Percebo que cresci. Flagrei-me dando boas gargalhadas de micos e idiotias próprios.
Histórias recentes, que se diga.
São reveladoras.
Do nada, o riso frouxo e desbragado. Parece sem fim.
É um filme sendo rodado de trás para frente. Se fosse com outrem, seria engraçado e pareceria escárnio.
Acho que seria imperdoável.
Comigo, não. Tenho bons e bons motivos para rir de meus deslizes, bobagens, fragilidades.
É, amadureci…
Que bom!
Como diz filosoficamente meu querido amigo Diassis Linhares (radialista mossoroense), “umas pessoas amadurecem, outras apodrecem.”
Experiência é tempo vivido. Maturidade é o que a gente fez desse tempo vivido, convertendo-o em bom senso. Sapiência.
Não se levar muito a sério e tolerância cabem e são fundamentais a esse coquetel. Quão difÃcil é alcançá-los.
Apelidos, troça com o próprio fÃsico, lero-lero com a idade que passou do Cabo da Boa Esperança, tropeços amorosos, rasteira de ‘amigos’, fracassos profissionais ou a simples topada à porta de casa são motivos pra gargalhada solitária.
Um palavrão escapa. E daÃ? Sou humano, mesmo que logo me venha a reprimenda inoculada ainda na infância. O subconsciente fala mais forte: “Feche essa boca podre!”
Kkkk!! Fecho, sim.
O dinheiro é ralo? Sem problema.
Sou mesmo um “liso estável” há décadas, o que me garante uma estabilidade muito superior à maioria dos mortais do pindorama brasileiro. Não devo à Riachuelo, não tenho carnê da Casas Bahia, nenhum carro financiado ou empréstimo consignado.
Portanto, “um bom partido”, mesmo assim um Rapaz Velho Encruado, modelo standard.
Previno-o: por favor, não me julgue um insensÃvel e gélido como um psicopata siberiano. Nem superior, inatingÃvel e acabado. Estou sendo feito e moldado ainda.
Se der tempo, me completo. Se tiver a benção, serei acrescido. Se não houver jeito, fico com o débito. Aceite-me assim.
Parei há muito tempo de me estressar com coisas pequenas, de superdimensionar bobagens e entrar em erupção por não cumprir certas convenções sociais. “Epitáfio”, da banda Titãs, é inspiradora:
(…) Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor…
O complexo de transferência de culpa, sempre atribuindo a outrem ou ao acaso, a responsabilidade por meus desapontamentos, não é minha regra. É a forma mais popular de se livrar dos próprios erros, que a humanidade utiliza há milhares de anos. Eu, não.
Carrego meus próprios fardos e às vezes até alguns alheios, que não me caberiam. Porém me pergunto, se a vida seria mais leve, se eu não os tivesse. Creio que não.
Sei de mim.
Falta agradecer mais. Pedir, quase nada. Não muito.
Detenho mais do que o planejado e bem além do que talvez mereça. Parte, por méritos, acredito. Outra porção, por aquela sorte de ter encontrado com as pessoas certas em horas que eram turvas.
Seria o fim sem elas. Com elas, garanto sempre o recomeço amparado.
Falo o que penso, gosto de graça e trato com indiferença meus verdugos a ponto de não lhes dedicar um único segundo dÃário de minha vida. Nem seus nomes pronuncio. Não é representação, mas desimportância.
Caso tÃpico de adoção do “princÃpio da insignificância”.
Ser pai, amar meu trabalho e gostar dos meus amigos me dão um oxigênio novo a cada dia.
Conheço o amor e o desamor. O primeiro, alimenta; o outro, ensina. Ambos me humanizam.
Brindo com uma taça de vinho, tomo a água que mata minha sede; cada coisa a seu tempo e hora.
A vida é para rir ou chorar?
Para ser vivida.
A gente continua jogando aquelas pedrinhas no lago. Formamos seguidos cÃrculos concêntricos, até atingirmos suavemente suas margens – como o beijo cálido da mãe fervorosa no rosto do filho amado e, ainda, imberbe.
“A gente rir, a gente chora…” (‘Chorando e cantando’, Geraldo Azevedo).
É, amadureci…
Belo texto!
Amigo Carlos.
De inÃcio vou logo dizendo que vc é um privilegiado. Ser “liso estável”, não é para qualquer um. Em seguida,lastimo dizer que ainda carregará muitos fardos alheios. Tais fardos são, muitas vezes, a alma das notÃcias. No que os carrega, está produzindo. Não me refiro a remunerações. Quero dizer que a escrita é a forma que lhe foi concedida para identificá-lo como criatura capaz de atingir o raciocÃnio e discernimento de outras criaturas. Isto é muito, Carlos. Através da escrita vc pode alcançar o bem comum, contribuir! Talvez, esta a parte que lhe caiba “neste latifúndio”. Um pedido de doação de sangue,o acréscimo de sua voz digitada, mas alta, apresentando um texto que retrata a fome e a miséria de nosso povo. Carlos, o copo de leite.
Agora, por favor, vc já é um rapaz velho encruado, não amadureça muito…pq o próximo passo pode ser o uso de bengala…KKKKKKKKKKKKKKKK…isola, um, dois, três…
Abraços, rapaz velho.
Naide
Exelente texto, Carlos.
MIM FEZ NOVAMENTE VER QUE AGENTE AMADURECE, MAS OQUE VIVEMOS NESSE PERIODO CONTRIBUI PARA O QUE SOMOS HOJE.PARABENS.