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terça-feira - 14/11/2023 - 20:32h
Despedida

Guia Benavides, a embaixadora de Acari

Por Marcos Araújo

Dona Guia Benavides com uma de suas netas - Letícia (Foto: redes sociais)

Dona Guia Benavides com uma de suas netas – Letícia (Foto: redes sociais)

Hoje, 14 de novembro, dia dedicado pela Igreja católica ao santo José Pignatelli, um sacerdote e professor jesuíta adorador de Nossa Senhora, lastimamos a convocação para tomar assento no céu, junto aos anjos de Deus, da nossa querida amiga e madrinha afetiva Guia Benavides.  Para ela (e sobre ela!), o escrito mais completo e descritivo de sua valia humana pode ser tecido pelos adjetivos vivenciais de um familiar, a partir do seu companheiro de toda uma existência, meu padrinho EDGARDO BENAVIDES; ou de um dos seus filhos amados – JÂNIA, ADRIANA, EDGARDO e CYRUS BENAVIDES. Ainda, quem sabe de um dos seus netos, podendo ser o primeiro deles o advogado TÚLIO ALBERTO, o “Tulinho” como ela chamava…

Arrisco aqui, neste rabisco, sobremodo pela grandeza solar que ela representava para a família, trazer uma unidade decimal da sua importância humana em um depoimento compungido pelo sentimento da ausência que ela fará. Peço desculpas à sua gênese familiar pela simplicidade do meu texto, que mesmo com todas as exaltações que possa tecer, não dimensionaria a sua grandeza…

Guia Benavides foi uma das mulheres mais fortes que conheci na vida. Tinha uma personalidade marcante, uma posição altiva e um conhecimento de mundo, de pessoas e de coisas sem igual. Cativante e catalizadora de atenções, sua presença em um ambiente era garantia de alegria, contentamento, riso e espontaneidade.

Se é possível dividir uma personalidade no plano da metafísica, posso distinguir com nitidez as várias “GUIAS” dentro de uma só alma e de um só espírito. A GUIA religiosa, devota de Nossa Senhora, uma CRISTÃ autêntica, incorporada como cursilhista perseverante por muitas décadas, acompanhando presencialmente e com pontualidade britânica os eventos, aprofundamentos, assembleias regionais etc. Ou, ainda, na fiel comprometida e participativa das missas dominicais às 19h00 na Catedral de Santa Luzia, onde, invariavelmente, sentava-se no primeiro banco com seu esposo Edgardo, dividindo os dois com o sacerdote que presidisse a celebração a atenção e os cumprimentos dos misseiros.

A GUIA pintora, a ARTISTA, o telurismo pulsante no seu coração arriado por Acari, sua cidade natal, um tema permanente nos traços dos pincéis a brincar com as cores retratistas dos casarios e ruas de sua memória infanto-juvenil. Se Van Gogh teve por inspiração os girassóis da pequena vila de Zundert (Holanda), onde nasceu; se Diego Rivera se especializou em retratar a condição do trabalho dos operários pobres da minúscula cidade de Guanajuato (México); se o nosso Cândido Portinari emoldurou pelo mundo suas lembranças de Brodowski, interior de São Paulo, com quadros sociais de sua infância, por qual razão a pintora GUIA poderia desviar seus olhos de seu grande amor citadino por Acari? A arte de pintar é apenas a arte de exprimir o invisível através do visível, diria Eugène Fromentin. Ela apenas exprimia o seu gostar inenarrável pelas suas origens.

A GUIA, uma IMATERIALISTA por excelência. Embora de classe social favorável, fazia-se de uma simplicidade que beirava o franciscanismo. Convivia com o baronato estadual e frequentava as grandes festas e as colunas sociais sem fazer floreios e louvaminhas a quem quer que seja. Suas casas (de Mossoró e Tibau) eram guarnecidas de mobília antiga de muito bom gosto, e de artesanato por toda parte, em contraponto aos living chaise dos novos ricos.

No espaço mais caro da Nova Betânia, tinha o privilégio de esnobar dos ricos com uma chácara para acumular seu apreço por guardados artísticos. Seu único “luxo” era viajar. Adorava. Certa feita, em viagem à Paris, enquanto algumas senhoras recitavam as lojas de grife que frequentariam, ela e Edgardo me fizeram procurar o comércio universal do “Louis Camellot”, como brincávamos. Aos que não sabem, o “camelódromo”.

Recitava internamente, penso eu, a frase do poeta Virgílio: “Cada um é arrastado pelo seu prazer”. E em seus estudos deve ter lido Platão e fixada a sua mensagem: a maior riqueza é ser feliz com pouco.

Por fim, a GUIA, a EMBAIXADORA DE ACARI, a reveladora de sua estética urbana e do seu componente étnico-sócio-político.  Ninguém divulgou mais a sua cidade do que ela. Ela carregava em si (até no patronímico) aquilo que a cidade tem de mais valioso e simbológico: a invocação à memória da padroeira, NOSSA SENHORA DA GUIA e um mito narcísico pela cidade.

Ela fundia – e confundia – essas valias referenciais por Acari. NOSSA SENHORA, com o nome de “DA GUIA” – um dos títulos da mãe de Cristo por ser sua educadora, não tem muito relevo na prelazia católica brasileira. São poucas as paróquias que a têm como padroeira.

Acari se distingue nessa devoção. Para além disto, Acari para GUIA era a Pasárgada aludida por Manuel Bandeira; a Paris de Baudelaire; a Lisboa, de Fernando Pessoa; a Buenos Aires, de Jorge Luis Borges; a Praga, de Franz Kafka; a Dublin, de James Joyce…

Sentindo a  tristeza de EDGARDO, a quem invoco uma paternidade afetiva de primogenia, e do seu coração enlutado, com saudade imensa mas com a certeza renovada de que o seu espírito conviverá com os seus para sempre, só podemos dizer: Requiescat in pacein perpetuum, Guia Benavides, a Embaixadora de Acari!

Marcos Araújo é advogado e professor da Uern

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Adriana diz:

    Lindas palavras!!!
    Vendo-a em cada trecho! Ela era, sim, tudo isso!!!
    Gratidão, Carlos!!
    Transmitiremos ao meu pai, suas belíssimas palavras!

    Adriana

  2. Antonio Paula diz:

    Guia tão bem relatado por meu irmão em Cristo Marcos Araújo, tive o privilégio de dividi-vos Guia e Edgardo em participar do mesmo grupo do Cursilho “Maria Mãe da Igreja” e nos reunirmos na residência dos mesmos e também de compartilhar a alegria desses encontros.

  3. Jesus de Ritinha de Miúdo diz:

    Da Guia de Seu Zé Petronilo, assim fui apresentado e assim eu a chamava. Embora a distância entre as idades, herdei sua amizade do afeto que ela sempre demonstrou pir Papai, seu ex-colega no Grupo Escolar.
    Uma lady!
    Incentivadora singular. Partiu me deixando, além da saudade, a frase que marcou o nosso primeiro aperto de mão ante a igreja, hoje Basílica Menor de N. S. Da Guia: “nunca pare de escrever sua terra”.
    Era sábia.

  4. Rocha Neto diz:

    Uma mulher da magnitude de Guia Benavides, só um Marcos Araujo para tão magnificamente descreve-la, realmente tudo que o amigo/irmão narrou no seu artigo têm veracidade profunda.
    Convivi com Guia, desde o tempo em que ela dinâmicamente dirigiu o SESI de nossa Mossoró, tempo em que eu militei na administração das empresas NORSAL e SOSAL.
    Parabéns irmão em Cristo Marcos Araújo, pela peça em tela.

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