Por Marcos Ferreira
Seja bem-vindo. Esta é Mossoró, a minha cidade. O ‘minha’, claro, é mera força de expressão; mais pertenço que possuo. Bom, eis a famosa Mossoró, terra da liberdade, conforme apregoam há quase um século. Município este que, segundo a lenda, expulsou o destemido Lampião e justiçou o também cangaceiro Jararaca quando os fora da lei invadiram esta província lá pelos idos de 1927.
Particularmente, embora os doutores do cangaço torçam o nariz, não me orgulho nem um pingo dessa história de brabeza de Mossoró. No fim das contas, depois de tanta chuva de bala, os bandoleiros dominaram esta comuna na trincheira da cultura. Sim.
Hoje ninguém mais fala nos resistentes, mas tão só no bando de salteadores. Olhe ali, por exemplo, o espaço denominado Arte da Terra: dois bonecos gigantes de Lampião e Maria Bonita bem na frente, dando boas-vindas.
Isto sem falarmos num Memorial da Resistência que não resistiu à tentação de oferecer mais destaque aos invasores do que aos defensores. Hoje em dia, sendo otimista, talvez apenas uma dúzia de nomes que defenderam este fim de mundo à época do ataque ainda seja lembrada pelos mossoroenses de um modo geral, como o então prefeito Rodolfo Fernandes. Pudera, trata-se do prefeito.
Outra coisa. Jararaca, ferido com um balaço e enterrado ainda vivo no São Sebastião, de acordo com alguns historiadores, foi alçado à condição de santo milagreiro pelo povo desta cidade e adjacências. É o que estou dizendo. O sujeito passou de facínora a santo da noite para o dia. A sua cova no São Sebastião é simplesmente a mais visitada no Dia de Finados. Já o túmulo do herói Rodolfo Fernandes, sepultado no mesmo cemitério, salvo exceções, ninguém sabe onde fica.
Aquele prédio imponente ali era o glorioso Cine Pax, ora transformado em loja de roupas. Foi inaugurado em janeiro de 1943 e funcionou por mais de seis décadas. Fechou de vez as portas no ano de 2008, se não me engano. Assisti a ótimos filmes nesse importante símbolo da vida cultural mossoroense. O ponto alto do fim de semana das pessoas do meu tempo era ver um filme no Pax.
Cuidado com a moto! Melhor subirmos na calçada. Nosso trânsito é um bicho traiçoeiro. Aqui não se pratica direção defensiva, mas predatória. Alguns donos desses carrões, sobretudo, só faltam passar por cima da gente. Parece até que eles têm aversão a pedestres, a ciclistas e motociclistas. Tipos arrogantes, tanto os condutores dos carrões quanto os motoqueiros. A maioria vira para um lado e para o outro sem ligar a seta. Em especial os referidos donos dos carros luxuosos.
Está quente, não? Pois bem, meu amigo. Mossoró, entre outras características, é a terra do calor, do siroco em tardes mormacentas como esta e de eventuais madrugadas com uma cruviana gostosa. Durante o inverno, quando há, é uma maravilha, apesar do Centro alagar com facilidade. As noites costumam ser bastante aprazíveis, e os bairros periféricos ficam cheios de cadeiras nas calçadas.
Esta é a Praça Vigário Antônio Joaquim. Mas o busto do vigário se encontra escondido naquela pracinha ao lado da Catedral de Santa Luzia. Por incrível que pareça, a enorme estátua que você está vendo no centro da Praça do Vigário não é do vigário. Esse é um monumento em homenagem ao ex-prefeito desta urbe e ex-governador do Rio Grande do Norte Jerônimo Dix-sept Rosado Maia, que morreu no auge da carreira política em acidente aviatório no ano de 1951.
