Natal sempre me reserva novidades, boas surpresas, o belo. Confesso, logo, um gosto diferente pelo lugar. Telúrico, sim.
Mas, também, às vezes me prega alguma “peça. Agora, veja só, fez emergir em mim um dos sete pecados capitais: sou “devoto” da inveja.
Como não desejar a Biblioteca de Vicente Serejo e Rejane Cardoso, no Morro Branco, sob uma paz celestial e seus 16 mil livros? Estão arrumados ao lado de quinquilharias por todos os lados, numa harmonia que deixa até um jacaré petrificado à sua entrada, com cara amistosa e inofensiva. Se ele serpenteasse, ganhando vida, não me assustaria.
O café, o vinho do Porto, a conversa sem pauta, eira nem beira, tudo empurra o relógio para frente – sem que percamos o passado de vista. O odor do charuto de Serejo no ar, longe dos livros, forma uma atmosfera de filme ‘noir’. Um preto-e-branco expressionista.
Nas paredes com fotos, gravuras e até um par de autênticas alpercatas sertanejas (em moldura), o tempo acaba dando meia-volta. Fica para trás. E é essa ampulheta entranha, que faz os minutos correrem.
Nesse labirinto projetado pela própria jornalista Rejane, tudo parece estar em seu lugar: Câmara Cascudo, Eloy de Souza (seu avô), Drummond, Proust, Hemingway…
É-me dado o direito de também compor “Bibliô”, um livro que há anos está em formatação pelo casal, que o entrega aos visitantes para que manifestem de próprio punho algum tipo de relato ou reflexão sobre a visita. “É uma fotografia de próprio punho”, identifiquei.
A ideia é simples, por isso muito luminosa.
Senti-me perpetuado ao dissipar meu hieroglifo em suas páginas.
Fiquei de voltar.
16 mil livros;me pergunto,quem lê,16.000 livros?
Eu cá,na minha caixinha de bolachas,tenho uns 100,mas,acho só li uns 10,ou seja 10%( só P.Mccartney 3),os outros,a cartilha de Sarita e outras “pérolas”.
Homi,vá cagar! Ninguém lê 16.000.
hé!hé!
Olá Zéro Berto,
A questão não é QUEM LÊ 16 mil livros, e sim quem NÃO LÊ 16 livros durante toda a vida, amigo. Vicente
Serejo é um bibliófilo – assim como José Mindlin, que viveu mais de 90 anos! o foi – e não adquire livros APENAS para ler, mas, sobretudo, para tê-los, sopesá-los entre as mãos, sentir-lhes a maciez ou a aspereza das páginas entre os dedos, o cheiro da tinta da impressão, a beleza do relevo de uma gravura encravada na capa. Você sabe o que significa isto? sabe não? pois Serejo e Rejane SABEM!
Dinarte Cavalcante
Seria muito bom se esse pecado capital, nesse sentido contaminasse as autoridades de Mossoró, e assim pudessem imitar esse empreendimento no casarão de Dorian Jorge Freire.
Se eu leio um livro dos 16 mil, é louvável a iniciativa da biblioteca, pois outros irão ler outro e outro. Não necessariamente tenho que ler os 16 mil livros. De uma coisa eu sei: O fumo faz mal a saude e a agora é lei, não se pode fumar em local fechado. Portanto, o charuto não deve nem ser citado nesse espaço.