Para os que se apressam em análises sobre o papel da oposição em Mossoró na pré-campanha 2020, sua força ou falta de vigor, união ou fracionamento, é preciso uma pausa para conhecer minimamente a história.
Além disso, entender o elementar em polÃtica e da politica paroquial. De saÃda, uma observação visÃvel: os Rosados são polÃticos profissionais e vivem da polÃtica, pontificando no municÃpio de forma contÃnua desde o fim dos anos 40, perdendo apenas dois pleitos à municipalidade em quase 72 anos.
A oposição não-Rosado que segue espalhada e tenta formar chapa (ou chapas) competitiva vai para sua segunda eleição consecutiva como protagonista e polarizadora num pleito, inclusive reforçada por novos personagens como os deputados Isolda Dantas (PT) e Allyson Bezerra (Solidariedade). Até então, ela (a oposição) era apenas figurante com voz ativa (franco-atiradora), mas sem votos ou mÃnima chance de êxito.
Literalmente amadora e às vezes até caricata.
Está aprendendo a andar, andando.
A primeira campanha em que oposicionistas fora desse cÃrculo familiar conseguiram se sobressair nas últimas décadas foi mesmo a passada, em 2016. Praticamente não existiam.
Eleições caseiras e familiares
Até então, desde 1988 (há 31 anos), todas as eleições municipais foram caseiras e familiares, entre Rosados e Rosados, primos e primas. Era o grupo da ex-deputada federal e atual vereadora Sandra Rosado (PSDB) contra o grupo do primo Carlos Augusto Rosado.
Uma exceção é a eleição suplementar de 2014, quando o prefeito interino Francisco José Júnior (PSD) venceu a então deputada estadual Larissa Rosado (PSB, hoje no PSDB). Ele era governo e teve o apoio subliminar de boa parcela dos eleitores do rosalbismo, estimulados pela hoje prefeita Rosalba Ciarlini Rosado (PP), que precisava derrotar a filha da prima Sandra Rosado.
O último confronto municipal em que uma chapa de oposição não-Rosado tinha tentado se confrontar à altura com esse sistema familiar e oligárquico tinha sido em 1982 (há quase 38 anos).
Naquela disputa, o ex-senador Dix-huit Rosado (PDS) e o empresário SÃlvio Mendes de Souza (PDS) foram eleitos prefeito e vice-prefeito, derrotando adversários do sistema Maia e do aluizismo.
Entretanto é preciso se contextualizar essa disputa, para se entender como essa campanha foi atÃpica e não representou, de verdade, um embate entre Rosados e não-Rosados.
Eleições 1982
– Dix-huit Rosado (PDS) – 21.510 (41,68%);
– João Batista Xavier (PMDB) – 15.466 (29,97%);
– Canindé Queiroz (PDS) – 4.388 (8,50%);
– Mário Fernandes (PT) – 428 (0,83%);
– Paulo R. Oliveira (PTB) – 48 (0,09%);
– Brancos – 8.145 (15,79%);
– Nulos – 1.621 (3,14%);
– Abstenção – 15.435 (23,02%);
– Maioria Pró-Dix-huit – 6.044 (11,71%).
* O eleitorado habilitado ao voto era de 67.041, em 275 secções. Compareceram 51.606 (76,98%) eleitores. A abstenção atingiu um recorde com 15.435 (23,02%) votantes.
Em 1982 também ocorreram eleições para Governo do Estado, deputado estadual, deputado federal, além de uma vaga ao Senado e Câmara Municipal. Foram as primeiras eleições com a retomada do pluripartidarismo, na reta final do regime militar de 1964.
Com a existência do casuÃstico instituto da sublegenda, cada partido poderia lançar mais de um candidato a prefeito. Foi o que ocorreu em Mossoró. O grupo Rosado, ainda aparentemente unido, lançou Dix-huit Rosado pelo PDS.
“Voto Camarão” e “Voto Cinturão”
Já o sistema Maia apresentou o jornalista Canindé Queiroz, pelo mesmo partido, para dar suporte à candidatura a governador do engenheiro e ex-prefeito indireto de Natal José Agripino Maia (PDS). Agripino venceu seu principal adversário, o ex-governador AluÃzio Alves (PMDB), com mais de 107 mil votos de maioria no estado.
A chapa de oposição municipal mais forte contra os Rosados, com o professor João Batista Xavier (MDB) e Rogério Dias (MDB), foi cristianizada pelo próprio lÃder peemedebista e candidato a governador AluÃzio Alves. Ele trabalhou para derrotá-la.
Vamos ao porquê: AluÃzio recebia em troca o apoio do grupo Rosado e do lÃder Vingt Rosado (PSD), na tentativa de derrotar os Maias no estado. Vingt Rosado defendeu o denominado “Voto Camarão” (seu eleitor deixaria o voto a governador em branco, na cabeça da chapa).