Como eu disse, ali é a Catedral de Santa Luzia, onde os fiéis curvam os joelhos com peditórios ao Todo-Poderoso. Em geral, apesar da nossa estatística de homicídios ser uma das maiores do planeta, o mossoroense é um povo religioso, com supremacia católica. Aqui predomina a política do olho por olho, dente por dente, contudo as pessoas morrem de medo de ir parar no Inferno. Então, como se buscassem uma espécie de habeas corpus celeste, correm para os pés de Jesus.
Vamos para o outro lado. Que calor, hein? Mossoró não é para amadores, nem para turistas desavisados. Beba sua aguinha gelada, se ainda estiver gelada. Ali é o Mercado Central, primeiro shopping de Mossoró. Eu e meus irmãos ficávamos animadíssimos quando chegava o domingo e meu pai nos trazia, antes do sol raiar, para fazermos algumas compras no Mercado. Era uma festa!
Tempos idos e vividos. Tenho saudades de muita coisa daquela época, embora o pão fosse tão caro e a liberdade pequena, como no poema do Ferreira Gullar. Hoje, entretanto, o pão voltou a custar muito caro, e a liberdade vive sob constante ameaça, se me faço entender. Mas voltemos ao pujante Mercado de outrora. Fico com a boca cheia d’água só de me lembrar do pastel quentinho, feito naquela horinha, que a gente devorava com um copázio de vitamina de abacate.
Quando não era uma abacatada com pastel, traçávamos uma panelada com molho de pimenta-malagueta. O bucho ficava em tempo de espocar, e o suor porejava na testa. “Caiu na fraqueza”, dizia meu pai caçoando de mim e dos meus irmãos. De outra feita, menino já taludo, trabalhei algumas vezes no entorno do Mercado, pastorando as bicicletas da clientela para descolar uns tostões.
Agora quero lhe mostrar o Teatro Municipal Dix-huit Rosado, suntuosa construção que homenageia outro político da tradicional família Rosado e também ex-prefeito desta província, morto no ano de 1996. Jerônimo Dix-huit Rosado Maia, isso é algo fácil deduzir, é irmão do ex-governador Dix-sept Rosado, cuja impressionante estátua, como o senhor constatou, se encontra no meio da Praça do Vigário. Aí está, portanto, o Teatro Municipal, palco da cultura mossoroense.
Veja aquela casa de drinques do outro lado da rua, na Avenida Rio Branco. Ali, durante uns bons anos, funcionou a Livraria Café & Cultura. Lugar excelente, ponto de encontro da intelectualidade local. Escritores, jornalistas, poetas, historiadores, médicos, advogados, professores, juízes, arquitetos, artistas, enfim, toda uma constelação pensante ocupava as cadeiras e mesas da Café & Cultura.
Era uma livraria como hoje não mais existe neste município, administrada e mantida pela senhora Ticiana Rosado. Nesse endereço, permita-me a autopropaganda, fiz o lançamento da primeira edição do meu livro de poemas A Hora Azul do Silêncio, que contou com público expressivo. Foi no ano de 2006.
Atualmente, ouso dizer, no tocante a uma livraria de verdade, com amplo acervo de autores e obras, disponibilizando um bom café para a clientela, estamos órfãos.
Bem, acredito que o senhor está cheio desse papo de letras. Vamos agora a um reduto não menos cultural e emblemático desta aldeia: o Alto do Louvor. Já ouviu falar no Alto do Louvor? Não?! Então, meu caro, apresentá-lo-ei, como diria, cheio de mesóclises, o missivista federal Michel Temer. Trata-se do berço recreativo e sifilítico deste fim de mundo. Mal comparando, vir até aqui e não conhecer o Alto do Louvor é mais ou menos como você ir a Roma e não ver o Papa.
Alto do Louvor é a nossa extinta zona de meretrício. Muitos dos nossos ilustres e respeitáveis homens (não foi o meu caso!) foram iniciados sexualmente nesse antro do amor remunerado. O antes glamouroso Alto do Louvor fechou as portas há muito, porém a lenda das suas casas de tolerância e mulheres de vida nada fácil sobrevive até hoje no imaginário popular como uma ferida benigna.
