domingo - 08/01/2012 - 15:20h
Força da matriarca

Fafá evita renúncia em honra à sua própria mãe

Prefeita diz que fica no governo, mas é alerta de Odete Rosado fato mais decisivo da sucessão

“Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os seus dias na terra, que o Senhor teu Deus, te dá”. (Êxodo 20.12)

Esse mandamento bíblico de repente passou a fazer parte do que parecia improvável: a política sucessória mossoroense. Sério. É só prestarmos atenção em filigranas de um recente acontecimento, que será fácil perceber essa nova faceta da pré-campanha municipal de Mossoró.

Em entrevista com a prefeita de direito de Mossoró, enfermeira Fátima Rosado (DEM), realizada pelo jornalista Julierme Torres, que foi ao ar na TV Cabo Mossoró (TCM), quinta-feira (5), um “off” terminou sendo mais importante do que as palavras da “governante”. Patético, mas verdade.

Expliquemos.

Dona Odete, com Fafá e Julierme, faz valer seu papel de matriarca

A conversa à parte que Julierme teve com dona Odete de Góis Rosado (veja postagem AQUI), 94, mãe de Fátima Rosado (a Fafá), ganhou dimensão acima das declarações de sua filha. Por quê? Pela lucidez da matriarca e a influência que exerce sobre sua numerosa prole.

– O pai dela (empresário Dix-Neuf Rosado) nunca foi de começar um trabalho e não terminar – alertou dona Odete para Julierme Torres, tendo ao lado a própria filha Fafá Rosado. Minutos antes, a prefeita gravara o programa “Conversa de Alpendre” com o jornalista.

A própria Fafá dissipara qualquer dúvida quanto ao seu futuro na Prefeitura de Mossoró. Foi claríssima. Mesmo assim, aquém da força moral e dimensão de sua mãe.

– Nossa decisão está tomada. Vamos concluir o mandato – afirmou textualmente Fafá (veja postagem clicando AQUI), diante das câmeras e microfones da TCM, tendo ao seu lado o marido e deputado estadual Leonardo Nogueira (DEM).

Por si só, as palavras de Fafá Rosado já se revelariam como um documento de próprio punho e de fé pública. Entretanto, a manifestação de Odete de Góis Rosado emerge como um sinalizador de vontade e de honra, remetendo o caso para o campo das mais fortes tradições da sociologia nordestina: o respeito ao comando patriarcal-matriarcal

Ao mesmo tempo, é uma herança arrimada em princípios cristãos. Honra a pai e mãe, é um mandamento do decálogo do profeta Moisés, que se incorporou à cultura nativa.

Agora, Fafá e seus irmãos que pontificam na Prefeitura de Mossoró, não devem explicações apenas ao eleitorado. Há o sobrepeso da dignidade cobrada por sua mãe, em respeito à memória do pai – o conceituado empresário Dix-neuf Rosado. Ela, Odete, está viva para não transigir.

E é preciso assinalar, que os rumores e notícias sobre hipotética renúncia da prefeita sempre emergiram no formato de uma abjeta negociata familiar. Todos se dariam bem, sem qualquer respeito à sociedade. Contudo, sua saída seria literalmente pela porta dos fundos do Palácio da Resistência, sede da prefeitura, tamanha a pequenez do gesto, em forma de escambo de submundo.

Com Odete de Góis Rosado intervindo, os valores são outros. Saem do campo ter para a seara do ser. Da decência.

A intenção frenética e obsessiva do líder do grupo rosalbista, ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado (DEM), de levar a prefeita à renúncia, ganhou esse inesperado componente. Tornou bem mais complexa essa operação sinuosa. Para viabilizar sua cunhada à sucessão municipal, vice-prefeita Ruth Ciarlini (DEM), é imprescindível descartar Fafá o mais rápido possível.

Altíssimo risco

A “aparição” de Odete de Góis Rosado deixa Carlos Augusto Rosado diante da mais sólida barricada contra seu projeto e de sua mulher, a governadora Rosalba Ciarlini (DEM). Não se trata apenas de impor sua vontade, acomodar alguns interesses políticos e empurrar sua candidata ao povo como uma escolha suprema. Os filhos de Dix-neuf precisam também desmoralizar a própria matriarca.

A postulação de Ruth Ciarlini torna-se uma aposta de altíssimo risco. Já era, bem antes desse episódio. Em todas as pesquisas de opinião pública o seu desempenho tem sido baixíssimo. Além disso, a exigência para ser viabilizada a partir da saída antecipada da prefeita, sempre teve odor insuportável.

Fafá e Ruth têm mudança complicada

Dentro do pacote de atrativos para convencimento da família de Fafá Rosado, estaria sua nomeação para compor o Tribunal de Contas do Estado (TCE), no cargo vitalício e bem-remunerado de conselheira. Ou seja, o TCE transformado em moeda política, quando deveria ser um órgão técnico de fiscalização da coisa pública.

Mossoró é estratégica para os projetos de poder do casal Carlos-Rosalba. Com o governo sendo vitimada de uma metástase de impopularidade em todo o estado, o município é um dos escassos lugares em que existe um bom crédito. Vencer o pleito municipal é ofertar um suporte à reeleição de Rosalba em 2014.

