Por Marcos Pinto
A leitura amiúde e pacienciosa dos livros que enfocam o período do domínio holandês no Rio Grande do Norte aponta para uma excepcional probabilidade deste povo batavo ter pisado o solo Apodiense, durante o seu domínio em terras potiguares.
Cronistas dos Sécs. XVI e XVII como GABRIEL SOARES DE SOUZA, AMBRÓSIO FERNANDES BRANDÃO e FREI VICENTE DO SALVADOR assinalaram informações a respeito da Capitania do Rio Grande, todavia, restritas ao litoral e adjacências.
Foi a presença holandesa na Capitania que propiciou o envio de dois emissários ao sertão, com o objetivo de dotar de garantias a aliança flamenga com os grupos indígenas do interior.
O primeiro é uma figura emblemática comentada pela historiografia regional. Referimo-nos a JACOB RABI, judeu alemão que veio para o Brasil em 1637 com MAURÍCIO DE NASSAU e que esteve com os Tapuias Paiacus da nação Tarairiús no sertão por um período de quatro anos, durante os quais chegou a casar com uma índia de nome Domingas, compartilhando dos hábitos nativos e assumindo comportamentos indígenas.
Escreveu uma crônica sobre o viver desses índios, contendo informações sobre seu hábitos cotidianos e as terras que habitavam. Esse relato foi presenteado a Maurício de Nassau e serviu de base para as descrições posteriores de GASPAR BARLÉUS, GEORGE MARCGRAVE, JOHN NIEUHOF e GUILHERME PISO.
RABI atravessou o Rio Grande do Norte com uma força de 160 holandeses e centenas de índios. Os colonos ficaram aterrorizados. Alguns pagaram Rabi para que não os importunasse. Outros se refugiaram em fortificações e muitos foram mortos.
Os colonizadores consideravam RABI “quase bárbaro como estes indômitos e cruéis gentios, que com eles havia muito tempo morado no sertão, e exercitado seus brutos e depravados costumes. Os tapuias paiacus se deram conta pela primeira vez da presença dos holandeses quando uma nau holandesa, que navegava ao largo da costa do Ceará, capturou um português e soltou 25 homens, mulheres e crianças tapuias que ele estava levando para serem vendidos como escravos no RN.
Durante alguns anos os tapuias vinham comerciando com os portugueses, trocando cativos por mercadorias.
Em 1630 os portugueses já exploravam salinas naturais nas imediações de Areia Branca. O renomado historiador VINGT-UN ROSADO escreveu um livro intitulado “OS HOLANDESES NAS SALINAS DO RIO MOSSORÓ”, em co-autoria com sua esposa Professora América Rosado (Vide Google – Arquivo PDF).
Conta que os rios que delimitavam a produção salineira de GEDEON MORRIS DE JONGE e seus continuadores pseudo descobridores das salinas são o IWIPANIM, O MEIRITUPE e o WARAROCURY. Na linguagem travada dos Tarairiús o primeiro é o UPANEMA, com outra barra, entulhada no correr do tempo.
O Upanema passou a receber o nome de APODI, caindo no atlântico em Areia Branca.
Mas a zona das salinas, sabidamente identificada pelo português desde fins do Séc. XVI, é que teve rápida ocupação pela mão dos holandeses, ajudados pela indiada que depois se revoltou e matou os brancos. Essa era a zona das únicas salinas holandesas, terras litorâneas no município de Areia Branca.
As salinas de Macau não foram trabalhadas pelos flamengos. O Holandês ADRIANO WERDONCK, que era morador no Recife desde o ano de 1618, deixou informações sobre as salinas da região de Areia Branca, cuja descrição está inserida num livro de memória intitulado “DESCRIÇÃO DAS CAPITANIAS DE PERNAMBUCO, ITAMARACÁ, PARAÍBA E RIO GRANDE”, apresentado ao Conselho Político do Brasil, em 20 de Maio de 1630.
Esta memória foi publicada na Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano – Ano 1901 – nº 55, traduzida pelo historiador ALFREDO CARVALHO.
Eis um trecho do depoimento WERDONCKIANO sobre as salinas do Rio Apodi (Upanema, daquele tempo):
“Quando ali há falta de sal, o Capitão-Mór do dito Forte do Rio Grande manda uma ou duas barcas de 45 a 50 toneladas a um lugar a 60 milhas mais para o Norte onde há grandes e extensas salinas que a natureza criou por si. Alí podem carregar, segundo muitas vezes ouvi de barqueiros que dalí vinham com carregamento de sal mais de mil navios com sal que é mais forte do que o espanhol e alvo como a neve.”