Beba mais água. O senhor está ofegante.
Marcos Ferreira é escritor
Ia começar por outra parte; mas me chamou muito a atenção a referência ao Alto do Louvor onde até que sei e ouvi muitas histórias de tal recanto onde nunca frequentei, fiquei curioso pra saber a origem do nome: Art Nouveau onde ficava a famosa casa Copacabana!
Pois bem, de tanto se falar em francês findou simplificando para Alto do Louvor. Rsrs
Vamos lá, se é que minha curta mente entendeu, se faz homenagens aos cangaceiros e não aos heróis que defenderam esta urbe; até centro de estudo tem.
Sabia caro Jacinto Leite que no Memorial da Resistência o nosso Tió, Lauro Leite casado com Tilita, Elita oliveira Leite minha tia, daí nosso parentesco, consta no “retrato” grande, lá. está ele entre os outros a figura do meu Tió. Já olhei muitas vezes mas não consequi identifica-lo.
Porque Tió? Quando criança, pivete mesmo, toda vez que ele nos via falava; Ó!
O calor tá com a “balbônica”, tá de torar a alca do corpete.
Parabéns pela crônica, fluidez como sempre
Um abraçaço
Em tempo, escrevo estas “mal traçadas linhas” com um cantil ao lado. Já tomei todo.
NR. Alça.
Ps. As vezes falo mais que o “homi” da cobra!
Com estima e consideração,
Amorim.
Tento ser mais claro; parece que a famosa casa Copacabana nos seus primordios tinha uma decoração baseado na art Nouveau, cuja pronuncia seria art novô. “Defé”, com o passar do tempo, tornou-se Alto do Louvor.
Com a palavra os historiadores desta urbe.
Um abraçaço
Prezado Amorim,
Bom dia!
Mais uma vez, muitíssimo grato por sua leitura e depoimento. Forte abraço e uma ótima semana para você.
Marcos Ferreira.
Bom dia, Marcos!
Adorei o passeio pela nossa cidade! Digo nossa, porque a adotei como minha…
Quanto a escala de valores, que definem os pontos altos da sua história, sabemos que dependem do “homem”, esse ser em construção que nem sempre faz uso do seu bom senso…
Obrigada, por me permitir caminhar comigo!
Excelente semana!
Prezada Vanda Jacinto,
Bom dia.
Obrigado pela leitura e carinho de sempre. Você, a exemplo de outros bons mossoroenses adotivos, é um patrimônio sociocultural desta cidade. Forte abraço e uma ótima semana para você.
Marcos Ferreira.
Caramba! Fiquei sem fôlego… li tão rápido q precisei voltar e ler novamente
Bravo!
Uma descrição real da nossa cidade
Faltou algumas observações … como o Ginásio de Esportes … que antes era a Praça do Povo… e sumiu…
Meu caro escritor, você foi brilhante como “Guia turístico “
Querida Luíza Maria,
Realmente, entre outros pontos “turísticos”, faltou o Ginásio de Esportes” nessa minha crônica itinerante, destalhe este oportunamente lembrado por você. Muito obrigado, mais uma vez, por sua leitura e comentário. Forte abraço e uma ótima semana para você.
Marcos Ferreira.
Bom dia, Marcos!
Hoje li sua crônica logo pela manhã, como sempre muita fluidez no desenvolvimento do assunto em foco. Mossoró terra da liberdade! O tempo é sempre implacável e favorável às mudanças, sejam elas boas ou ruins, e as mesmas ficam em nossa memória saudosista!
Agradáveis e, ao mesmo tempo, reflexivas lembranças, você nos proporcionou, grande Marcos Ferreira!
Um saudoso abraço!
Querida Simone Martins,
Bom dia!
