Por Carlos Santos
Médico, casado com dona Isaura Treizième Rosado Maia, irmã de políticos como Dix-huit Rosado, Vingt Rosado e Dix-sept Rosado, doutor Lavoisier Maia dominicalmente recebia em sua casa a visita do monsenhor Huberto Bruening. Ele não faltava nem se atrasava nunca.
Depois de oficiar missa na Catedral de Santa Luzia, em Mossoró, o espigado pároco da matriz mossoroense saía ziguezagueando pelas ruas do Centro, pisando seu calçamento irregular, até à porta de Lavoisier-Treizième.
O ritual era o mesmo: um farto almoço e conversa a engolir também o tempo. A prosa só era arrefecida com a vontade de um e do outro de aproveitar a sesta. E lá ia monsenhor Huberto Bruening de volta à casa paroquial, quase jiboiando.
A amizade dos dois era supostamente incomum, em face de uma diferença abissal que os separava no campo da espiritualidade e compreensão do papel do homem na sociedade: Maia era ateu convicto, talvez até por forte influência da corrente filosófica do positivismo; Bruening, um ortodoxo católico, apostólico, romano, apegado ao Espírito Santo Paráclito. Devoto de Santa Luzia, que se diga.
Ambos, contudo, muito cultos. E amigos extremados. Nunca se soube de nenhum arranca-rabo entre eles.
O bom debate às vezes deixava Treizième Rosado confusa, pois duelavam arrimados em suas convicções, num nível intelectual muito elevado. Maia usava a ciência para fundamentar de forma concreta o seu ponto de vista, e Bruening recorria aos primados bíblicos e teológicos para retrucá-lo, numa catequese sem fim.
No fundo, existia uma aprendizagem respeitosa e recíproca. Um bom exemplo de tolerância aos pensamentos e opiniões diferentes. Eles produziam uma dialética complementar, que só fortaleceu a amizade, a eternizando.
Quem me contou um pouco dessa amizade entre Lavoisier e Huberto foi o empresário Marcelo Rosado, neto materno do casal anfitrião. Lavoisier Maia, natural de Catolé do Rocha-PB, falecido em 8 de outubro de 1971, aos 75 anos; dona Treizième, mossoroense, despediu-se no dia 10 de abril de 1999, aos 92 anos.
O religioso de São Ludgero-SC foi a óbito em 29 de agosto de 1995.
Leia também: Monsenhor Huberto Bruening – vida doada a Mossoró
Carlos Santos é criador e editor do Blog Carlos Santos
Parabéns pelo texto. Não poderia ser diferente. Acredito ser proveitoso o resgate de fatos de nossa história. No caso, é o resgate da memória da cidade e suas personagens em nossa história. E você inaugura em alto nível, com texto leve, porém rico de conteúdo.
Grato.
Sempre fui fã da sua escrita. A cada novo texto lido, mais admirador me torno. Que venham mais narrativas assim…
Como é gostoso saborear a leitura desse nível, nos levam aos tempos áureos da nossa História.
Tenho em memória a figura do monsenhor Humberto.
E a lembrança também das missas que eram transmitidas pela rádio rural e minha mãe ligava o rádio.
Muito boa a leitura.