Vejamos o que nos diz outro credenciado historiador potiguar FRANCISCO FAUSTO DE SOUZA:
“Um fato inédito da invasão holandesa foi a rebelião tapuia de 1644, com a destruição do Forte de Paneminha (atual rio do Carmo) e o trucidamento de GEDEON MORRIS e de todos os seus companheiros. Alguns tapuias, nessa época, de volta do Outeiro da Cruz, no Maranhão, onde tinham estado em combate, empenharam-se em luta com os trabalhadores nas salinas de Mossoró, degolando indistintamente a quantos alí encontravam. “(FONTE: Vide livro “BREVE NOTÍCIA SOBRE A PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE” (autor: FERREIRA NOBRE).
É possível que tenham sido os tapuias paiacus que habitavam as margens da lagoa e do rio PODY os autores deste massacre. É possível que estes holandeses tenham adentrado os sertões do Apodi, acompanhados pelo JACOB RABI, nestas barcaças que tinham a capacidade de carregar até 50 toneladas de sal.
Marcos Pinto é advogado, pesquisador e historiador
SE VOCÊ METE A MÃO NO DINHEIRO DA MERENDA ESCOLAR…
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SE VOCÊ NÃO PAGA O SALÁRIO CORRETO AOS PROFESSORES…
LEIA ESTE POEMA DO IMORTAL PERNAMBUCANO ALDEMAR PAIVA.
SÓ NÃO SEJA HIPÓCRITA AO PONTO DE CHORAR.
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Monólogo do Natal
Aldemar Paiva
Eu não gosto de você, Papai Noel!
Também não gosto desse seu papel
de vender ilusões à burguesia.
Se os garotos humildes da cidade
soubessem do seu ódio à humildade,
jogavam pedra nessa fantasia.
Você talvez nem se recorde mais.
Cresci depressa, me tornei rapaz,
sem esquecer, no entanto, o que passou.
Fiz-lhe um bilhete, pedindo um presente
e a noite inteira eu esperei, contente.
Chegou o sol e você não chegou.
Dias depois, meu pobre pai, cansado,
trouxe um trenzinho feio, empoeirado,
que me entregou com certa excitação.
Fechou os olhos e balbuciou:
“É pra você, Papai Noel mandou”.
E se esquivou, contendo a emoção.
Alegre e inocente nesse caso,
eu pensei que meu bilhete com atraso,
chegara às suas mãos, no fim do mês.
Limpei o trem, dei corda,
ele partiu dando muitas voltas.
Meu pai me sorriu e me abraçou pela última vez.
O resto eu só pude compreender quando cresci
e comecei a ver todas as coisas com realidade.
Meu pai chegou um dia e disse, a seco:
“Onde é que está aquele seu brinquedo?
Eu vou trocar por outro, na cidade”.
Dei-lhe o trenzinho, quase a soluçar
e como quem não quer abandonar
um mimo que nos deu, quem nos quer bem,
disse medroso: “O senhor vai trocar ele?
Eu não quero outro brinquedo, eu quero aquele.
E por favor, não vá levar meu trem”.
Meu pai calou-se e pelo rosto veio descendo um pranto
que, eu ainda creio, tanto e tão santo, só Jesus chorou!
Bateu a porta com muito ruído, mamãe gritou; ele não deu ouvidos.
Saiu correndo e nunca mais voltou.
Você, Papai Noel,
me transformou num homem que a infância arruinou.
Sem pai e sem brinquedos.
Afinal, dos seus presentes, não há um que sobre
para a riqueza do menino pobre
que sonha o ano inteiro com o Natal.
Meu pobre pai doente, mal vestido,
para não me ver assim desiludido,
comprou por qualquer preço uma ilusão,
e num gesto nobre, humano e decisivo,
foi longe pra trazer-me um lenitivo,
roubando o trem do filho do patrão.
Pensei que viajara,
no entanto depois de grande,
minha mãe, em prantos,
contou-me que fôra preso
e como réu, ninguém a absolvê-lo se atrevia.
Foi definhando, até que Deus, um dia,
entrou na cela e o libertou pro céu.
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QUE DEUS ABENÇOE E PROTEJA A TODOS NÓS.
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Este Monólogo pode ser visto numa interpretação espetacular do Lúcio Mauro na Escolinha do Professor Raimundo. Basta colocar Lúcio Mauro interpretanto o poema MONÓLOGO DO NATAL na Escolinha do Professor Raimundo.
Parabéns primo, por nos compartilhar essa rica história.