Essa, além de itinerante, foi mesmo uma crônica saudosista, como você reparou. Mais uma vez, amiga, fico feliz em saber que lhe ofereci uma leitura agradável. É sempre uma honra e recompensa contar com a sua presença neste espaço de opinião, informação e cultura. Forte abraço e uma ótima semana para você.
Marcos Ferreira.
Bom dia, MF, crônica necessária. Hoje, faleceu o pai de Zelinha Calistrato e Ana. Certamente, Sêo Zezinho Nascimento Calistrato carrega consigo uma estante de lembranças. Que a boa luz ilumine os caminhos dele.
Em “À la recherche de certa Mossoró”, uma conversa de domingo do inolvidável Dorian Jorge Freire, há essa nostalgia do olhar ante ao que o homem-tempo faz com as nossas melhores lembranças.
Na dita crônica, em 1975, postado na esquina da Idalino de Oliveira, ele lança o olhar e vê e sente e sofre, pois a Mossoró trocada por São Paulo, em 1955, havia mudado tanto e não estava mais ali para assistí-lo de calvície avançada e bigode espesso. DJF fica desolado, mas deseja avançar com os amigos q lhe resta.
Vez em quando, pego as chaves de Macatuba, cidade imaginária de Tarcisio Gurgel e que agora se mostra ainda mais desvelada nos seus volumes, “Inventário possível” e “O espetáculo passageiro”. Vejo e sinto o pulsante cheiro da juventude macatubense.
Mas não sou menino de calças curtas daqui [todo menino pela porta q abre, gosta do do lugar q guarda], eu sou de lá… “ai que dor na canela”, ouvi. E pra não perder a viagem, lembraria q Apodi resistiu bravamente a segunda invasão que o bando de Lampião intentou, nos idos de maio de 1927, antes de, acoitados, chegar por aqui. Lá, MF, quando for – se vou – volto de coração partido com o meu passado virado “parada de carro”… Tudo “na chon”. Mas ainda me restam algumas queridas pessoas. E com elas rimos e choramos o tempo vivido.
Parece-me que essa matéria que nos queima tanto é labareda q nos faz seguir até o topo da montanha… É o outono, meu querido, MF, com sua cruviana nos cobrando lembranças. Eu sinto saudades do trem apitando… ontem à noite, sozinho, tomei uma Heineken relembrando as vezes em q sob o brilho das estrelas ouvia Júnior de Preta e Luís Aquino me contando tantas de uma Mossoró também já perdida pra eles q agora dormem no Campo Santo. Fui à Praça da Convivência q vai se fechar para reparos. Ali, me apoio, vez em quando, no espaço onde antes batíamos papos.
Não há quem remende o que o tempo carrega consigo. Salvo, o que usamos como matéria de domingo. E isso fica eterno pelo amor q devotamos.
Sol, pode subir.
Querido poeta Aluísio Barros,
Bom dia!
Tempos idos e vividos, meu caro. Tanto aqui nesta Moscou quanto lá na sua bucólica Apodi. De Mossoró, entre outras saudades, você lembrou bem o inesquecível Luís Aquino. Foi Luís Aquino, há muitos anos, quem primeiro contribuiu para a formação da minha modesta biblioteca. Luís me deu de presente vários e bons livros, obras da melhor qualidade, nacionais quanto estrangeiras. Sinto uma certa orfandade e uma profunda curiosidade em saber o que ele, Luís, diria destas minhas crônicas dominicais, leitor inteligentíssimo que era. Saudades de Luís Aquino. Um grande abraço e uma ótima semana para você.
Marcos Ferreira.
Pleonasticamente falando: show de bola?
Não, show de prosa poética. Um passeio pelo passado e presente pelo país mais surpreendente do mundo: o país de Mossoró que o fantástico dr. das letras criou: o país de Mossoró…
Caro poeta Francisco Nolasco,
Bom dia!
