela ótima e bem contextualizada Crônica.Elencou de forma exímia o cenário pacato e hospitaleiro das cidades interioranas, ditas provinciana. O que marca a paisagem⁶ cotidiana é a nostálgica sensação de que o tempo é adoçado pelo tanger da tranquilidade, parecendo passar em conta-gotas, ao contrário da azáfama e da violência wuase sempte reinantes nas Metrópoles. Já fixei como meta para os meus dias de velhice passar a residir, sozinho, “in riba” da minha amada Serra Apodi, onde estão guardados todos os meus segredos r peraltices de menino traquejado nos mistérios da caatinga.

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