sábado - 08/10/2011 - 13:23h
Dia do Nordestino

É meu sertão, meu pedaço de chão…

Juazeiro frondoso e generoso do nosso sertão

Minino, não sou cabra da peste, muito menos ajegado.

Sou nordestino amatutado mermo.

Nem pense que sou de butar buneco, metido a presepeiro ou das valentia.

Tenho juízo no quengo, ainda mais nesse mormaço do meu sertão.

Cê sabe que hoje é o Dia do Nordestino!? Devia de saber, homi!

Pisando esse chão rachado, puxando o fôlego da terra empoeirada e amuquecado debaixo do Juazeiro, não nego minha origem.

Sou do Nordeste; tenho orgulho de ser daqui. É meu lugar, onde estou embiocado desde tantinho assim de gente, ó!

Já pensei em arribar, dar adeus a meu povo, renegar minha origem e até procurei falar chiando. Fiquei enfatiotado, botei loção melhor e até uns sapatos lustrosos como pão-doce.

Mas não adianta ficar apoquentado, mandar ninguém pros raio que os parta, mudar o que é minha nascença.

No bisaco, protegido com meu gibão, em cima dessas alpercatas e com minha fala cheia de rudeios ou não, não nego meu naturá.

Lembro do pastoril, choro por um mungunzá, arroz-de-leite e rapadura. E ainda ouço Gonzagão bradar: “Só deixo o meu cariri, no último pau-de-arara…”

Tomo água friinha da quartinha pra limpar a goela e empurro a rede branca no alpendre, pra lá e pra cá. Mas caía bem uma bicada de cana-de-cabeça, pra criar coragem e fazer uns prometidos à muié amada!

Fico a matutar se eu arribasse daqui… Como seria cuidar da espinhela caída, sobreviver ao quebranto, curar o gôgo ou a pereba?

Pior seria o farnizim, a dor da saudade. Conviver com a distância de tudo. Não é lundum ou munganga, não. Dá até um nó nas tripas só de pensar.

P´ronde o pau-da-venta apontar, eu vou. Mas digo logo: só se for bem ali, onde a vista alcançar. Num quero demorar, não. Já imaginou se a morte me pega nas lonjuras?

Tô calejado! Medo mesmo só de papa-figo e papangu, quando eu era pichototinho. Depois dos mininos criado, só num quero apagar os olhos longe do meu lugar.

E pra isso num tô avexado! Quero mais um tempinho aqui nesse terreiro de meu Deus. O bastante para contar muito miolo de pote, fazer uns cabimento com as moça feita, empanzinar o bucho com o que gosto, folhear umas letras e me aperrear vendo futebol.

Se ficar brocoió, tantã, quero demorar não! Pra quê? Com esses cambitos apregado no corpo, um rapaz velho encruado só vai dar trabalho. Num carece, não.

Ora de capar o gato!

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Nilson Gurgel diz:

    Um rapaz velho encruado sim que já interou uma ruma de ano

  2. Hermiro Vieira Gurgel Filho diz:

    Carlos Santos,
    Num sabia que ocê tem a intuinção também de fazer essas prosas(se for sua), de cabras da pestes acostumados a torar rapadura nos dentes, chega as pessoas até escutar o estrondo e muitas artimanhas do sertanejo.
    Ou bicho porrêta. Parabéns nordestino sofrido. Vou repassar adiante essa crônica.

  3. maria gilca fernandes diz:

    Que maravilha!!!!

  4. Antonio Pedro da Costa diz:

    Bravo! Você é demais. Não é à toa que tantos o invejam, ao invés de admirá-lo. Fraqueza humana, fazer o quê.

  5. MÁRCIA LACERDA diz:

    Oi carlos, amei esse texto.Nunhé que oçê descreveu direitin o Sertanejo nordestino caba da pesti.ficou um espetáculo.bjus.

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