Por Marcos Araújo
Hoje, 12 de abril, dia dedicado pela igreja católica a São José Moscati, faleceu o médico Edênio Rêgo. Algumas coincidências associam o Santo Moscati a Dr. Edênio: ambos eram médicos de reputação indiscutível, cuidavam de causas incuráveis, eram os dois de alta estatura, e, excepcionalmente, muito dedicados aos seus pacientes.
No remoto ano de 2001, numa das minhas viagens à Natal, no percurso, minha mãe sofreu um princípio de infarto. Levada ao Hospital, ali foi atendida por um médico risonho, um sujeito grandão, com voz tonitroante, que conquistou a paciente e os acompanhantes. Iniciava naquele momento uma relação de amizade que perpassava mais de duas décadas. Por esse tempo, ele consultou e tratou todos os cardiopatas de nossa família.
Fernando Pessoa, em uma de suas poesias, ensinou que se a pessoa quiser ser grande, seja inteiro. E pedia que cada um se coloque plenamente no mínimo que for fazer. Pela sabedoria da recomendação, vale a pena relembrar o texto: “Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.”
Como bom Pessoense, Dr. Edênio era inteiro em tudo que fazia. Em cada atividade, deixava suas especiais características: na Polícia Militar, foi médico com brio e zelo pela corporação; firmou-se e manteve-se cooperado da Unimed (numa época de desfiliação de muitos profissionais renomados), apenas pela satisfação de continuar atendendo a muitos dos seus pacientes de menor poder aquisitivo; gentilmente atendia a telefonemas e respondia a mensagens de WhatsApp com a mesma presteza como se estivesse em seu consultório; brigava com os pacientes cobrando qualidade de vida e menos trabalho, ainda que ele próprio tivesse uma vida profissional muito atarefada…
Parecia ter uma “ectopia cordis”, aquela cardiopatia congênita em que o coração anomalamente fica fora da cavidade torácica. O coração do “Gigante gentil”, de tão grande, era fora do corpo. Demonstrava compaixão pessoal pelos pacientes, procurando saber o que fazia, o que comia, como trabalhava, fazendo uma anamnese psicossocial e alimentar incomum aos médicos do nosso tempo, para somente depois de uma longa conversa, indicar dietas e mudanças comportamentais.
Queria entender os vícios do corpo e da alma. Se o corpo é a extensão da alma, como sustenta Michel Foucault, Doutor Edênio, com generosidade e paciência, tolerava os vícios dos seus pacientes. Aos bebedores, a tolerância de uma taça de vinho; aos “cafeinados“ como eu, permitia um cappuccino quando tivesse estressado.
Minha irmã Odinha, interlocutora da família em todas as doenças, fazia dele um oráculo constante de Asclépio, o Deus da Cura e da Medicina. Os carões que ela me dá, sempre traz um preâmbulo: “como Doutor Edênio lhe disse…”
Avisado por Dr. Inavan de sua partida, e depois reportado do mesmo fato pelo seu primo-irmão Paulo Gameleira, faço silêncio na minh´alma. Resguardo o meu coração pela gratidão dos seus cuidados.
Nesta brevidade do tempo atual, em que os bons vão cedo, lembro da nossa última consulta e do seu sorriso de última hora, com o pensamento de Wiliam Blake: “Ver o mundo em um grão de areia/ E um paraíso numa flor selvagem. Segure o infinito na palma da sua mão/ E a eternidade em uma hora”. Sei que São José Moscati o esperou na porta do céu. E Nossa Senhora dos Impossíveis, a forma esperançosa de Nossa Senhora, o acolheu em seu seio sagrado.
À sua esposa e filha, diante de perda tão grande, um belo conforto pode ser encontrado nas palavras – parafraseadas – de Salomão, no Capitulo 3,1-9, do Livro da Sabedoria: “Aos olhos dos insensatos, parece ter morrido; ele, porém, está em paz”.
Está em paz e viverá na memória de todos os seus amigos e pacientes que, a exemplo de mim, tiveram o privilégio de conhecê-lo de perto. Ave, amigo e médico, Dr. Edênio! Requiescat in pace!
Marcos Araújo é advogado e professor da Uern
*O cardiologista Francisco Edênio Rêgo Costa, 53 anos, sofreu um acidente doméstico à noite passada, ao cair de uma escada. Teve traumatismo craniano e por volta de 3h da madrugada desta quarta-feira (12) veio a óbito. Seu velório acontecerá a partir de 16h, com missa de corpo presente às 17h e sepultamento às 18h, tudo no Morada da Paz, em Emaús (Parnamirim).
Graduado pela Universidade Federal do RN (UFRN) em 1992, ele era diretor e corregedor no Conselho Regional de Medicina (CREMERN), capitão da Polícia Militar do RN e cooperado da Unimed.
Teve infância no entorno da Capela de São Vicente, Centro de Mossoró, colecionando amizades.
Acompanhe o Canal BCS (Blog Carlos Santos) pelo Twitter AQUI, Instagram AQUI, Facebook AQUI e YouTube AQUI.
Dr. Edênio, descanse em paz! Siga no caminho da Luz . Que Deus conforte sua família e amigos 🙏
Escreve com a alma sempre!
Dr Edenio merece esta linda homenagem!
Que testemunho humano e sincero este, amigo Marcos Araújo.
Quem não conheceu pessoalmente o pranteado, seu RX cirúrgico em forma de homenagem, faz as boas pessoas de almas puras rogarem a Deus para que receba dr Edênio na bem-aventurança celestial.
Cada escrito seu para mim, amigo Marcos Araújo, é um arquivo a mais que guardo para o meu aprendizado.
Um abraçaço.
Que perda irreparável.
Que homenagem linda.
Temos o mesmo DNA da tradicional família Rêgo, da tegiaodo alto Oeste poriguar. Sou neto materno da respeitável Professora de Primeiras Letras em Pau dos Ferros (Década de 30 (1930) dona AMÁLIA SEVERIANO DA COSTA RÊGO (Professora dona Mirosa Rego). Deus o acolha na mansuetude da sua Corte Celestial. Meus pêsames aos distintos parentes. À LUZ PERPÉTUA O RESPLENDOR.
Que Deus tenha em melhor lugar, este cidadão que contribuiu com a saúde e a vida de muitos do nosso Estado. Merece de Deus o melhor conforto espiritual. E a eterna proteção divina