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domingo - 15/10/2023 - 06:50h

Corpo fechado

Por Bruno Ernesto

Ilustração da Champion Dog

Ilustração da Champion Dog

Recentemente, li uma excelente crônica do grande Marcos Ferreira, na qual ele passou por uma quizomba daquelas (veja AQUI)! Quase parou no hospital. Um aperreio.

Tem quem não acredite em mau-olhado, olho gordo, quebranto, inveja, mandinga, enguiço, mau agouro e outras coisas.

Na última sexta-feira 13, pipocaram publicações na internet (que Xangô me perdoe), sobre essa data simbólica.

Eu mesmo publiquei a foto de Liev, meu gato preto da sorte.

Quando li a crônica de Marcos Ferreira, que falava sobre um mal súbito, possivelmente um mau-olhado, de súbito (desculpem o trocadilho), lembrei do mestre Luís da Câmara Cascudo e seu livro Meleagro, no qual fala de magia, catimbó, superstição, religiosidade e fechamento de corpo.

E, veja, Cascudo era católico fervoroso.

Quem já não teve medo de alguém lhe varrer os pés?

Certamente, você, leitor, já desvirou a sandália para proteger sua mãe. Talvez tenha colocado uma vassoura atrás da porta, batido na madeira três vezes e levado seu filho para rezadeira.

Minha mãe, católica fervorosa, me levava para Dona Mafisa me benzer com arruda e vassourinha quando era criança. Talvez para me livrar de uma pneumonia. Nunca esqueci.

Até Lampião, para a surpresa da volante que o matou na Grota do Angico, levava no seu bolso a oração da Pedra Cristalina. Talvez tivesse também a oração das 13 palavras ditas e retornadas. Quem sabe?

No aperreio ou por hábito, todos nós, consciente ou inconscientemente, consideramos certos rituais importantes para nossa saúde espiritual.  Sexta-feira 13 passada, vi muita gente demonstrar isso, e achei excelente.

Afinal, tem quem não acredite. Mas não duvida.

Incenso, trabalhos de amor e outras mandingas também são populares. Bem, mas isso é outro assunto.

Há quem coma churrasco à noite, mas compre sal só durante o dia; não tenha medo de coruja, mas horror a rasga-mortalha e urutau; adore chá de arruda, faça figa, tenha olho grego pendurado na porta e reze um pai nosso antes de dormir.

O sincretismo religioso é tudo.

Já escolheu sua roupa anil, renovou sua folha de louro na carteira e passou desinfetante de lavanda?

Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Bernadete Lino/ Caruaru-PE diz:

    Incrível! Consegui me identificar em algumas situações! E ainda acrescentaria não passar debaixo de escada; não é aconselhável! Rezadeira eu sempre respeitei e recorria a uma amiguinha, que faleceu recentemente, chamada Bila, viúva do gaitista Tavares da Gaita. Rezava minhas filhas quando, sem motivo, ou depois de serem muito elogiadas por algumas pessoas, ficavam molinhas e sem apetite! Era tiro e queda! A crônica de Marcos Ferreira, que eu acompanho nesse Blog, foi muito interessante! Por via das dúvidas, costumo não desafiar o que não conheço e tenho pequenas “manias”.

  2. Marcos Ferreira diz:

    Meu caro cronista Bruno Ernesto,
    Salve! Salve!
    Como se diz, você matou a pau. Que beleza de crônica! Uma riqueza! Quanta informação preciosa e imprescindível. Fiquei impressionado com seu conhecimento sobre esse universo mítico e místico. Claro que me sinto honrado com sua referência ao meu nome, aludindo à crônica que esquevi sobre mau-olhado. Grato. Mas você não esqueceu nem mesmo a sexta-feira 13, data pela qual tenho um inexplicável gosto. Enfim, meu amigo, parabéns!
    Forte abraço e uma ótima semana para você.

    • Bruno Ernesto diz:

      Odoyá, Marcos!
      Obrigado pelas palavras.
      Gostei tanto da sua crônica, direta e intensa, que não poderia deixar de lhe mencionar nessa minha crônica.
      Penso que lhe vi no supermercado há alguns dias. De longe, confesso que fiquei curioso para saber se você estava levando mais alho e sal que o habitual!
      Abraços!

  3. Delvani Valdes de Murilo diz:

    Boa tarde. Li sua crônica “corpo fechado”.Conheci essa oração através do meu amado pai. Ele a conduzia no peito e no quengo, com o zelo e a fé de quem conduz um andor.

  4. Delvani Valdes de Murilo diz:

    Boa tarde. Li sua crônica “corpo fechado”. Vii com surpresa que você se referiu à oração das 13 palavras ditas e retornadas.Conheci essa oração através do meu amado pai. Ele a conduzia no peito e no quengo,com o zelo e a fé de quem conduz um andor.

  5. Marcos Pinto diz:

    Superstições e outras temeridades se resume, sertanejamente falando, curto e grosso, em configurado surto de frescurite aguda. Pronto ! falei. Essa é de lascar.

  6. Marcos Pinto diz:

    Basta crer com DNA Divino para não incorrer no modo avião de frescurite aguda. Essa é lascar. Tenho dito.

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