Por Honório de Medeiros
Certo amigo meu, até recentemente ateu, me contou acerca de sua conversão.
Disse-me ele que na meia-idade do conhecimento, na qual chegou por caminhos tortuosos, após perambulações de toda a ordem no universo da vida e dos livros, deu-se conta que era o momento de fazer um balanço em regra de sua vida passada e fazer um planejamento, mesmo que capenga, para o resto dos seus dias.
Um assunto, em especial, clamava por atenção: sua relação com a Fé.
Após esse primeiro ponto firmado, pôs-se a examinar o tema por um viés, digamos assim, oblíquo: entendeu que o importante era pensar acerca do mundo tal qual o estava encontrando, naquele momento. Colocou as mãos à obra.
Em sua procura, olhando para os lados, para trás e em frente, por todos os ângulos, de todas as formas, somente encontrou o horror, a escuridão mais negra, uma história de sangue e dor, excetuando-se um ou outro ponto de luz a sobreviver sabe-se lá como, nem por quê.
Explicou-me essa constatação fazendo um paralelo: “imagine”, disse ele, “o milagre da sobrevivência da Igreja no auge da Alta Idade Média, após a queda de Roma, quando iniciou o período que os historiadores antigos chamavam de ‘Idade das Trevas’”.
“O mundo se transformara, então, em um caos. A Igreja, entretanto, sobreviveu graças aos monges irlandeses, que no silêncio e na solidão de seus monastérios, copistas que eram, crentes integrais, legaram ao futuro a doutrina de Cristo”.
“É como se hoje em dia vivêssemos um período semelhante. Horror e escuridão, novamente, ou sempre, e o mal lutando com unhas-e-dentes para dominar, para ser hegemônico. Guerras, genocídios, estupros, roubos, torturas, infanticídios… A lista é infindável”.
“Se há o mal”, disse-me ele, para concluir, “então há o Bem. Se há o Bem, então há Deus”.
E, assim, por intermédio dessa estranha conclusão, de forma alguma absurda, ele chegou à Fé. E que Deus o tenha em seu regaço.
Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura de Natal e do Governo do RN
*Crônica extraída do livro De uma longa e áspera caminhada, pela Editora Viseu.
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