Mossoró tem dessas coisas narradas em minha crônica e tantas outras. A cidade é muito maior que seus limites territoriais. Não foi à toa que o mestre Vingt-un Rosado denominou esta terra de “O País de Mossoró”. Merecidamente. Muitíssimo obrigado por sua leitura e presença neste espaço de opinião, informação e cultura. Forte abraço e até a próxima.
Marcos Ferreira.
Bom dia, meu amigo Marcos Ferreira.
Rapaz a recíproca é verdadeira.
Eu mesmo ,as vezes mim vejo ressaltando essas histórias. E não falo dos vereadores heróis.
Mas, sempre deixo explícito a
bravura dos combatentes. As vezes fico brincando com meus amigos. – olha lá em Mossoró, a chapa é quente. Pois nem o lampião se criou. Kkkk um forte abraço meu velho amigo.
Meu caro Alcimar Jales,
Bom dia!
Amigo, a sua Mossoró está muito mudada. Umas coisas mudou para melhor e outras, infelizmente, mudou para pior. No geral, porém, apesar dos pesares, é a Mossoró que nós amamos. Você, há tantos anos aí na Cidade Maravilhosa, decerto sente grandes saudades desta terra de muito sol e calor. Obrigado, mais uma vez, por sua leitura e comentário. Forte abraço e uma ótima semana para você.
Marcos Ferreira
A idolatria de grande parte dos mossoroenses e escritores pelos bandidos cangaceiros é algo dificil de ser explicado.
Concluindo, enquanto os norte-americanos se fantasiam vestindo roupas dos seus super-heróis Batman, Superman e outros, os mossoroenses se vestem de cangaceiros, sapecam um chapeuzão com estrelas na cabeça, uma réplica de espingarda bate-bucha nas costas e saem por aí ‘crentizin’ que tão abafando.
Finalizando, acho que o nobre escritor se esqueceu de mencionar a maior ‘fake news’ da história de Mossoró. Refiro-me ao 30 de Setembro.
Lembrando que a maior ‘fake news’ do brasil é Santos Dumont, o falso inventor do avião.
Vou finalizar finalizando’ dizendo que, no passado, os cabarés do Alto do Louvor eram os shoppings de hoje. Apenas para os homens, diga-se de passagem. A macharada desfilava a pé, de bicicleta e de carro, sempre às sextas e sabados.
A atração máxima era quando os bebuns dos volatantes davam cavalo de pau em seus possantes Fusquinhas e DKVs.
Eita tempo bom que não que não volta mais. Saudade de Luzia Queiroz; Neuza Barreto e Zé de Ticó.
Pense num raparigal respeitado e ‘arrochado’.
– Joãozinho Claudinho, traga meu litro de wisky e bote pra tocar o hino dos cabarés; ‘
Adeus Solidão’, by Carmem Silva.
– É pra já, vô. Quer que bote aquela 🎶 Eu vou tirar você desse lugaaaaaaar….!!!
– Bote, bote, bote.
(até parece que esse menino já foi ‘piôi’ de cabaré. Nã!).
Caro João Cláudio,
Bom dia!
Obrigado por sua leitura e comentários cheios de pormenores e recuos no tempo. Está claro que você conhece bem a história desta cidade, em especial aquela do outrora glamouroso Alto do Louvor, com seus randevus e personagens emblemáticas. A trilha sonora que você expôs é de primeira, verdadeiros clássicos do brega e chique. Forte abraço e até a próxima.
Marcos Ferreira.
Maravilhoso seu ponto de vista sobre as coisas e as pessoas, orientado pelo seu bom humor. Parabéns
Prezado Valdemar Siqueira,
Boa tarde!
Mais uma vez, amigo, obrigado por sua leitura e comentário. Um grande abraço e uma ótima semana para você e minha amiga Bete.
Marcos Ferreira.
