Por Ney Lopes
Não se nega a experiência e a capacidade de articulação política do presidente Lula. Mas, o seu governo não deslancha, até agora. Tem enfrentado diversas crises e desafios.
Em princípio, a análise isenta aponta que a causa principal são as oscilações do presidente ao dar ouvidos a sua velha-guarda, que pensa ter vencido as eleições de 2022 e somente olha para o próprio umbigo.
Era notório que Lula no governo não teria o conforto de uma lua de mel pós-eleições, aspecto agravado pela pequena margem da vitória. A polarização não recuou, até por ser estimulada pelo próprio Lula, que não esquece Bolsonaro.
Persiste o grau de desconfiança, em relação ao Presidente no Congresso Nacional, dirigentes de vários setores da economia, especialmente finanças, agroindústria e incrivelmente de sua ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Sabe-se a dificuldade da definição de um governo, coordenar partidos, compor maiorias no Parlamento, atender a demandas sociais e dos agentes de mercado.
O grande problema é que na área política e econômica o governo mostra muita desarticulação.
Permanece no ar a indagação de qual será o plano de Lula, acostumado a enfrentar desafios em sua trajetória política, tais como, escândalos de corrupção, batalhas legais e as controvérsias em relação à sua candidatura presidencial?
Um dos vetores fundamentais da governabilidade é o deputado Artur Lira, que demonstra habilidade, mas não foge aos compromissos assumidos com a Casa que preside. Em que pese a sua experiência parlamentar, Lula errou ao tentar juntar azeite com água, querendo o apoio de Lira e de Renan Calheiros, inclusive dando um ministério para o filho do senador alagoano. As trocas de acusações entre ambos não cessam nas redes sociais.
Outro obstáculo consentido por Lula é privilegiar o PT na nomeação de ministérios e postos-chaves. A realidade mostra que o presidente negociou em torno de si 14 partidos que formam painel heterogêneo, com siglas desde a esquerda até a direita, que não se dobra com facilidade ao Planalto.
A experiência política mostra que quando a executiva monta coalizões com partidos diversos, sem compartilhar poderes e recursos de forma proporcional ao peso político de cada um, está criando condições para crises permanentes. É o que vem acontecendo.
Hoje, o Planalto tem asseguradas cerca de 130 de 513 cadeiras no plenário da Câmara, embora a base com partidos que integram o governo seja maior.
Outro fator a ser considerado será a posição futura dos partidos de centro direita. O projeto desses partidos é ter um candidato para confrontar Lula em 2026, ou vai querer negociar agora ministério e apoio. Geralmente, a exemplo do União Brasil, esse segmento político faz alianças pela metade, ou seja. não leva todos os seus integrantes. Gera sempre dores de cabeça para o governo.
O preocupante e deplorável é que ao final, o Congresso sempre se transforma num “mercado persa”, com a negociação de libe ração de emendas.
Só em 2023 o previsto é o pagamento de R$ 36,5 bilhões em emendas parlamentares.
Não se nega a legitimidade da destinação de recursos para os municípios. Todavia, a lei precisa mudar, para condicionar a liberação das emendas a destinação de projetos técnicos pré-elaborados, para evitar os escândalos que ocorrem atualmente.
Quanto a indicação de cargos considero normal, desde que siga critérios éticos. A forma seria a bancada partidária indicar nomes, com o respectivo curriculum. O governo escolheria três dos nomes sugeridos e o partido decidiria quem indicar.
Diante de tantas dificuldades para o governo deslanchar, constata-se que a grande restrição de Lula se chama Partido dos Trabalhadores, a começar pela intransigência agressiva da presidente do PT, Gleisi Hoffman, que assume permanentes posições de oposicionista, a tudo que é proposto.
Aí o presidente fica realmente de mãos atadas e não foi possível ainda deslanchar.
Ney Lopes é advogado, jornalista e ex-deputado federal
Parei de ler na primeira frase.
Texto Excelente, preciso e condizente com a realidade. Parabéns!