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domingo - 27/10/2024 - 08:42h

Jão

Por Bruno Ernesto

Exposição no Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte Foto: Bruno Ernesto)

Exposição no Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte Foto: Bruno Ernesto)

Você escolheu o nome de alguém? Digo, nominou? Batizou?

Penso ser – após a notícia de uma gestação – uma tarefa um tanto complexa.

Há uns anos, alguns nomes – um tanto não usuais e que não convém listá-los -, foram adotados à exaustão pelos pais no Brasil e passaram a ser sinônimo da geração Z.

Para muitos, a escolha do nome do nascituro ultimamente tem se firmado num excesso de caminhos místicos e que pouco entendem o motivo pelo qual o nome foi escolhido.

Por sorte, recente alteração legislativa permite que o batizado, a depender do estrago, possa solicitar a alteração diretamente no cartório de registro civil, sem maiores delongas.

Claro que há nomes que são escolhidos em razão de uma significação especial, como uma homenagem; um desejo.

Por exemplo, o meu nome, apesar de ser um nome relativamente comum, foi escolhido pelo meu pai por um motivo inusitado.

Por ser engenheiro agrônomo, um profundo estudioso e pesquisar acerca da gênese dos solos e pedologia, tomou como referência um solo muito comum no sertão nordestino, com predominância em clima semiárido, e cuja coloração escura varia de marrom para o vermelho.

Classificado cientificamente como um solo Bruno Não Cálcico, virei apenas Bruno.

Decerto que há também quem diga que o nome, por si, pode dizer muita coisa sobre o seu titular, notadamente a personalidade. Não sei.

Por exemplo, uma das características dos solos Bruno Não Cálcicos é que são pedregosos. Será? O fato de ser implicante nato não quer dizer muita coisa.

Por tanto e por quanto, recentemente, ao visitar o Centro Cultural do Banco do Brasil, em Belo Horizonte, dentre as exposições ali abertas, me deparei com uma um tanto peculiar. Nem tanto pela forma. Porém, pelo conteúdo.

Era uma ação integrada à exposição denominada Arte Subdesenvolvida, inspirada na obra multimídia denominada “Sonhos de Refrigerador: Aleluia Século 2000”, de autoria de Randolpho Lamonier, e quem dentre inúmeros itens, no pátio central do Centro Cultural do Banco do Brasil, havia grandes cartazes que materializam os sonhos de pessoas ouvidas e que foram abordadas por ele nas ruas do país.

Eram inúmeros cartazes, intrigantes e curiosos, nos quais estavam transcritas as interações entre o artista e a própria obra de arte, que era a pessoa que ele abordava naquele momento; e eram totalmente anônimas.

Muitos dos cartazes eram hilários e irônicos. Outros demonstravam que a pessoa era um tanto amargurada. Maltratada pela vida.

Porém, dois cartazes me chamaram a atenção em um curtíssimo instante. Entre um e outro, distavam apenas alguns outros cartazes pendurados ali no pátio.

No primeiro estava escrito que o sonho de consumo daquela pessoa era comprar um trator para carregar mais amigos e amigas pela cidade. E gostaria de carrega-los na pá.

No segundo, o sonho da outra pessoa era estudar na Lambeth School os Arts, morar em Merylebone, na cidade de Londres, em um apartamento muito bonito, conseguir comprar as coisas, morar perto da mãe, e ter um coelho de estimação.

Os sonhos, apesar de diametralmente opostos, no que se relaciona às pretensões da vida, embora não totalmente intangíveis, a diferença entre aquelas duas pessoas era apenas a idade.

O primeiro, tinha trinta e um anos e era professor. O segundo, tinha doze anos, e deduzo ser estudante.

Ambos, eram Joões.

Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Odemirton Filho diz:

    O meu nome sempre me causou um certo constrangimento. Por não ser comum, é corriqueiro as pessoas não saberem escrever ou pronunciar, sobretudo, quando vou fazer cadastro em estabelecimentos comerciais ou órgãos públicos. Tenho que dizer o meu nome devagar, de forma bem explicada. Mas, mesmo assim, a maioria erra. Todavia, já estou acostumado; até rio de certas situações.
    Um abraço, meu amigo. Tenha uma semana abençoada.

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