Caro Marcos, hoje você tava inspiradíssimo no tocante as coisas coisas e causos de nossa amada urbe mossorense, aonde os dois maiores veneradores de Santa Luzia, Vigário Antonio Joaquim e Monsenhor Humberto Bruening, estão com seus butos colocados ao lado da Catedral da virgem de Siracusa, mais que não vêem a sua santa de estimação, Luzia. É incrível, mais porém verdade! Tinha que ser coisas do país de Mossoró, aonde de tudo acontece e tudo pode. Pois bem; o Vigário Antonio Joaquim tomou o local de Dix-Sept Rosado aonde se desenha uma grande avenida no coração de Mossoró, já Dix-Sept Rosado que nunca celebrou uma missa (não era padre e sim governador), passa o tempo todo figurado em uma imensa estatua na praça Vigário Antonio Joaquim, com olhar fixo pra Santa Luzia que se encontra no altar mór de sua casa, que é a catedral erguida em sua homenagem, e que por merecimento quem deveria estar a lhe olhar daquele local aonde estar Dix-Sept, deveria ser o Vigário Antonio Joaquim. Bem, a tudo isto Monsenhor Humberto assiste e não olha para Santa Luzia por que seu busto o faz olhar para a praça vigário Antonio Joaquim que Dix-Sept Rosado se apossou por opção dos mossoroenses que assim decidiram e a inauguraram no dia 30 de setembro de 1953. Bem o que permanece até hoje, e tenho certeza que jamais será consertado.
Com relação ao cangaço amigo Marcos, é incrível que em pleno século XXI, nosso povo ainda (pouquíssimas pessoas), ainda acenda velas pra José Leite Santana, o Jararaca, aquele homem que se dedicou a fazer atrocidades com seus semelhantes, e que aqui em Mossoró é venerado como santo. Desde minhas primeiras letras e entendimentos tomei conhecimento que ele era um cangaceiro violento, que tinha como costume jogar crianças para o alto e apara-las com um punhal cravado na barriga das mesma. Amigo Marcos, se Jararaca virou santo, imagine nós o que seremos quando daqui partir para a outra dimensão. Amigo, também faz parte da crendice popular daqui do país de Mossoró, que no dia 13 de dezembro de cada ano, Lampião estava vivo e que vinha acender velas pra Jararaca, e que Roberto Carlos (cantor), não perdia uma procissão de Santa Luzia. Só tá faltando alguém falar que o ex-prefeito Rodolfo Fernandes assinou a planta baixa da Catedral de Santa Luzia. Me poupem!!!
Já com relação ao Mercado Central, você me remete ao passado de uma boa e prazerosa época de minha infância, conheci o Marcado Central, quando o mesmo era o Mercado da Pedra, denominação que lhe foi dada inicialmente por ter suas laterais calçada com paralelepípedos em cor escura, muito depois foi que aquela área recebeu tratamento asfáltico, obra realizada na primeira gestão do prefeito Dix-Huit Rosado. Que bons tempos amigos Marcos, foi ali mesmo nas bancas de café aonde comi a minha primeira fatia do bolo Felipe, receita do velho Luiz Felipe, a qual sobrevive até hoje nas melhores casas de guloseimas não só de Mossoró, mais pelo Brasil a fora aonde as coisas vão acontecendo.
Saudades também tive quando me deparei no no 18º paragrafo de sua peça em tela, aonde você mexe com o nosso Alto do Louvor, foi ali aonde descobri o melhor da vida, mesmo correndo com medo do velho sargento Ladislau, pois o mesmo era re responsável pela delegacia de policia que ali funcionava, e para por ordem no pedaço, depois de 20:00 hs ninguém de menor poderia transitar pelas ruas Wenceslau Brás, Nilo Peçanha, as duas em quarteiros distintos, era a zona do cabaré de Mossoró, correndo da polícia (ainda era de menor), me escondendo nos becos das citadas ruas aonde ficavam as boates Coimbra, Las Vegas, Bar Brahma e Copacabana, conseguia descobrir o que homens e mulheres faziam nas pegações, as mais diversas e divertidas possíveis… o resto você conhece e pode imaginar, grande Marcos. Por isso a vida continua com a Mossoró com nomes dos homenageados com estátuas em lugares trocados e que nossa juventude não estar nem aí para com o assunto, como também não sabem que falta faz uma livraria que possa ter um recanto para o café cultural do seu de nosso povo carente de conhecimento. O mais, vou deixar para um papo nosso, unicamente para avaliar tais situações e causos que compõem o nosso Guia Turístico. Inté domingo.
