Neste 26 de julho não há como esquecer o trágico acidente de dezenove anos atrás numa rodovia estadual nas proximidades de Jaçanã, Região do Trairi potiguar, que ceifou a vida de Glênio Sá e AlÃrio Guerra, principais dirigentes do Partido Comunista do Brasil em nosso Estado.
Em pleno século 21 é doloroso constatar: Em matéria de mortes por acidentes de trânsito, o Brasil continua sendo campeão mundial. A cada ano, novas ocorrências e novas tragédias, com marcas irreversÃveis para famÃlias inteiras.
O que mudou de julho de 1990 para cá?
Os Ãndices alarmantes de acidentes e óbitos no trânsito foram eliminados ou mesmo atenuados?
O nÃvel de conscientização das pessoas em relação a essa matéria avançou, ou continua o mesmo?
Que medidas legais e administrativas foram tomadas, no regramento e na fiscalização, visando superar esse estado de verdadeira barbárie?
No Brasil, a quantidade de mortes no trânsito supera os números até de paÃses em guerra civil. Embora possamos registrar um esforço considerável por parte de gestores e demais envolvidos com a busca de soluções para tal questão, nossas estradas, ruas e avenidas continuam sendo corredores da morte.
Apesar do ganho significativo com algumas medidas, como o cinto de segurança obrigatório e a determinação da ‘lei seca’, entre outras, tais iniciativas parecem, nesse universo nebuloso, espumas ao vento. Se os dados estarrecedores não se modificam, no mÃnimo estão faltando polÃticas públicas de enfrentamento a esse grave problema com eficiência, eficácia e efetividade.
Nessa questão, não há polÃtica pública que funcione sem contar com o principal elemento: A conscientização. A cultura da paz nas estradas não será conquistada e consolidada por obra do acaso. A paz no trânsito está associada, inevitavelmente, a outro nÃvel de relação social em que a solidariedade não seja produto de atos isolados, mas uma regra de conduta social.
Uma conquista, portanto, de toda a sociedade. Para ocorrer um acidente nas cidades ou nas estradas pelo Brasil afora, não precisa que dois ou mais motoristas dos veÃculos envolvidos pratiquem a conduta errada por imprudência, negligência ou imperÃcia.
Quero aqui abstrair, obviamente, as hipóteses dos crimes que ocorrem no trânsito dolosamente, em que a vontade do agente criminoso está direcionada para aquele resultado.
Saindo do terreno do dolo e retornando para o campo da culpa, basta que apenas um dos envolvidos cometa um erro, as consequências fatais podem atingir pessoas completamente inocentes que, em muitos casos, apenas estavam no lugar errado e na hora errada. Como em tantos outros episódios, foi o que se deu com AlÃrio e Glênio. Sendo dois valorosos revolucionários, seus maiores ensinamentos para a nossa e as próximas gerações, certamente, não deveriam vir do universo do trânsito.
Evidentemente, são de outra natureza e de outras estradas as suas maiores lições de vida, na medida em que sempre lutaram pelos seus ideais de liberdade e justiça, contra a exploração de classe. A todas as pessoas amantes da liberdade e da justiça, fica o desafio de construir outra cultura, calcada na solidariedade, na fraternidade e no respeito à vida.
Os exemplos de Glênio e AlÃrio, também nesse trágico desfecho, vão nos convencendo de que sem a paz no trânsito fica muito mais distante alcançar esse sonho.
George Câmara é petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB.
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