• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
terça-feira - 26/02/2008 - 00:49h

Gabriela – enviada de Deus


No dia 19 de janeiro, nasceu prematuramente minha filha Vitória Gabriela. Dada como morta ao nascer e, em seguida, largada para morrer, a minha pequena resistiu e provou que ela tinha muito mais tempo de vida do que os vinte minutos que uma enfermeira havia lhe atribuído.


Vitória Gabriela ainda luta pela vida com garra e muita vontade de viver, depois de passar quase doze horas de agonia por conta da falta de assistência condigna, resultante do descaso patrocinado pela maternidade da Casa de Saúde Dix-sept Rosado, em Mossoró, – “filantrópica” que é mantida com o dinheiro público.

O meu bebê veio ao mundo para mostrar que os homens com sua maldade e crueldade esquecem o valor da vida e usam o dinheiro público e o prestígio em benefícios próprios, largando mulheres e crianças a mercê da própria sorte. É assim que vejo o desapreço na Maternidade Almeida Castro, da Casa de Saúde Dix-sept Rosado.

Se a UTI Neonatal de Mossoró estivesse instalada e funcionando como deveria, desde que a maternidade da Casa de Saúde Dix-sept Rosado foi pactuada, em 2001, as chances da minha filhinha aumentariam. E muito. Certamente outros bebês, também dados como mortos, teriam sobrevivido e muitos não estariam sofrendo seqüelas irreversíveis. Mas, as faltas de compromissos, de escrúpulos e de respeito de falsos gestores públicos para com o cidadão não permitem coisa melhor.

A minha pequena Vitória pôde chegar a Natal, milagrosamente ainda com vida, enquanto inúmeras crianças, dadas como mortas ao nascer, só para não entrarem em estatísticas ridículas, não tiveram a mesma oportunidade ou sorte. Muitos pais e mães fragilizados sequer desconfiaram ou desconfiam da matança de bebês que acontece na Casa de Saúde Dix-sept-Rosado – que conta com a omissão, silêncio e conivência de muita gente.

Se estivéssemos num país sério, uma maternidade como a da Casa de Saúde Dix-sept- Rosado jamais poderia funcionar.

Vá lá, visite e comprove o que estou afirmando. Você verá a falta de condições mínimas de operacionalidade para os trabalhos dos profissionais de saúde, paredes esburacadas, pisos desgastados, baratas nos ambientes da sala de parto e enfermaria, trapos de lençóis, restos de sangue em pisos e camas, banheiros fétidos, entre tantas outras coisas que deixei de observar, no momento, por conta de minha fragilidade física e emocional.

Agora, sou mãe de UTI, há 27 dias.

Estou morando dentro do Hospital Santa Catarina, em Natal, para acompanhamento da recuperação de Vitória e aqui pude constatar o diferencial em nível de atendimento, assistência, qualificação profissional, equipamentos de última geração, equipes de trabalhos 24 horas bem treinadas, boas instalações físicas, respeito e humanidade. Isso tudo num hospital público, com maternidade onde nascem mais de 400 crianças, por mês, que fica localizado na Zona Norte de Natal.

Vitória Gabriela ocupa um dos dez leitos na UTIN de alto risco. Outros dezessete leitos de UTI Neonatal são ocupados com recém-nascidos de médio risco. Mais treze leitos estão disponíveis na ala de observação.

Na bem instalada ala de “Mãe Canguru”, em que estou alojada, divido o convívio com outras dezenas de mães que esperam ansiosas e esperançosas as recuperações de seus filhinhos.

Essa estrutura foi montada, originalmente, para atender a demanda do próprio hospital, que realiza menos partos do que a maternidade da Casa de Saúde Dix-sept Rosado – onde, agora, lutam para pôr em funcionamento apenas três leitos de UTIN.

Não sei o que o futuro reserva a mim, a meu marido e a Vitória, mas sei que o presente não pode esperar por soluções que nunca vêm e por falsas promessas de políticos e gestores públicos que se perpetuam no poder. Principalmente quando se trata de vida, cada segundo é importante.

Faça essa reflexão e você verá que também pode contribuir para melhorar essa situação.

Cleilma Fernandes – Mãe de Vitória Gabriela

Nota do Blog – Vitória Gabriela, infelizmente, faleceu nessa segunda (25). Veja matéria mais abaixo, postada ontem. Este texto foi originalmente publicado no Jornal Página Certa, edição do dia 17 deste mês.

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Categoria(s): Nair Mesquita

Comentários

  1. geraldoforte diz:

    Parabéns, Papai!

  2. Carla Cristiane diz:

    Nossa, que triste, confesso q com o relato acima sobre a maternidade, foram c se tivesse passado um filme na minha cabeça, do q passei ali. É triste demais o que acontece comigo ali. Lembro-me q passei uma noite inteira sentindo dor, e as enfermeiras sem nenhuma piedade, dormindo, me mandavam dormir, pois estavam pertubando seu sono, poderiam ter me dado algumas gotas de um medicamento p passar aquela dor. Sem contatar a imundice daquele local, sai dali me sentindo a pior pessoa do mundo, c a alto estima lá em baixo.

  3. Carla Cristiane diz:

    Nossa, que triste, confesso q com o relato acima sobre a maternidade, foram c se tivesse passado um filme na minha cabeça, do q passei ali. É triste demais o que acontece comigo ali. Lembro-me q passei uma noite inteira sentindo dor, e as enfermeiras sem nenhuma piedade, dormindo, me mandavam dormir, pois estavam pertubando seu sono, poderiam ter me dado algumas gotas de um medicamento p passar aquela dor. Sem contatar a imundice daquele local, sai dali me sentindo a pior pessoa do mundo, c a alto estima lá em baixo.

  4. anuska roberta lopes de melo diz:

    Tambem passei por uma situaçao parecida com a sua,pois minha filha nasceu totalmente perfeita e depois de 3 dias tive que perder por falta de assistencia naquela maternidade.Passei uma noite inteira implorando as enfermeiras que me chamasse um pediatra pois minha filha estava chorando sem parar,elas so faziam dizer que o pediatra nao estava la ou melhor nao tinha pediatra de plantao. Quando resolverao atender minha filha ja nao tinha mais jeito ela adquiriu uma infecçao naquela maternidade e o caso foi se complicando cada vez mais.Infelizmente tive que perde-la ainda hj sofro muito com essa ausencia ,esse vazio da minha filha que se chamava MARIA CLARA.

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