Querido amigo Rocha Neto,
Boa tarde!
No bom sentido, posso dizer que você roubou a cena. Sim, meu caro. Ao comentar esta minha crônica de domingo, assumindo o papel de guia turístico da história mossoroense, você deu uma aula e mostrou que está por dentro de tudo, conhecedor de grandes fatos e pormenores desta cidade. Resumindo, você fez uma crônica em cima da crônica. Excelente! Muitíssimo obrigado por sua leitura e por mais este rico comentário. Forte abraço e até a próxima.
Marcos Ferreira.
Inacreditável a facilidade de relatar, numa crônica não muito longa, quase tudo de uma cidade possuidora de tantas histórias.
Apesar dos sérios problemas que a cidade enfrenta, Mossoró resiste a outros tipos de ataques, agora tendo como principais alvos a arte e a cultura.
Às vezes sinto uma saudade danada dos momentos prazerosos que vivenciei na cidade que me adotou.
Obrigado, Marcos Ferreira, por esse passeio ao mesmo tempo cheio de beleza e de tristeza!
Prezado amigo João Bezerra de Castro,
Boa tarde!
Concordo com você, amigo, quando diz que Mossoró tem sofrido ataques no seu âmbito cultural. Sim, você está certo. Depois da aventura malograda do cangaceiro Lampião, creio que o segmento que mais tem sido atacado nesta cidade é o da cultura. Vivemos em eterna petição de miséria, de pires na mão. Sobretudo a literatura, que nunca contou nem conta com apoio do Executivo nem do Legislativo municipais. Infelizmente, é cada um por si e Deus por todos. Agruras à parte, muito obrigado, mais uma vez, por sua leitura e presença neste espaço. Um grande abraço e uma ótima semana para você.
Marcos Ferreira.
“Guia Turístico” bole com minhas lembranças e as memórias afetivas de forma única, pelo tempo vivido em Mossoró. Marcos Ferreira, é mestre em cutucar a saudade dos que vivem fora de Moscow. Obrigada menino poeta, por destrancar o baú dos meus sentimentos, num passeio histórico e cultural. Parabéns, nobre escritor!
Vai um abraço das bandas do Norte?
Querida Rizeuda da Silva,
Boa tarde!
Que bom que você, conhecedora da história desta cidade, gostou desse guia turístico e do “passeio histórico e cultural” proposto por ele. Que bom que ele, o guia turístico, pôde “destrancar o baú” dos seus sentimentos e recordações. Muitíssimo obrigado pela leitura e companhia nesse itinerário saudosista. Um grande abraço para você e um cheiro aqui das bandas do Nordeste.
Marcos Ferreira.
Vivi 25 anos em Mossoró e não conhecia certas histórias. Gostei desse turismo virtual na máquina do tempo. Achei que fosse até a cidade dia pés juntos. Até pensei que o alto de louvor fosse o nome antigo do cemitério, fiquei chocado quando soube que era a casa da luz vermelha.
Gosto muito da sua forma de escrever.
Caro Deisimar Nobre,
Bom dia.
Pois é, amigo. Mossoró tem muitas histórias que a gente desconhece, sobretudo as não oficiais. Só a história do Alto do Louvor, caso os literatos daqui se interessassem, daria para ocupar muitos livros. Do tempo em que você viveu em Mossoró para cá, como é natural, muita coisa está diferente. Outras coisas que precisam de mudança, infelizmente, permanecem inalteradas. Grato, mais uma vez, por sua leitura e presença neste espaço de opinião, informação e cultura. Forte abraço e até a próxima.
