Por Bruno Ernesto
Ainda alcancei o tempo de tomar um refrescante copo d´água no pote de barro. O tibungado do copo nele é inconfundível.
Há umas três semanas pude tomar um belo copo d´água de um pequeno pote posto já há muito tempo na cozinha lá do sítio da minha família.
O cheiro da fumaça e da comida sendo preparada no fogão à lenha fez aquela água, bem fria e doce, descer como uma lágrima que escorre nos olhos de saudade do que já vivi por lá desde criança.
Fazia tempo que não via um pote, natural e tradicionalmente, posto na cozinha, sem que fosse um projeto paisagístico. Não que sua inclusão não seja bem-vinda, muito pelo contrário; quanto mais adeptos, melhor.
Nossa casa deve necessariamente refletir nosso estilo de vida, interesses e convicções. Disse e repito: não delegue a sua personalidade.
Se você ainda não percebeu, até os simples trabalhos manuais num sábado ou domingo em casa faz toda a diferença no nosso bem-estar, ainda que você não tenha o menor domínio sobre o que tenta fazer; quer seja organizando as panelas, talheres e louças na cozinha, os livros na estante do quarto ou na mesinha da sala, emoldurando uma fotografia impressa – sim, ainda há quem as “revele” – ou ajeitando o seu jardim.
Em algum momento da vida, enquanto aguardava a sua vez de passar pelo caixa do supermercado, você decidiu que iria iniciar uma pequena horta em casa e comprou aqueles pacotinhos de papel com sementes de hortaliças postos estrategicamente próximo deles: tomate, pimenta, salsa, cenoura, alface, abobrinha, couve, beterraba, rúcula, cebolinha etc.
Não duvido que tenha pedido à pessoa do carrinho logo atrás do seu para guardar a sua vez enquanto você correu feito louco em busca de um saco de adubo. Talvez tenha até se interessado por uma daquelas pequenas pás pintadas de laranja.
Embora tenha inúmeras pequenas e terapêuticas ocupações, dentre as quais cuidar diariamente dos meus gatos, a jardinagem é uma das minhas preferidas.
Aliás, essa relação entre gatos e plantas é muito problemática, pois há plantas que podem ficar no mesmo ambiente que eles e outras – muitas – são terminantemente proibidas, pois eles adoram mordiscá-las e isso é um terrível problema, uma vez que podem acabar intoxicados e nem as sete vidas os salvarão.
De um tempo para cá, para organizar um novo jardim, passei a garimpar potes de barro para transformá-los em jarros, especialmente para colocar crótons que precisam de um bom banho de sol e uns poucos goles d´água. O contraste do cróton com o pote é inigualável.
Viu por qual motivo não sou contra projetos paisagísticos? Desde que você empregue sua personalidade, esse sincretismo, essa fusão, é mais que interessante. Se não acredita, recomendo que aprecie as belíssimas criações de Christian de Saboya, como ele próprio gosta de dizer, o homem dos potes; muitos deles trazidos lá de Trucunhaém.
Assim, quando vir por aí um pote – quanto mais velhinho e rústico melhor -, lembre dos crótons e me avise.
Pode não servir mais para matar a sede, ou mesmo ter preço para uns, mas para mim tem valor.
Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor
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