Assim, o lÃder Rosado contribuiu indiretamente com a vitória do ex-adversário histórico AluÃzio Alves, em Mossoró. Em troca, Alves deu apoio velado à eleição de Dix-huit – sucessão do prefeito Alcides Belo.
Os votos que João Batista-Rogério Dias tiveram foram reação dos aluizistas mais puros contra o “acordão” dos dois lÃderes (AluÃzio e Vingt).
Importante ser assinalado, que a legislação eleitoral tinha dispositivo que tornava nula a chapa impressa de votação, caso o eleitor votasse em candidatos de outros partidos. Todos os votos teriam que ser para nomes de uma mesma legenda. Era o voto vinculante. Por isso, que a alternativa de Vingt e AluÃzio para burlarem a norma foi essa manobra com Voto Camarão e o “Voto Cinturão” (eleitor de AluÃzio deixaria em branco o voto a prefeito, que aparecia no meio da chapa).
Mossoró Melhor
Em meados de 2015, 33 anos depois, o movimento “Mossoró Melhor”, nascido pelas mãos dos empresários Michelson Frota, Tião Couto e Jorge do Rosário, foi um alento à mudança no ambiente polÃtico-familiar de Mossoró. Nenhum dos articuladores nunca estivera no front polÃtico.
A partir de discussões e articulações preliminares, além de pesquisas quantitativas e qualitativas, surgiu a chapa Tião (PSDB, hoje no PL) e Jorge (PL) em 2016, a prefeito e vice, que protagonizou prélio de verdade entre Rosados e não-Rosados, depois de décadas.
Mesmo imberbes em polÃtica e estreando numa campanha, tiveram desempenho que chegou a assustar o favoritismo de Rosalba e sua vice Nayara Gadelha (PP). Nas mesmas eleições ainda houve a boa performance do empresário Gutemberg Dias (PCdoB) e de sua vice Rayane Andrade (PT).
Eleições 2016
– Rosalba Ciarlini (PP) – 67.476 (51,12%)
– Tião Couto (PSDB) – 51.990 (39,39%)
– Gutemberg Dias (PCdoB) – 11.152 (8,45%)
– Josué Moreira (PSDC) –  1.370 (1,04%)
– Francisco José Júnior (PSD) – 602 (Votos inválidos)
– Branco – 2.974 (2,06%)
– Nulo – 9.416 (6,54%)
– Válidos – 131.988 (91,40%)
– Eleitores Aptos – 167.120
– Abstenção – 22.683 (13,59%)
– Maioria pró-Rosalba Ciarlini de 15.486 (11,73%).
Os números finais das eleições de 2016 revelam que o campo polÃtico da oposição deu uma resposta positiva aos principais nomes e chapas que se apresentaram como opção fora do eixo Rosado-Rosado. A maioria de Rosalba sobre Tião, segundo colocado à prefeitura, foi de 15.486 (11,73%).
Entre seus seguidores, a aposta no inÃcio da campanha é de que teria vitória acachapante acima dos 40 mil votos de maioria. Erraram feio.
Diferença deu mostras de que a famÃlia que brigou por mais de 30 anos não podia mais estar em palanques contendores, trocando farpas. Estão quase esgotados; trabalham por sobrevida.
O apogeu já passou.
Quando o clã Rosado resolveu se reagrupar, com todas suas diferenças e antipatias mútuas, o fez por uma questão de preservação da espécie e consciência de visÃvel perda de força.
O que há de mais verdadeiro entre eles é uma sincera hipocrisia – repetimos há tempos.
Porém um racha nesse momento se repetiria como farsa. O jeito é se aguentarem.
Multidão silenciosa e maioria modesta
Mas descuida-se quem pensa que as eleições de 2016 passaram. Precisam ser melhor estudadas.
Um dado que passa despercebido à maioria, é que no cumulativo dos candidatos oposicionistas, em comparação com os 67.476 (51,12%) votos de Rosalba, o triunfo dela foi por apenas 2.362 votos. Em termos percentuais, 51,12% sobre 49,38%.
A soma de votos branco, nulo e abstenções chegou a 35.073 eleitores.
Uma multidão que ignorou nomes, partidos e a própria eleição. Não levou a sério Rosalba e deu as costas para os candidatos oposicionistas.
Uma massa silenciosa que não se sabe, hoje, que rumo poderá tomar em 4 de outubro de 2020 – data das próximas eleições municipais.
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Que apontem candidatos. Não vejo Isolda e nenhum outro aventureiro com projeção para tomarem a prefeitura. Não vejo um cenário, para esses que se afoitam, de sucesso. A prefeitura continuará com os Rosados. Anotem.