Marcos Ferreira.
Pois é, meu caro Marcos Ferreira, essas histórias, contadas nesta crônica, deixaram-me pensativo. Confesso que fica difícil acreditar que uma cidade, que pleiteou ser a “capital da cultura”, não tenha um ponto de encontro para a intelectualidade local. Um lugar onde seja possível lançar novos – e promissores – escritores, que, só por falta de incentivo e patrocínio, não despontam como os melhores deste país tupiniquim. Concordo plenamente quando você fala dessas disparidades existentes; diria, os paradoxos de uma cidade que enaltece a quem fugiu do combate e, esquece-se do herói de verdade, do que fez algo por sua cidade. Mas, é assim mesmo. Desde o princípio das civilizações que os governantes primam por contar, à sua maneira, a historiografia do seu tempo. Porém, tempo bom, sim, foi o do Alto do Louvor. Este, de fato, inseriu na vida adulta muitos – ou quase todos – da minha época. Bela crônica, Marcos. Como li num dos comentários: em tão pouco espaço você conseguiu dizer quase tudo de Mossoró, inclusive, fazendo-nos refletir sobre vários aspectos abordados. Parabéns!
Prezado escritor Raimundo Antônio,
Bom dia.
Entre outras lacunas e deficiências, atualmente Mossoró não tem esse ponto de encontro da intelectualidade local. O último, pelo que recordo, foi a extinta Livraria Café & Cultura, que está fazendo muita falta, pois aqui não dispomos de outro reduto com aquelas características tão favoráveis, sobretudo, ao universo literário. Estamos, sim, dispersos, sem pouso, numa espécie de diáspora das letras em nosso município. E pensar que um dia, amigo, como você bem recordou, esta província se arvorou ou pretendeu tomar para si o título de Capital Brasileira da Cultura. Pretensão esta que, diante da nossa velha e revelha precariedade cultural, chega a ser uma coisa constrangedora. Em Mossoró, infelizmente, sobra vaidade e falta semancol. No mais, amigo, grato por sua leitura e presença neste espaço de opinião, informação e cultura do Canal BCS (Blog Carlos Santos). Forte abraço e até a próxima.
Marcos Ferreira.
Que belo texto meu amigo, nada surpreendente, visto sua capacidade e inteligência. Me proporcionou várias reflexões e lembranças. Obrigado.
Prezado Marcos Aurélio de Aquino,
Bom dia!
Esse guia turístico percorreu uma pequena distância quanto aos pontos relevantes da história de nossa cidade, porém acredito que consegui tocar alguns bastante sensíveis. Quem sabe em nova oportunidade eu aborde mais alguns. Outra vez, meu amigo, muito obrigado por sua leitura e depoimento. Um grande abraço e até a próxima.
Marcos Ferreira.
Ah, que maravilha de leitura! Vou beber um copo d’ água, ler novamente as bens traçadas linhas, para guardar na lembrança, o passeio turísticos narrado pelo guia Marcos Ferreira, conhecedor da história e do povo de Mossoró. Vamos que vamos, amigo.
Querida Zilene Medeiros,
Bom dia!
Mais uma vez, permita eu me repetir, é uma grande honra contar com a sua leitura e depoimento neste espaço de opinião, informação e cultura. Mossoró tem dessas coisas, minha amiga, e muito mais a serem contadas, tanto que não cabem, logicamente, em uma única página dominical. Esse guia turístico apenas tocou em alguns pontos nevrálgicos da nossa história e cultura, no entanto há muitos outros aspectos merecedores de atenção. Fico por demais feliz, enquanto guia turístico de primeira viagem, em lhe ter proporcionado um passeio agradável ao longo dessa crônica saudosista e também contemporânea. Um grande abraço e uma ótima semana para você.
Marcos Ferreira.