Se a prefeitura cair em mãos adversárias e com a iminente derrota em Natal e outros municípios estratégicos, o rosalbismo estará imerso nas trevas. Precisará de uma superação homérica em pouco mais de dois anos de administração, para garantir mandato suplementar.

O quadro sucessório no governismo municipal fica muito confuso. O casal Carlos e Rosalba passa a viver uma inusitada situação: perda das rédeas do processo eleitoral como bem entende e faz, há mais de duas décadas. Sua preferência não prevalece e os nomes disponíveis não o empolgam.

A princípio sobram os vereadores Chico da Prefeitura (DEM) e Cláudia Regina (DEM) como pré-candidatos à escolha. Uma chapa com ambos teoricamente seria muito forte. A possibilidade de aparecer uma outra postulação-surpresa, é pouco provável.

Autosuficiência

Uma composição com o esquema da deputada estadual e pré-candidata a prefeito Larissa Rosado (PSB), é possível – mas extremamente difícil. A deputada federal Sandra Rosado (PSB), líder desse grupo, não se sentiria confortável em ser liderada de Carlos. O mesmo incômodo com certeza ele revelaria em relação a ela – sua prima.

A autosuficiência de Carlos e Rosalba parece puni-los. Noutras ocasiões, eles foram salvos pela “sorte” e habilidade. Em 2000, por exemplo, prefeita pela segunda vez, Rosalba não tinha candidato à própria sucessão. Aí ganhou de graça a aprovação do instituto da reeleição para poder se reeleger sem maiores dificuldades.

Em 2004, puxou a própria Fafá – que tinha sido sua adversária em 2000, com apoio do grupo da deputada Sandra Rosado – para sucedê-la. Na época, também não tinha lapidado qualquer sucessor no seu grupo original. Em 2008, apostou na reeleição de Fafá, mesmo com o desgaste que a administração vivia.

Para 2012, os problemas se avolumam, apesar da enorme e inédita concentração de poder.

De sua cadeira de balanço, em antigo endereço na Praça Bento Praxedes, a conhecida e reformada “Praça do Codó”, dona Odete de Góis Rosado emerge como o novo personagem desse enredo. E, sem maiores esforços, entra em cena no seu papel principal: de matriarca.

O compromisso de Fafá, agora, mais do que nunca, é com ela.

Compartilhe:
Categoria(s): Reportagem Especial

Comentários

  1. Izaurinha diz:

    bem q esse e outros “pitacos” poderiam ter sido dado no caminhar da desastrosa administracao a remo do filho caçula, inclusive, imbuindo-lhe “modelos” em evitar de sobremodo, o desgaste de uma gestao sem prumo. agora ines eh morta como diria minha vó cotinha…eh esperar p crer

  2. José Claudio de Farias Montenegro diz:

    Nossa! Quanto alívio para os tem cargos comissionados… a boquinha/ vaquinha vai continua até 31.12.12

  3. Ricardo diz:

    E o comando político continua nas mãos da família Rosado… que coisa, não? Mossoró e o RN nas mãos de uma única família não é bom para ninguém, pode escrever! Forças do RN, uni-vos contra essa imoralidade! A sociedade rio-grandense precisa superar este estado de coisas, ainda que tardiamente!
    Estudar e aprender, mesmo que precariamente, é a melhor arma dos eleitores!

  4. v-targino diz:

    O destino é tido como “uma fatalidade a que estariam sujeitas todas as pessoas e todas as coisas do mundo.” Assinala o Aurélio. No que se refere a sucessão política do executivo mossoroense tivemos alguns afortunados ou afortunadas, que tiveram a mãozinha dele, o destino, pra chegarem ao tão almejado posto de dirigente da segunda cidade do estado. Por aqui desde Alcides Fernandes da Silva (Alcides Belo), que assumiu a prefeitura em maio de 1982, após renúncia de João Newton da Escóssia, vice é vice. Depois de Alcides o Dr. Dix-Huit que voltara a governar Mossoró 1983-1988 escolheu para a sucessão, não o vice Sílvio Mendes. Quiz ele, o destino, não o velho alcaide que a escolha caísse sobre a duplamente afortunada Dra. Rosalba Ciarlini. A Dra. Rosalba Ciarline, por obra dele, não o esposo ex-deputado Carlos Augusto, preteriu o vice ANTONIO DE FARIAS CAPISTRANO e escolheu a afortunada enfermeira Maria de Fátima Rosado Nogueira. E agora? Quem será, que ele, o destino, não o Ravengar escolherá para suceder a prefeita Fafá. Seria outra afortunada?

Trackbacks

  1. […] municipal. A começar, por declaração incisiva de Fafá, à TV Cabo Mossoró (TCM) – veja AQUI – garantindo que não renunciará. Quem bota […]

  2. […] a hipótese de sair antecipadamente da prefeitura. Falou ao jornalista Julierme Torres (veja AQUI) da TV Cabo Mossoró (TCM), em programa exibido no dia 5 do mesmo […]

Faça um Comentário

*


Current day month ye@r *

Home | Quem Somos | Regras | Opinião | Especial | Favoritos | Histórico | Fale Conosco
© Copyright 2011 - 2025. Todos os Direitos Reservados.