O poeta português Antônio Salvado (veja AQUI), nome contemporâneo da literatura lusitana, saudou com vivas o livro “Ruminar”, do mossoroense David Leite, recentemente lançado.

A publicação bilingue (português e espanhol) teve apresentação em Mossoró e mais recentemente em Natal.

Veja abaixo o que Salgado escreveu para David:

Querido David,

Eu não sei se você leu os Idílios do grego Teócrito ou as bucólicas do latino Virgílio ou as éclogas dos nossos Bernardim Ribeiro ou Luís Vaz de Camões… Mas a verdade é que RUMINAR parece (mas só na aparência…) entroncar numa coordenada de bucolismo, bem absorvida em vocabulário e em ambiência ou atmosferas (na qual não faltam ovelhas e bois e, calcule-se!, até um entardecer de recolha dos bichos ao redil!!). Porém, Ruminar, na sua expressividade tão natural e emocionante, constitui uma metáfora de substância aglutinadora das “parcelas” sentidas e experimentadas da própria existência humana.

Da(s) certeza(s) de que somos feitos de marcas a ferro e fogo; de que nosso dia a dia é feito de cativeiros; de que o alimento escasso e permitido serve apenas para se triturarem aflições; de que como mitigar a fome do corpo e da alma; de como suavizar o fardo que somos forçados a arrastar pelo quotidiano; de que os sons dos “chocalhos” do latejar do sangue é nostálgico e “improdutivo” instrumento de comunicação e “produtor” de nostalgia; de que ao rebanho se unem outros rebanhos numa sintonia do chicote sobre o lombo; de que, como o touro, somos lanceados pelas costas (desprevenidos) e de que, enquanto o nosso sangue escorre, uma certa multidão aplaude; de que, neste contraste entre aqueles que dançam no alpendre (saciados de ganância), outros que, no “estábulo” da vivência do dia-a-dia, procuram alguma calmaria – ah! será possível (admissível) que, em dia próximo, deixaremos de obedecer a comandos, que não permitiremos mais laços, de que não suportaremos cercas? Que belíssima metáfora que o David inventou!

Um abraço muito grande do seu,

António Salvado